Conheça o Enterprise, um cruzeiro diferente entre Paraty e Ilha Grande

O litoral de Paraty e Angra dos Reis é um dos mais espetaculares do litoral brasileiro. A beleza está no mar verde e cristalino que banha praias selvagens espalhadas tanto no continente quanto nas inúmeras ilhas, grandes e pequenas, da região. Passear de barco é a melhor maneira de explorar esse pedaço de costa. As opções mais conhecidas são as escunas que levam turistas às dezenas em tours rápidos e barulhentos; ou então as lanchas privativas alugadas, que custam bem mais caro. Existe, porém, uma terceira alternativa: o catamarã Enterprise, da agência Atlantis Divers, que possui cabines para pernoites e faz minicruzeiros pelas ilhas de Paraty e Angra dos Reis em roteiros de quatro dias com direito a belas praias, mergulhos e todas as refeições inclusas no valor do pacote. É uma maneira inusitada, prática e muito divertida de viajar pelos recantos mais inacessíveis do deslumbrante litoral sul fluminense.


Não tenho dificuldade em encontrar o Enterprise ancorado na Marina do Engenho, a cerca de 3 km do centro de Paraty. Com 18 metros de comprimento, o catamarã é o maiorzão do pedaço. O barco de três pavimentos conta com oito cabines para pernoites (até 24 pessoas) no primeiro piso. A cozinha e o restaurante ficam no segundo andar e um deque panorâmico ocupa todo o terceiro andar. O embarque é realizado à noite, a partir das 20h, e o primeiro pernoite da viagem é realizado com o barco ainda na marina.


Subo na embarcação e, com ajuda de um dos tripulantes, sigo para a cabine para deixar a bagagem. A acomodação do Enterprise não oferece luxo. O conforto é espartano, com uma cama de casal e uma de solteiro mais elevada (há opção apenas com camas de solteiro). O quarto não tem móveis nem TV, apenas uma estante para acomodar os objetos pessoais e um aparelho de ar-condicionado. A janela é grande, mas o vidro não abre. O banheiro privativo, por sua vez, é apertadinho e o banho é feito com uma duchinha (de boa pressão). Apesar do espaço econômico, a cama é bem confortável para uma boa noite de sono.


Na manhã seguinte, acordo às 6h com o barulho do motor do Enterprise ligado. Poucos minutos depois, o catamarã já está navegando. Olho pela janela e vejo as águas mansas de Paraty e as montanhas da Serra do Mar iluminadas pelos raios de sol da manhã. Após três horas de navegação, o Enterprise ancora em frente à Praia do Dentista, na Ilha da Gipoia. Subo no deque para curtir a vista e… uau! A Praia do Dentista é uma enseada de areias brancas feito talco, mar verde-esmeralda e uma linda mata atlântica. Como a área da praia está em uma propriedade particular, não há bares ou qualquer construção na areia, exceto, claro, a casa do tal dentista, que fica escondida pela mata.

Praia do Dentista, na Ilha da Gipóia, em Angra dos Reis – Foto: Tales Azzi


O desembarque é feito em botes infláveis motorizados. Os tripulantes levam cadeiras e guarda-sóis para a praia. Então é só se acomodar. Quem quer uma caixa térmica com cervejas e bebidas basta pedir. Já a caipirinha e o suco natural vêm de bote direto da cozinha do Enterprise. Máscaras de mergulho e snorkel também são emprestados.


Pego uma delas e vou mergulhar no canto da praia, próximo às pedras Fiquei cara a cara com um cardume de peixes coloridos. Passo um tempo ali até resolver caminhar na trilha que leva à vizinha Praia da Gruta, ao final de um percurso de dez minutos. Enquanto isso, os outros passageiros tomam sol, jogam frescobol e passeiam de caiaque. Às 13h, um dos tripulantes avisa que está na hora de voltar para o barco pois o almoço já está quase pronto. Menu do dia: espetinho de camarão grelhado e moqueca de badejo. Para sobremesa, tem sorvete com salada de frutas.


A comida servida a bordo não é sofisticada, mas é deliciosa e com toque caseiro. As bebidas alcoólicas não estão incluídas e são cobradas à parte. O café da manhã agrada da mesma forma. Servido sempre às 8h e à la carte, não faz feio para nenhuma refeição matinal de pousada ou hotel, com direito a suco natural, iogurte, pães variados, frios, pães de queijo, frutas frescas e ovos. Depois do almoço, subo para o deque, deito na espreguiçadeira e passo o resto da tarde observando, lá do alto, o mar cintilante e o vaivém dos veleiros, enquanto o catamarã desliza calmamente até a Enseada do Sítio Forte, na costa da Ilha Grande, local do segundo pernoite da viagem.


