O que fazer em Londres bairro a bairro

Não existe uma só Londres. Há muitas delas. Cada pedaço da cidade guarda uma Londres diferente, com personalidade distinta. Em Westminster, por exemplo, você caminha e topa com um ícone londrino em cada esquina. Na sofisticada Kensington, vai encontrar museus fabulosos lado a lado. Em West End, na região central, brilham os letreiros luminosos dos teatros e da mais famosa avenida londrina, a Piccadilly Circus. Em outros cantos da cidade, como em Shoreditch e Camden Town, você vai caminhar por ruas de muros grafitados que guardam pubs lendários, mercados de rua e uma cena noturna agitada com o bom e velho rock inglês. Em cada um desses bairros há uma Londres para ser descoberta, e degustada, com toda calma.

Westminster

Ponte de Westminster

Aqui estão os mais emblemáticos cartões-postais de Londres, e eles surgem quase enfileirados: o Palácio de Buckingham, a Abadia de Westminster, o relógio Big Ben, o Parlamento Britânico e a roda-gigante London Eye. Não há lugar mais perfeito para uma caminhada do que Westminster, batendo de frente com um ícone da cidade a cada passo.

Se a bandeira do Reino Unido estiver tremulando no topo do Palácio de Buckingham, quer dizer que a rainha está em casa. Com Elizabeth II por lá ou não, todo os dias, às 11h, acontece a troca da guarda responsável pela segurança do palácio. A cerimônia é aguardada por uma multidão, sempre ávida por assistir aos soldados marcharem acompanhados de uma banda militar.

Já a Abadia de Westminster, Patrimônio Mundial da Unesco, tem mais de mil anos de história e está entre os mais importantes marcos arquitetônicos da Inglaterra. A igreja, em estilo gótico, costuma estampar as manchetes mundiais em fatos que envolvem a família real britânica. Afinal, esse é o cenário das coroações dos reis e dos casamentos reais. Foi ali que ocorreu o funeral da princesa Diana e o casamento do príncipe William com Kate Middleton. Os horários para visitar a igreja variam conforme o dia da semana (confira no site westminster-abbey.org).

O Palácio de Westminster, sede do Parlamento Britânico, por sua vez, abre para visitação turística aos sábados. Durante as férias dos parlamentares, no verão, há tours guiados pelo interior do prédio histórico, que foi quase todo reconstruído após um incêndio em 1834. O roteiro, feito com audioguia (há opção em português), passa pelas duas salas mais importantes do Parlamento: a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns, vistas com frequência nos noticiários de televisão em acalorados debates dos congressistas. Integrado à arquitetura do Parlamento está o famosíssimo Big Ben, que passa por obras de restauro no momento, o que significa que você verá a torre encoberta parcialmente por tapumes. A previsão é de que a reforma se estenda até 2021.

Para identificar todos esses marcos de Londres em uma única vez, é só embarcar na roda-gigante mais famosa do mundo: a London Eye, que, no lugar de cadeiras que balançam, tem cápsulas com capacidade para 25 pessoas em cada uma. O ponto mais alto da roda está a 135 metros
do chão, e o giro é suave, leva 30 minutos para uma volta completa, tempo suficiente para admirar a beleza do Rio Tâmisa e dos ícones de Westminster. Para não perder tempo na fila, compre o ingresso Fast Track, que custa 37 libras esterlinas (cerca de R$ 197) pelo site www.londoneye.com.

West End

O Queen Theatre, na região dos teatros de West End

Os letreiros iluminados e coloridos da Piccadilly Circus são um grande símbolo de Londres e o coração do vibrante West End. A região central de Londres é a mais movimentada da cidade, graças a seus muitos bares, restaurantes e teatros, muitos deles com vários espetáculos da Broadway nova-iorquina em cartaz, como Mary Poppins, que acaba de estrear. É o lugar ideal para comer e beber bem (ou até para esticar a noite em uma boa balada) em Londres.

A Leicester Square dá uma boa mostra da personalidade festiva de West End. A praça faz parte de um pedaço que ficou conhecido como Soho londrino. A região é um tradicional refúgio de artistas e boêmios. Suas ruas têm uma incrível quantidade de danceterias e pubs que lotam de pessoas das mais diversas tribos. O mais tradicional nas proximidades é o American Bar. Aberto há 130 anos, é considerado o mais antigo bar de drinques em funcionamento no Reino Unido. E hoje é o quinto melhor do mundo segundo a recém-anunciada edição 2019 do ranking World’s 50 Best Bars, organizado pela revista britânica Restaurant. O bar fica no térreo do Savoy Hotel, um pioneiro da hotelaria de luxo na cidade, aberto no século 19 e frequentado por políticos e celebridades.

