Nova York by night

Autor: Josiane Romera –

 

Nova York é a cidade que nunca dorme, já cantaram Liza Minnelli e Frank Sinatra no quase hino New York, New York. E eu, para produzir com propriedade esta reportagem de Viaje Mais, fiz como a elétrica metrópole: emendei noite e dia sem pregar os olhos. Durante três noites – não sequenciais, evidentemente, porque os afazeres cotidianos continuavam à espera no dia seguinte –, circulei pelas danceterias e casas de shows mais conhecidas da Big Apple para sentir a vibe de cada lugar.

Os DJs escolhidos para agitar a festa garantem (ou não) o sucesso da balada.

Como era de se es­perar, já que a cidade é fa­mosa por isso, en­contrei porteiros durões que ado­ram ignorar os fre­quenta­dores. Com paciência, autoestima nas al­turas e muito “carão”, insisti e não fui barrada em nenhu­m local.

Quanto ao dress code para cur­tir a night, vi de tudo nos 13 ende­reços visitados. Então, usei de tudo também: vestidinho, calça semisso­cial e um simples jeans – e todos os trajes foram bem aceitos. Por duas vezes, entrei até de Ha­vaia­nas, o que me fez ter certeza de que a marca verde-amarela é mesmo fashion. Minha bolsa foi revistada em todos os lugares, o que também é normal nas casas noturnas locais.

Quando me registrei no site do lugar em que pretendia ir ou com­prei ingresso antecipado, tudo ficou mais fácil na porta. Em mui­tos clubs, o melhor é tentar entrar na lista de convidados, disponível no site da casa, ou procurar algum pro­moter na internet, como na área de comentários do Facebook, para ser incluído na lista. Assim você evita as filas e pode até acabar na ala dos convidados VIP.

Times Square, endereço de casas de shows.

Resolvido o imbróglio da en­tra­da, do lado de dentro as pes­soas estão sempre para lá e para cá, vez por outra esbarrando em você e até derrubando um teco de bebida. O que é um desperdí­cio, já que os drinques são caros em todo canto. Outros pontos em comum entre as casas visitadas são o ótimo siste­ma de som e os excelentes DJs e músi­cos tocando ao vivo. Admito que nem todos os estilos musicais me agrada­vam, mas, sem dúvida, to­do o pes­soal dá show, literalmente.

O mais difícil foi encarar bala­das onde a faixa etária era muito dife­rente da minha. Mas, quando en­con­trei minha tribo – e os night­clubs que se encaixavam no meu estilo –, aproveitei para valer, como há muito não fazia, dancei até falar chega e até me animei a esquecer o relógio e curtir a diversão até a noite praticamente virar dia.

  • A Greenhouse, com paredes feitas de bambu e decoração no teto com 5 mil cristais de LED.

    Greenhouse: 150 Varick Street, perto da Spring Street, no Soho

Uma das mais badaladas da cidade, esta casa noturna é um exemplo de preocu­pação com o meio ambiente. As paredes são feitas de bambu; 5 mil cristais de LED, que consomem menos energia, pendem do teto e compõem a iluminação; e os sofás, mesas e balcões dos bares são feitos de ma­terial reciclado. Num salão no porão, onde só toca hip-hop, as paredes e o teto são total­mente forrados por folhas verdes, dando a impressão de se estar numa floresta. A balada oferece dois ambientes: no piso térreo, logo na entrada, os DJs revezam o tipo de música, incluindo house, hip-hop e techno, e há aquele subsolo que é um território exclusivo do hip-hop.

É preciso ter paciência, e sorte, na fila de entrada. Se você é um ilustre desconhecido, não está na lista de convidados, não tem mesa reservada e tampouco conhece algum pro­moter da casa, ficará nas mãos dos doormans – sim, os porteiros têm o direito de barrar quem quiserem. Conselho para as mulheres: vistam-se à la piriguete e usem salto altíssimo, minisssaia, decotão, batom vibrante e, se não for loira, pense até em usar uma peruca: assim a entrada está garantida. Para os homens, o negócio é ir acompanhado de uma ou várias piriguetes. Apesar da dificuldade na porta, vale a pena. Não é à toa que Rihanna e Brad Pitt já comemoraram seus aniversários ali.

 

  • Pacha: 618 W 46th Street, Hell’s Kitchen

Filial da famosa casa noturna de Ibiza, na Espanha, a Pacha nova-iorquina tem quatro andares, cada um com uma caracte­rística diferente. A sala Pacha é a primeira, logo na entrada, com espaço de sobra para dançar. As outras são mais para clientes VIP com mesas reservadas e celebridades. Na sala Shower Lounge, garotas de biquíni dan­çam em plataformas elevadas para o delírio dos voyeur. É bastante frequentada por jovens norte-americanos e estrangeiros, na maioria, turistas europeus. O dress code da Pacha é na linha “qualquer coisa pode”, com exceção de boné e chapéu. Por isso, no verão, quase todo mun­do usa looks desencanados, incluindo short. Eu até entrei de Ha­vaianas – prova de que os chinelos brasileiros estão com tudo por lá.

