Autor: Karin Hoch –
A advogada Andréa Dias, 29 anos, casou-se com o engenheiro civil Diogo Cardoso, de 28 anos, numa igreja de Roma, capital da Itália, a cerca de 9 mil km de Belém (PA), cidade brasileira onde ambos se conheceram e vivem juntos. A cerimônia da administradora de empresas Monica Puchevitch, 30 anos, também foi realizada bem longe do Brasil: a união com o engenheiro Roberto Durscki, de 31 anos, foi celebrada num luxuoso hotel de Paris, a um oceano de distância de sua Porto Alegre (RS) natal.
Os dois casais não vivem na Europa nem têm planos de se mudar para lá. Apenas escolheram aquele que julgaram ser o destino perfeito para dizer “sim” e fizeram as malas, uma prática que tem nome – destination wedding – e um crescente número de adeptos no Brasil.
O que motiva os pombinhos, principalmente, é transformar a comemoração do casamento em uma viagem curtida ao lado de pessoas queridas, além de levar a festa para um lugar mais empolgante do que a cidade do trabalho, das responsabilidades, do cotidiano, enfim. Tendo em mente que a experiência tem custos altos, basta escolher onde celebrar: Europa ou América, campo ou litoral, um lugar com valor afetivo ou simplesmente um destino romântico.
“Em um casamento comum, o casal cria um cenário para realizar um sonho. Com o destination wedding, realiza-se o sonho in loco, num castelo histórico, por exemplo”, compara Jacqueline Mikahil, da agência BeHappy Viagens (behappyviagens.com.br), que organiza casórios no exterior. Um conceito simples para uma prática extremamente trabalhosa.
À infinidade de tarefas que o evento envolve por natureza, somam-se o planejamento e os custos de uma viagem. Assim, fora encontrar o lugar da cerimônia e da festa, mandar fazer os convites, e assim por diante, quem opta por um destination wedding precisa coordenar esses serviços com a reserva de passagens aéreas e de hotel, bem como o cronograma dos convidados mais importantes. Isso tudo com antecedência suficiente para que padrinhos, madrinhas, pais e irmãos possam organizar-se para a empreitada, coisa de oito meses a um ano antes da festa.
A espera à distância é preenchida pelo contato intensivo entre a noiva, principalmente, e a pessoa que está cuidando da organização da cerimônia no exterior, para a escolha precisa de flores e outros itens da decoração, fotógrafo, videasta, do improvável padre brasileiro que more no país do casamento… É preciso ter muita organização (financeira, inclusive) e nervos de aço para controlar tudo sem estar efetivamente presente – e então aguardar placidamente a chegada do grande dia, já que não há outra alternativa. Mas, pelas histórias mostradas a seguir, o processo parece valer muito a pena e é inesquecível para noivos e convidados.
Festa estendida
“Foi uma experiência única. A cerimônia estava linda, bem pessoal e emocionante. Tivemos um casamento do jeito que queríamos”, recorda-se Andréa Dias, a noiva do casamento em Roma.
Ela entrou na igreja às 16h30 ao som de Ave Maria, “cantada por uma soprano que arrepiou todo mundo”, completa ela, e disse “sim” ao engenheiro Diogo diante de apenas 18 pessoas, entre parentes e alguns poucos amigos. A comemoração continuou com um coquetel ao pôr do sol na suíte presidencial do cinco-estrelas onde o casal se hospedou, dona de um terraço com uma vista estupenda de Roma. E ainda houve um terceiro round num salão do próprio hotel, onde uma mesa imperial foi montada para um banquete de quatro pratos.
O antes e o depois da festa também não passaram em branco. Andréa e Diogo chegaram a Roma dias antes do casório para conhecer a cidade e, após as bodas, seguiram viajando pela Itália, com alguns convidados a tiracolo. “Fomos com nossos familiares para Florença e Veneza. Digo que somos o único casal do mundo que vai para a lua de mel com a família, mas confesso que adorei”, diverte-se Andréa.
A administradora Monica Puchevitch e o engenheiro Daniel Durscki aproveitaram a realização do matrimônio na Cidade Luz para também estender o passeio. Na realidade, o primeiro foi pensado em função da viagem de núpcias, já que os pombinhos sempre falavam de passar a lua de mel em Paris.
“No início de 2012, surgiu a ideia de uma viagem em família para assistir ao Roland Garros (torneio de tênis realizado na capital francesa), e eu não queria ir para a cidade onde seria minha lua de mel. Foi aí que o Daniel teve a ideia de nos casarmos lá”, conta Monica, que selou a união com o marido em uma cerimônia para 12 pessoas em um hotel de luxo de Paris.