Além de espetáculos e da boa vida boêmia, o West End é conhecido por abrigar alguns dos museus e galerias mais importantes de Londres. Na Trafalgar Square está a National Gallery, que expõe algumas das pinturas mais importantes da história. É um daqueles lugares que tenho vontade de visitar sempre que vou a Londres, nem que seja apenas para ver, mais uma vez, os “Girassóis” de Van Gogh, ou “Vênus e Marte”, de Botticelli. Já a Royal Academy of Arts terá uma mostra do pintor britânico Lucian Freud (1922-2011) como grande atração da temporada de outono e inverno. A grande estrela do pedaço, porém, é o British Museum, um dos principais museus do mundo, quase tão popular quanto o Louvre, em Paris; ou o Metropolitan, em Nova York. Dê pelo menos uma olhada na Pedra de Roseta, perto do imenso hall central com cúpula em vidro desenhada pelo escritório Foster+Partners, do arquiteto britânico Norman Foster, inaugurada no ano 2000.

Southbank

A Millennium Bridge; ao fundo, a Catedral de St Paul

Poucas coisas são tão prazerosas em Londres quanto caminhar pela margem sul do Tâmisa. A partir da London Eye, basta ganhar o calçadão na margem do rio para curtir um agradável passeio, e tanto faz se for num alegre dia de sol de verão ou na companhia da clássica névoa londrina. Essa região, conhecida como Southbank (que mais adiante vai chamar Southwark) é bem agitadinha, cheia de espaços culturais e cafés.

Em certo ponto, sua atenção vai se voltar a uma bela ponte metálica para pedestres, a Millennium Bridge, que conecta, de um lado, o Tate Modern, uma das maiores galerias de arte contemporânea do mundo (o 6o. andar tem um elegante café com vista para o centro de Londres), à Catedral de St. Paul, de 1675, na outra margem do Tâmisa. O grande cartão-postal dessa região, porém, é a Tower Bridge. Construída em 1894, a ponte tem estilo vitoriano e 40 metros de altura. Só para ver o abre e fecha da ponte para passar as embarcações já vale o passeio. Também é possível subir as torres para ver uma exposição que conta sobre a construção e a arquitetura da ponte. Na passarela superior, há um chão de vidro para ver os carros passando lá embaixo. À noite, a Tower Bridge fica ainda mais linda por causa da sua iluminação especial.

Quem observa a paisagem urbana aos pés da Tower Bridge vai perceber que a cidade nesse ponto tem uma cara bem mais moderna do que no centro turístico de Westminster, com muitos edifícios envidraçados de ares futurísticos. Um deles, o City Hall, onde funciona atualmente a prefeitura de Londres, foi apelidado de “cebola” pelos londrinos. O prédio foi construído pelo mesmo arquiteto que fez a célebre cúpula do Reichtag de Berlim, na Alemanha, e usa o mesmo conceito, com a rampa em espiral e a estrutura de vidro simbolizando transparência política.

Quando abrir o apetite, siga ao Borough Market, ao lado da catedral gótica de Southwark. Queijos, presuntos, peixes defumados… São dezenas de barracas de comida, além de vários restaurantes ao redor. O programa pode ser feito em dia de chuva, já que é coberto o imenso pavilhão de meados do século 19 que abriga o mercado. Todos os estandes estão abertos de quarta-feira a sábado.

Kensington

Esqueleto de baleia no saguão de entrada do Museu de História Natural

A região de Kensington é uma das mais prazerosas para caminhar em Londres. Tem ruas e avenidas elegantes e bem mais tranquilas do que West End, repletas de embaixadas, lojas de grife e hotéis de luxo, como o The Kensington (veja box). A grande atração desse pedaço é uma dupla peso-pesado de museus: o l e o Victoria and Albert, ambos com entrada gratuita para o acervo permanente. Ficam lado a lado na Cromwell Rd., em prédios históricos monumentais e belíssimos.

O Museu de História Natural é ótimo programa para as crianças, e os adultos se divertem tanto quanto os pequenos.

O salão de entrada impressiona de cara, com um imenso esqueleto de baleia-azul pendurado no teto. O museu tem uma sensacional amostra de fósseis e esqueletos de animais pré-históricos, entre eles um bicho- -preguiça de cinco metros de altura.

