Conheça as estradas mais belas do Brasil

Por Tales Azzi, texto e fotos.

Algumas estradas conseguem ser mais do que apenas um meio de ligação entre cidades, mas são capazes de deleitar os viajantes com lindas travessias. Ao cruzar regiões de grande beleza natural, no litoral ou nas montanhas, certos caminhos se transformaram em atração turística e, muitas vezes, até o principal motivo da viagem. Nessas estradas especiais o asfalto é apenas um detalhe porque o importante, nesse caso, é o visual do caminho. Então, abaixe o vidro do carro e conheça algumas das mais belas viagens rodoviárias do Brasil.

Estrada da Serra do Rio do Rastro

Um zigue-zague só no trecho de serra entre Bom Jardim da Serra (SC) e Lauro Müller (SC)

Oasfalto começa em Tubarão, no litoral catarinense, e sobe o planalto rumo ao interior do estado. Mas toda a fama da rodovia SC-438 recai em um trecho de apenas 15 km, que vai de Lauro Müller a Bom Jardim da Serra, atravessando a Serra do Rio do Rastro. A pista escavada na rocha da encosta de um cânion de 1.467 metros de altura é um zigue-zague só, com curvas de até 180o graus, tão fechadas que os caminhões precisam parar e manobrar. No caminho, cachoeiras escorrem pelos paredões quase verticais e alguns oratórios podem ser vistos entre as rochas. Em alguns pontos, há áreas para estacionar e mirantes metálicos construídos em pontos estratégicos da pista, justamente para quem quiser parar e curtir a paisagem. Um dos mirantes fica bem no topo da subida, ao lado de uma cafeteria. A estrada da Serra do Rio do Rastro foi construída em 1946 sobre a antiga trilha usada por tropeiros que, desde o século 19, transportavam mercadorias entre o litoral e o planalto catarinense. A pista foi pavimentada em 1997, quando recebeu concreto armado, material mais aderente para os pneus em terreno tão íngreme. Em 2002, foi instalada a iluminação, com sistema de cabos elétricos subterrâneos. A noite, a vista noturna da estrada, especialmente de baixo para cima, é surpreendente.

Rio-Santos

Maresias, uma das atrações ao longo da Rodovia Rio-Santos, no litoral norte paulista

Das estradas que lambem o litoral brasileiro, ela é a mais glamourosa. E também uma das mais bonitas. Ao todo são 650 km de asfalto e 370 praias (isso mesmo: 370!), que vão de Santos ao Rio de Janeiro. Oficialmente, é a rodovia SP-055, mas todo mundo a conhece como Rio-Santos. Só de ouvir esse nome, aliás, já dá vontade de botar o carro na estrada. E você vai imaginando a cena típica: mar de um lado, mata atlântica do outro, o carro subindo e descendo morros. Em diversos pontos há trechos com acostamento onde é possível estacionar para fotografar. A rodovia dá acesso a um dos litorais mais lindos do País. E a melhor forma de aproveitar essa espécie de via sacra praiana é pular de uma praia para outra, rodando pelos 400 km que vão de Barra do Una, em São Sebastião, a Paraty, o trecho mais cênico da estrada. Só o visual que se tem de cima dos morros – há pelo menos meia dúzia de mirantes ao longo do caminho – já vale a viagem. Camburi e Maresias são as praias mais famosas, lugar de gente bonita e famosa. Sozinhas, são capazes de atrair gente do Brasil inteiro. Mas o litoral da Rio-Santos tem um pouco de tudo, de praias grandes e muvucadas a outras pequenas e ainda selvagens, acessíveis apenas por trilhas ou barco, como a Puruba e a Brava de Camburi, em Ubatuba. Esta última está ao final de uma trilha de uma hora de caminhada em meio à mata atlântica. Famílias, por sua vez, gostam de Juqueí e Barra do Sahy. Mas é bom sempre estar atento, porque a via é estreita, tem curvas fechadas e muitos radares fotográficos em toda a sua extensão.

Estrada da Graciosa

A cidade histórica de Morretes (PR), ao final da Estrada da Graciosa

A Estrada da Graciosa, ou PR-410, liga Curitiba ao litoral do Paraná. Seu asfalto começa no km 59 da Rodovia Régis Bittencourt e termina na cidade de São João da Graciosa. São apenas 20 km de extensão, atravessando as montanhas da Serra do Mar e a mata atlântica espessa do Parque Estadual Pico do Marumbi. Estreita e revestida de paralelepípedos, a Estrada da Graciosa mais parece um passeio pelo bosque da serra. Foi construída em 1873, no antigo caminho usado por índios e tropeiros. O trajeto pode ser feito em menos de uma hora, mas ninguém faz isso porque é irresistível parar em algum dos diversos bares e mirantes do caminho. Dá para respirar ar puro e apreciar a linda vista das montanhas. No Recanto Engenheiro Lacerda, no início da descida, é possível ver, em dias de céu limpo, até as praias da Baía de Paranaguá, a quase 30 km de distância. Na Curva da Ferradura, há trilhas que levam a duas cachoeiras. E o passeio continua na histórica cidade de Morretes, erguida em 1733, com muitos casarões coloniais à margens de um sossegado riacho. É a capital do prato mais típico do Paraná, o barreado, uma carne cozida por tantas horas que chega desfiada na panela.