A atividade programada para a manhã seguinte é um mergulho na Lagoa Azul, uma das principais atrações da Ilha Grande, um pequeno canal entre duas ilhotas onde o mar fica raso e transparente como uma piscina. O catamarã encosta no local por volta das 8h, antes da chegada das escunas apinhadas de turistas que saem da Vila do Abraão, do centrinho da Ilha Grande. A ideia é curtir a Lagoa Azul com total exclusividade.

Lagoa Azul, na Ilha Grande – Fotos: Tales Azzi


Duas horas depois, o Enterprise segue rumo a um importante ponto de mergulho da costa da Ilha Grande: o naufrágio do Pinguino, um navio cargueiro panamenho que pegou fogo e foi a pique em 1967. Os destroços da embarcação estão a cerca de 9 metros de profundidade e servem de abrigo para muitos peixes e espécies marinhas. Visto a roupa de neoprene, coloco o equipamento e caio na água junto da instrutora Tatiana Melo e mais dois passageiros-mergulhadores para um passeio subaquático de meia hora. Quem não é mergulhador credenciado também pode mergulhar no chamado “batismo”, realizado com o acompanhamento do instrutor, que vai segurando a pessoa pelo braço.


Ao redor da Ilha Grande, há diversos outros pontos formidáveis para mergulho autônomo, entre eles a Ilha do Jorge Grego e o Parcel dos Coronéis. Os roteiros do Enterprise geralmente incluem diversos desses pontos caso seja do interesse dos passageiros, já que existe essa flexibilidade nos roteiros. A embarcação possui todos os equipamentos necessários para a prática da atividade e conta com instrutor experiente a bordo.

Enterprise faz paradas em pontos de mergulho da Ilha Grande, tem instrutor à bordo e oferece todos os equipamentos para a prática da atividade – Foto: Tales Azzi


No final da manhã, a âncora é recolhida e o Enterprise parte novamente até encostar ao lado da Praia Vermelha. Um grupo desembarca para relaxar na areia. Prefiro vestir a máscara de mergulho e vou curtir um snorkeling rente ao costão, que é cheio de corais, esponjas e estrelas do mar. Volto para o barco quase uma hora depois, tomo um banho, peço uma caipiroska na cozinha e subo ao deque para saborear o drinque curtindo a paisagem.


À tarde, o vento aperta, as nuvens encobrem o céu, a paisagem perde o colorido e o tempo vira. O capitão informa que o retorno a Paraty precisa ser adiado por conta do mar agitado e o catamarã retorna para a tranquila da Enseada do Sítio Forte. Mesmo nessas situações não é preciso se preocupar em ficar mareado, pois, na maior parte do tempo, o barco navega em águas abrigadas das baías. O balanço é suave e os pontos de ancoragem acontecem sempre em pequenas enseadas de águas mansas.


No domingo, antes do café da manhã, o Enterprise parte de volta ao continente até entrar nas águas do Saco do Mamanguá, um majestoso braço de mar cercado de montanhas e de mata atlântica da Reserva Ecológica da Joatinga, no litoral de Paraty.


Ali, o pessoal desembarca em caiaques e saem para um passeio em meio ao manguezal da reserva. São cerca de uma hora em meio à mata alagada até o início de uma trilha de 20 minutos que leva à Cachoeira do Rio Grande, uma das mais isoladas da região. A cachoeira com cerca de cinco metros de altura forma um poço para nadar às braçadas.

Passeio de caiaque pelo manguezal do Saco do Mamanguá – Foto: Tales Azzi


Na volta do passeio, o almoço é servido e o Enterprise vai lentamente tomando o rumo da cidade de Paraty. No caminho, um grupo de golfinhos aparece próximo à proa e todos (incluindo os tripulantes) sobem ao deque para vê-los. É o gran finale da viagem, pois, minutos depois, o catamarã encosta na Marina do Engenho, no mesmo lugar de onde zarpou três dias antes. São quatro da tarde de domingo. Os tripulantes se reunem perfilados para um encontro de despedida com os passageiros. Agradeço a todos, desço para a cabine, arrumo as malas e desembarco já cheio de saudade desse inusitado cruzeiro, curto e inesquecível, pela costa de Paraty e Ilha Grande.

Quanto custa?


Os cruzeiros do Enterprise em Paraty e Ilha Grande acontecem de quinta a domingo e custam a partir de R$ 2.900 por pessoa em cabine dupla. O valor inclui três pernoites, todas as refeições e mergulhos. A embarcação também pode ser alugada para grupos de amigos e empresas. Mais informações em www.atlantisdivers.com.br

Por Tales Azzi, texto e fotos