Na Blue Note você poderá jantar com conforto e bater papo com mais tranquilidade com os amigos.

  • Blue Note: 131 W 3rd Street, em West Village

Esta clássica casa de jazz é pequena, aconchegante e recebe ótimos artistas num ambiente que reúne gente de todo tipo, de nova-iorquinos que apreciam a boa música a turistas em busca de uma noite diferente na cidade. Você tem a opção de ficar no bar ou adquirir uma mesa, que, claro, sai mais caro, mas poderá jantar com conforto e bater papo com mais tranquilidade com os amigos. Quem está de pé ou no bar até pode dançar, mas não há uma área especial para isso, nem muito espaço. Seu Jorge é um dos artistas frequentes na casa, que também recebe músicos do naipe de Paquito D’Rivera e Cassandra Wilson.

  • Cielo: 18 Little West 12th Street, em Meatpacking

Possivelmente é a boate que mais tem globos espelhados no teto, e um deles, enorme, fica bem no centro da pista de dan­ça. O lugar é pequeno e inspirado nas baladas dos anos de 1970, com sofás de couro e mesinhas em volta da pista. Propositalmente, não tem área VIP, e a única sala extra, uma espécie de pátio a céu aberto, é dedicada aos fumantes. Para quem gosta de house e eletrônico, o lugar é o paraíso porque atrai ótimos DJs do gênero. Por conta do casa­mento perfeito entre música de qualidade e galera em êxtase nas festas, a casa já ganhou vários prêmios, entre eles a classi­ficação em 220 lugar no DJ Mag Top 100 Clubs of the World, em 2010, ranking feito pela revista DJ Mag, publicação que é refe­rência no assunto. A Cielo não pede um dress code especí­fico, mas use o bom senso e se arrume um pouco melhor porque os frequentadores da região de Meatpacking são medidos pela roupa que vestem.

 

  • Lavo: 39 East 58th Street, entre as avenidas Park e Madison, Upper East Side

Dos criadores do Tao, bistrô oriental que, além de Nova York, está presente em Las Vegas e Miami, o Lavo é um restaurante italiano clássico, que tem como plus um nightclub e um lounge no porão. O espaço é pequeno, mas aconchegante, e ali tocam famosos DJs do mundo todo, inclusive bra­sileiros. O som que mais rola é house e techno e, por ficar no Upper East Side, atrai pessoas acima dos 25 anos e com um quê de sexy. Mui­tos aproveitam para jantar no restaurante e, mais tarde, descem uns degraus até o sub­solo para queimar as ca­lorias na pista de dança. A casa não tem dress code predefinido, mas será bem mais fácil entrar se estiver bem vestido. As mulheres, claro, quanto mais sensualizarem, melhor.

 

  • Tenjune: 26 Little West 12th Street, Meatpacking

Considerado um dos melhores nightclubs de Nova York, o Tenjune não poderia ficar em outro lugar: Meatpacking, bairro de pessoas, lojas e baladas descoladas. A localização já faz qualquer um que conhece a noite da cidade ter uma ideia do que vai en­contrar na casa: por­teiros durões, gente bem vestida e modelos em looks matadores. A boate fica no porão do badalado restau­rante STK – Steakhouse e recebe celebridades e eventos especiais, como festas VIPs na Semana de Moda. O salão tem formato de ferradura, com a pista de dança e a mesa do DJ no centro. A música varia de hip-hop a techno, mais os hits pop do momento, um diferencial para quem gos­ta de varieda­de. Mas prepare-se para dançar espremido, já que o lugar é pequeno.

 

  • Santos Party House: 96 Lafayete Street, perto da Walker Street, em Lower Manhattan

Todo mundo entra em transe com o som, as luzes e o gelo seco que tomam conta da pista. De todas as discos, esta é a que tinha pessoas mais jovens e onde minha bolsa foi meticulosamente revistada – até a bolsinha de maquiagem foi aberta. E o que eles procu­ravam? Drogas e objetos cortantes. Pelo me­nos você terá a certeza de que vai estar seguro ali dentro. O estilo de música que domina os set lists é o house, e a Santos faz parte do circuito de casas em que os DJs mais cele­brados da Big Apple tocam.

Apresentação do saxofonista Ravi Coltrane no Le Poisson Rouge.

  • Le Poisson Rouge: 158 Bleecker Street, Greenwich Village

Uma mistura de casa de shows com dan­cing club, o Le Poisson Rouge define-se como um espaço que mistura clima de ca­baré com arte multimídia, apresentando shows de artistas que tocam de música clás­sica a underground, o que atrai pessoas de diferentes tribos e idades. O calendário de eventos é ex­tenso, muitas vezes com dois shows na mesma noite. Nas sextas-feiras, por exemplo, rola a Freedom Party, em que DJs tocam hip-hop, soul, reggae, house e outros ritmos.