Rodovia Transpantaneira

.Portal de entrada da Transpantaneira, em Poconé (MT)

A placa na estrada de terra avisa: “Aqui começa o Pantanal”. É o marco oficial da Rodovia Transpantaneira, construída na década de 1960 que atravessa o Pantanal Mato Grossense. Vai de Poconé (a 100 km de Cuiabá) a Porto Jofre, já perto da fronteira com a Bolívia. A “rodovia” de 150 km de extensão, na realidade, é um retão de terra construído sobre aterros para barrar as águas da cheia e ser transitável o ano inteiro. Sua engenharia inclui 126 pontes, muitas delas de madeira, o que dá quase uma por quilômetro, média recorde em todo o mundo. Não há saídas alternativas na Transpantaneira, ou seja, quem vai tem que voltar por ela mesma, o que é ótimo, especialmente na época da cheia, entre novembro e abril, quando o acostamento fica cheio de jacarés. Mas, nesse período, o caminho ganha atoleiros que só veículos 4×4 conseguem passar. Já na seca, de maio a outubro, qualquer carro de passeio encara o percurso. O grande barato ao viajar nela é avistar os pássaros e animais: tuiuiús, quatis, capivaras, antas e até jaguatiricas. A estrada também dá acesso a inúmeras fazendas, que se adaptaram para receber turistas e transformaram parte da propriedade em pousadas. É o caso do Araras Ecolodge, o mais famoso dessa região. Já em Porto Jofre, o grande barato são os passeios de barco para ver as onças que aparecem na beira dos rios. É um esquema já bem organizado e há sempre grandes chances de avistar os grandes felinos.

Japalão

Estradas de terra cortam o cerrado no Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins

A estrada de terra vermelha corta a vasta planície. A paisagem do cerrado, com arbustos de galhos retorcidos e veredas de buritis, estende-se até onde a vista alcança. No horizonte surgem montanhas de platô achatado, em formato de mesa. Assim é o Jalapão, uma das regiões menos povoadas do País e um dos maiores destinos para os amantes das viagens off road. As estradas que atravessam essa região, a TO-255 e TO-030, somam juntas 400 km e interligam quatro municípios: Ponte Alta do Tocantins, Mateiros, São Félix do Tocantins e Novo Acordo. Nesse trajeto, estão as grandes belezas do Jalapão, com cachoeiras monumentais (como a Cachoeira da Velha), dunas alaranjadas e curiosos “fervedouros”, que são nascentes de água cristalina que brotam com pressão. No Fervedouro do Ceiça, a ressurgência impede o corpo de afundar. No vilarejo de Mumbuca, estão os artesãos que usam o capim dourado para produzir cestos, bolas e bijuterias. Na capital Palmas, há locadoras com veículos 4 x 4. Se estiver com um deles, poderá rodar sem problemas, especialmente entre junho e agosto, quando quase não chove e as estradas estão em melhores condições. Nos meses de chuva, apesar dos atoleiros, a paisagem está bem mais bonita e as cachoeiras ainda mais caudalosas.

AL-101 – Litoral de Alagoas

Maragogi, um destinos acessados pela rodovia AL-101, no litoral de Alagoas

A Rodovia AL-101 é a estrada litorânea que dá acesso fácil à maioria das praias de Alagoas. Tem cerca de 280 km repletos de grandes belezas para ambos os lados da capital, Maceió. O caminho tem belos panoramas, como a travessia da Lagoa do Mundaú e o mirante da Praia do Gunga, mas o melhor desse trajeto está na linda coleção de praias da costa alagoana. Para o sul, as mais belas paisagens surgem diante das falésias avermelhadas da Lagoa Azeda e nas dunas de Piaçabuçu, na foz do Rio São Francisco. Para o norte, os primeiros 30 km da AL-101 lembra mais uma avenida urbana, com comércio dos dois lados da pista. Barra de Santo Antônio guarda a selvagem Praia de Carro Quebrado, que apesar do nome é acessível para qualquer veículo de passeio. Falésias de diferentes cores e coqueiros fazem dela uma das mais fotogênicas de Alagoas. A partir de Barra de Santo Antônio, a rodovia faz uma curva para o interior e só reencontra a beira-mar em Barra do Camaragibe. Ali começa o espetáculo. O coqueiral margeia os dois lados da pista e transforma o asfalto em uma alameda arborizada. Neste trecho, os vilarejos de São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras, Porto da Rua e Japaratinga dão acesso a uma sequência de praias azuis e piscinas naturais. Conhecido como Rota Ecológica, a região ganhou muitas pousadas de luxo que fizeram da região um dos melhores redutos de sossego e conforto no Nordeste. Já na divisa com Pernambuco surge Maragogi e suas famosas galés, o maior conjunto de piscinas naturais do Brasil, para onde barcos levam todos os dias no horário da maré baixa.