A ala dedicada aos vulcões e terremotos tem uma sala interativa que reproduz o cenário de um supermercado. O chão e as paredes balançam para simular o efeito de um tremor de terra.

O pedaço mais visitado é dedicado aos dinossauros, onde faz sucesso um robô hiper realista, em tamanho real, de um tiranossauro Rex.

Já o lindo Victoria & Albert é o maior museu de artes decorativas e design do mundo. Conta com uma coleção de 2,3 milhões de peças que cobrem cerca de 5 mil anos da criatividade humana. Há setores dedicados a arte sacra, chinesa e asiática. O destaque é a sala de esculturas greco-romanas onde desponta uma réplica perfeita do David de Michelangelo.

O museu ainda abriga algumas das exposições temporárias mais disputadas da cidade, como a Christian Dior: designer of dreams. Os ingressos precisam ser comprados com antecedência, pelo site. Na rotunda de entrada fica um gigantesco candelabro em vidro de Dale Chihuly. Se o tempo for curto, entre para ver a escultura e o dia já fica mais bonito.

Outro ponto de interesse dessa região é a loja de departamentos Harrods, o maior templo de compras de Londres, que ocupa um prédio elegante na Brompton Road. Você será recepcionado por homens de cartola e fraque. Dá para passar um dia inteiro ali com a vantagem de que, em qualquer época do ano, é possível encontrar uma seção reservada a promoções.

Notting Hill

As casas coloridas típicas do bairro do Notting Hill

Ao norte de Kensington fica o bairro de Notting Hill, que ficou famoso há 20 anos com o filme Um lugar chamado Notting Hill, um adorável romance com Julia Roberts e Hugh Grant. A livraria do filme, que serviu de cenário nas gravações, fica na Portobello Street 142, mas hoje abriga uma loja de suvenires. A rua é a mais conhecida do bairro, com suas casas coloridas e muitas lojas de antiguidades.

No número 191 da Portobello, está o Eletric Cinema, cuja fachada merece ser apreciada. É um dos mais antigos cinemas de Londres, foi inaugurado em 1910. Ainda em funcionamento, conta com poltronas confortáveis, pufes para apoiar os pés, mesinhas e um bar para comprar bebidas antes de começar o filme. Uma boa novidade nesse pedaço é The Distillery, destilaria de gim artesanal instalada em um prédio de esquina. Você pode fazer seu próprio gim, programa bem divertido, ou simplesmente entrar no bar de tapas Gintonica e pedir um drinque com um dos gins da casa. Aos sábados, a rua é parcialmente tomada pelo Portobello Road Market, um dos mercados mais tradicionais de Londres e que leva multidões à região. São mais de mil bancas com antiguidades e obras de arte. As pechinchas são raras porque ali você vai ter que lidar com especialistas do ramo.

Quem gosta de rock vai encontrar outros bons motivos para passear por Notting Hill. Mick Jagger, líder dos Rolling Stones, passou a infância no bairro. Jimmy Hendrix também morou por ali, em uma pequena casa no número 34 da Montagu Square, que pertenceu ao baterista dos Beatles, Ringo Starr. Dizem que Paul McCartney compôs ali “I’m looking Through you” e “Eleanor Rigby”. Nessa mesma casa, John Lennon e Yoko Ono foram fotografados nus para a capa do disco Two Virgin, um escândalo na época. Em 1969, Ringo Starr vendeu a casa.

Shoreditch

O Ely’s Yard, em Shoreditch, o bairro moderninho de Londres

Há vinte anos, pouca gente cogitava fazer turismo em Shoreditch. Nem os próprios londrinos costumavam frequentá-lo. Mas o bairro passou por uma grande transformação nas últimas duas décadas, ganhou lojas descoladas, galerias de arte e uma profusão de muros grafitados. Hotéis cinco estrelas instalaram-se por ali, como o Nobu, o M by Montcalm e o The Curtain. Empresas de tecnologia levaram seus escritórios para lá, e junto com eles, jovens descolados que gostam de curtir a vida. Daí surgiram bares com almofadas coloridas em rooftop de prédios (como o Queen of Hoxton) e restaurantes com estrela no Guia Michelin. Hoje, pega bem dizer aos amigos que você vai se hospedar em Shoreditch. É sinal que você está antenado com as tendências e sabe das coisas. A vizinhança é a mais criativa de Londres e o bairro, o que melhor simboliza a modernização londrina.