Antes de ser rebatizado Le Poisson Rouge, ali funcionava o Village Gate, aberto em 1958 e onde tocaram lendas do jazz, como John Coltra­ne e Billie Holiday. Hojé, é uma programação eclética que dá o tom do lugar: em julho de 2013, a casa teve show do violinista clássico David Garret, que faz pop e rock com esse instrumento, e da cantora britânica Beth Orton, que levou ao palco uma mistura de música folclórica com som eletrônico. Em setembro, será a vez do conjunto pop australiano Van She dar show. É um lugar com diversão para todos os gostos.

 

  • Lounge e baladas do hotel the Standard: 848 Washington Street com a 13th Street, em Meatpacking

O Hotel The Standard – vizinho do Highline, o parque da moda na Big Apple –, tem vários ambientes para ir no fim da tarde ou para se jogar na noite. Um é o clássico e chique loun­ge Top of the Standard, que praticamente vira uma disco depois das 21h. Até lá, você curte jazz ao vivo ou outro show. Alguns degraus acima rola uma festa mais fervida, no rooftop bar (bar que fica no topo de uma construção) do prédio. São dois ambientes: o Le Bain, que tem até uma jacuzzi com hidro, onde os mais soltinhos se atiram de madrugada, e o Boom Boom Room, boate que fica atrás de uma cortina de veludo. Além das noites anima­das, com gente do mundo fashion, o lugar tem uma ótima vista do Rio Hudson e dos edifícios de Midtown. Só por esse fantástico panorama da Big Apple que descortina, a casa já merece a visita. Os drinques são caros: mínimo de US$ 20 por um coquetel. O Le Bain tem fama de ser um dos lugares mais difíceis de entrar sem convite e a sua “permissão” vai depender, em grande parte, da roupa que usar. Se ajudar, saiba que marcas como Prada e Stilleto são o must no lugar.

No bar, há dois lounges em que os DJs tocam tudo o que se possa imaginar.

  • Bar 13: 35 East 13th Street, perto da Union Square

Basta o tempo melhorar para os nova-iorquinos relaxarem e curtirem o sol e o calor no terraço dos bares. Melhor ainda quando, no bar, há dois lounges, em que os DJs tocam tudo o que se possa imaginar, fazendo você suar aquelas cervejas que aca­bou de tomar. Lugar frequentado por hipsters (moderninhos) e uma gente jovem com cara de artista em ascensão – tipo os personagens do seriado Girls, exibido pela HBO –, ali ninguém liga para a roupa que você usa: quanto mais autêntico, melhor. A casa não tem pre­tensão de ser chique; ao contrário, é simples e aconchegante. Você pode começar o es­quenta da noite tomando uma cerveja no ter­raço e, depois, se arriscar nas duas pistas de dança dos lounges, separados em dois andares – o rooftop fica no terceiro. Mesmo que dançar ou bebericar algo não estejam nos seus planos, ainda assim vale considerar fazer um pit stop no bar, realmente eclético: tem karaokê, shows de heavy metal, noites com poesia, festas GLS e por aí vai. Para não topar com um programa que não tem nada a ver com você, consulte previa­mente o site do empreendimento.

  • B. B. King Blues Club: 237 W 42nd Street, Times Square

Localizado no coração da Big Apple, na Ti­mes Square, a casa, cujo nome celebra um dos maiores blues man da história, B. B. King, traz di­fe­rentes atrações todas as noites. Há de shows de blues a brunchs, que, aos sábados, contam com a apresentação do Har­lem Gospel Choir – aos domingos, a refeição é ao som de uma versão tamanho família dos Beatles, for­mada por artistas que participaram do mu­sical Beatlemania. O restaurante Lucille’s Grill fica responsável pela comida e serve pratos típicos dos Estados Unidos, como buffalo wings (asas de frango empanadas e apimen­tadas).

 

  • Swing 46: 349 West 46th Street, em Hell’s Kitchen

Um programa diferente para quem não quer cair nas baladas regadas a house e muito menos ficar nas filas do lado de fora. Claro que na casa rola swing – o ritmo swing, e não outra coisa que você pode estar pensando – e, se você não está familiarizado com a dança, o clube tem professores que ensinam os passos básicos antes que você se arrisque na pista, sempre com alguma banda tocando ao vivo. A clientela é bem variada: reúne convidados de festas de aniversário de pessoas de todas as idades, casais comemorando datas especiais ou simplesmente se divertindo, idosos que dan­çam swing há anos… E grupos de turistas também. Fica no buxixo de Hell’s Kitchen, nu­ma área conhecida como Restaurant Row (fileira de restaurantes), já que há um atrás do outro.

 

Essa reportagem foi retirada da revista Viaje Mais, seção Estados Unidos, edição 147.