Samba, feijoada e arquibancada: uma tarde no Bar do Zeca Pagodinho, no estádio do Corínthians

No coração da Zona Leste de São Paulo, onde pulsa o batuque da torcida e ecoa o grito de gol, há um lugar onde o samba divide espaço com o futebol. Dentro da monumental Neo Química Arena, templo sagrado do Corinthians, ergue-se o Bar do Zeca Pagodinho — mais que um restaurante, uma experiência que mistura música, memória e sabor em doses generosas.

A atmosfera é de boteco sofisticado, com alma suburbana e espírito carioca. Luzes azuladas suavizam o ambiente, enquanto as paredes contam histórias — retratos, discos, cavaquinhos e bandeiras de outrora traçam o percurso de Zeca, o poeta do cotidiano. No centro de tudo, uma réplica em tamanho real do próprio Zeca, copo de chopp erguido, convida à celebração — e aos cliques.

Cheguei numa tarde de sol para a já tradicional Feijoada de São Jorge, que, em sua sexta edição, parecia ter sido costurada com esmero entre os santos e os sambistas. Logo na entrada, uma escultura imponente do santo guerreiro, espada em riste sobre o cavalo branco, anunciava: ali a fé e a festa caminham juntas. Recebi uma camiseta estilizada com mangas desfiadas e miçangas, quase um abadá urbano, e entrei ao som do tamborim.

O salão exalava alegria. À minha frente, um bufê abundante e perfumado: carnes fumegantes, arroz soltinho, couve-manteiga refogada no alho, mandioca dourada, farofa crocante e laranjas frescas cortadas com capricho. Para quem não come carne, uma moqueca de banana-da-terra com dendê e afeto. Escolhi minha combinação e me acomodei próximo à janela, onde se avista parte da arquibancada superior — um privilégio para quem aprecia tanto o samba quanto o estádio.

Ali, com o copo gelado na mão e o prato quente sobre a mesa, entendi o espírito do lugar: celebrar o Brasil em seus sabores, sons e símbolos. O som crescia, e quando Dudu Nobre subiu ao palco, foi como se uma energia elétrica atravessasse o ambiente. Palmas, sorrisos, gente dançando entre as mesas — ninguém queria perder a batida.

Por R$ 65, o ingresso dá direito ao buffet de feijoada. Aos sábados e domingos, das 12h às 16h, a feijoada retorna como ritual, seguida de música ao vivo até o início da noite, mas o valor muda conforme a atração. À noite, o cardápio à la carte assume o palco: bobó de camarão, porções de boteco, drinks bem executados. Durante a semana, de terça a sexta, o bar segue o mesmo ritmo — mais calmo, mas ainda com alma festiva.

Com seis anos de existência e unidades no Rio, em Ribeirão Preto e na capital paulista, o Bar do Zeca Pagodinho é mais que uma homenagem ao sambista — é um refúgio onde o Brasil canta e brinda, entre a santidade de São Jorge e a ginga da velha guarda. Um lugar onde o samba não pede licença para entrar. Ele já mora ali.

Por Vera Lerner

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