A alma irreverente e inventiva de Shoreditch pode ser vista ao longo da Brick Lane, reduto indiano e paquistanês, com muitos cafés, casas de chá e lojas de artigos vintage. Aos domingos, a rua é tomada por um mercado de rua, o Brick Lane Sunday Market. Tudo o que você imaginar está à venda por lá. O mercado tem áreas temáticas: frutas, roupas estilosas, doces artesanais e antiguidades. Um setor é destinado aos food trucks e barraquinhas de rua que vendem comida de várias partes do mundo: Turquia, Myanmar, Coréia, Marrocos…

Já o Box Park é um mercado onde designers locais vendem artigos em butiques instaladas em contêineres. No topo deles, o “segundo piso” do mercado, há mesas coletivas e barracas que vendem comidas veganas, cerveja artesanal e coquetéis variados. Nada mais hipster em Londres do que provar um drinque de aperol no Box Park. Outro mercado bem conhecido na região é o Old Spitalfields, antigo mercado vitoriano agora ocupado por dezenas de barraquinhas que vendem artigos retrô, roupas diferentonas e objetos de design para decoração. Aos domingos, o bairro fica ainda colorido graças aos Columbia Road Flower Market, uma feira ao ar livre com todos os tipos de flores que se estende por toda a rua. É uma delícia caminhar entre rosas, girassóis, orquídeas e violetas.

Uma boa maneira de conhecer Shoreditch é entrar num passeio guiado de bike com a Alternative London Bike Tour, que passa pela Hoxton Square e diversas ruas mais grafitadas do bairro.

Camden Town

A Camden Lock, rua de lojas e bares descolados em Camden Town

Nos anos de 1980, Camden Town despontou como o centro da cena alternativa de Londres. Punks de cabelos moicanos coloridos, tatuagens e correntes na cintura eram parte do visual da turminha que frequentava do bairro. Foi nesse pedaço de Londres que despontaram as principais bandas de punk rock inglesas, como os Sex Pistols e o The Clash. Anos mais tarde, uma moradora ilustre do bairro, a jovem Amy Winehouse, despontou mundialmente e ajudou a potencializar ainda mais a aura boêmia do bairro. A cantora acabou virando uma espécie de símbolo de Camden Town. Em 2014, foi inaugurada uma estátua dela no centro do Stables Market, o mercado mais famoso do bairro. A casa onde Amy vivia e foi encontrada morta em 2011 (na Camden Square, 30), e o pub preferido da cantora, The Hawley Arms, onde frequentemente era vista atrás do balcão servindo os clientes, se transformaram em centros de peregrinação de fãs.

Os tempos mudaram, é verdade, mas Camden Town não perdeu sua atmosfera festiva, animado com pubs e muitas casas de música ao vivo. Algumas delas são lendárias, como a Roundhouse, que surgiu em 1969 em um antigo galpão de reparos de trem. Grandes bandas e músicos já tocaram ali, como Pink Floyd, The Who, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Eric Clapton e muitos outros. Amy fez sua última apresentação ao vivo no Roundhouse.

Muito famoso também é o Koko, um teatro aberto em 1900 que impressiona pela arquitetura histórica. Charlie Chaplin se apresentou antes de o lugar ser transformado em casa de show na década de 1970, quando passou a receber nomes importantes do pop e rock contemporâneo. Madonna foi uma das grandes artistas que estiveram no Koko. O teatro, porém, passa por reformas, deve reabrir em abril de 2020.

Durante o dia, conhecer Camden Town implica em caminhar pela High Street e sua extensão Chalk Farm Road. Nelas estão as principais lojas roupas e acessórios alternativos, suvenires, artesanato, artigos vintage, butiques de estilistas locais, além de estúdios de tatuagem. Dois mercados abertos e superconhecidos ficam ao longo dessa via: o Camden Lock Market e o Stables Market (onde fica a tal estátua de Amy), este último com 450 lojas e tendas onde é possível encontrar de tudo, de piercings a malabares.

A visita ao bairro fica completa com um passeio pelo Regent’s Canal, que atravessa a cidade até se encontrar com o Rio Tâmisa. No ponto onde as águas cruzam com a Camden High Street há pubs e bares bem agradáveis para apreciar o ambiente e o vai-e-vem de turistas. Muita gente vive em embarcações ancoradas à margem do canal, o que faz lembrar uma pequena Amsterdã em versão britânica. É possível passear pelo Regent’s Canal de barco, a pé ou de bicicleta. O trecho que vai de Camden Lock a Little Venice é especialmente bonito, pois passa diante do Regent’s Park, onde está instalado o zoológico de Londres.