A estadia na cidade foi só o ponto de partida da viagem. De lá, a dupla atravessou a França de carro, com paradas em Monte Saint-Michel, Nice, Marselha e Sain-Malo, com uma esticada até Londres e Liverpool, na Inglaterra.
Para a especialista em casamentos Constance Zahn – que mantém um site que leva seu nome recheado de dicas para o “grande dia” ocorrer em grande estilo –, é justamente a possibilidade de a comemoração se prolongar a grande vantagem do destination wedding. “O casamento deixa de ser coisa de uma noite para durar um fim de semana inteiro ou mais dias ainda, o que é uma delícia. A celebração se multiplica e quem não gosta disso?”, ressalta ela.
Tal entusiasmo é compartilhado sobretudo pelas noivas. “Parecia que todos os dias na Itália serviam para comemorar o casamento. Para mim, foi isso mesmo: a cerimônia e a festa não duraram apenas um dia, mas todos os dias que passamos no país”, recorda-se a advogada Andréa Dias.
Uma lista de convidados enxuta também é consequência natural de um casamento longe de casa. Aliás, desvencilhar-se de um festão é o que leva muitos casais a oficializar a união no exterior. “Para filhos de empresários, políticos ou figuras públicas, fica difícil fazer um casamento para menos de 600 participantes. Quanto mais distante o destino da cerimônia, maior a porcentagem de pessoas que não vão”, aponta Constance.
Não só os figurões têm dificuldade para limitar o número de convidados e manter a cerimônia intimista e familiar. “Acredito que casamento não é evento social. Só que seria impossível fazer algo pequeno em Belém. Temos muitos amigos e nossos pais também, fora nossas famílias”, conta Andréa, que chegou a cogitar apenas um casamento no civil para escapar de uma grande festa.
Um caro voo no escuro
Mesmo que o evento seja para poucos participantes, a preparação é longa, trabalhosa e pede tranquilidade para arquitetar, à distância, aquela que é possivelmente a comemoração mais valorizada na vida de alguém. Segundo Andréa Dias, que se casou em Roma, é preciso coragem para organizar um casamento assim. “Você não conhece o local ou as pessoas que vão trabalhar no dia da celebração. Somente tem referências delas virtualmente e tem de acreditar que tudo vai dar certo. A sorte é que eu encontrei a pessoa certa para organizar tudo isso”, relata.
A pessoa certa, no caso, foi Fernanda Silva, da Wedding Luxe – Assessoria e Cerimonial para Casamentos na Europa (wedding-luxe.com). O primeiro contato foi por acaso: entusiasmada com a ideia de um casório fora do Brasil, mas sem qualquer noção da viabilidade do “projeto”, Andréa deparou-se com o nome de Fernanda em um blog. “Ela tinha feito o casamento de uma brasileira em Paris e achei incrível, mas pensei que isso era meio fora da realidade. Mesmo assim, entrei em contato e gostei dela de cara”, comenta.
A primeira mensagem deu início a um relacionamento via e-mail, telefone e Skype que se estenderia por oito meses, até a data da festa, realizada em Roma em setembro de 2012. A celebração foi um sucesso, mas a experiência não deixa de ser um voo no escuro: uma equipe de semidesconhecidos estará à frente de todos os detalhes do casório, por vezes em um lugar que não se conhece além da tela do computador.
O preço não pode ser o critério de desempate para quem está pensando em realizar a cerimônia no exterior. No Brasil, um casamento de alto padrão sai por cerca de R$ 1 mil por convidado, enquanto na Europa o valor oscila de € 700 a € 1 mil, uma diferença de custo que serve mais como lembrete de que casar, seja onde for, é caro.
No balanço final das contas, é apenas o tamanho menor do destination wedding, por força das circunstâncias, que pode baratear os custos. A união do casal de Belém, Andréa e Diogo, totalizou € 23 mil (cerca de R$ 62 mil), um valor modesto para um casamento de luxo, mas não se for levado em conta o número igualmente modesto de convidados: apenas 18 pessoas.
De acordo com Andréa, o evento na Itália foi bem mais barato do que seria um casamento no Brasil para 400 pessoas, número de convidados previstos caso a festa fosse no País. Mas, se forem contabilizados os gastos com a viagem toda, o valor é maior do que se a festa tivesse sido em Belém. “Só de passagem aérea (somando a dos noivos, pais, irmãos e respectivos namorados), nossos pais pagaram quase R$ 30 mil. Hotel em Roma é caro e ainda fomos para Florença e Veneza”, explica a advogada.
Foi a mesma história com os gaúchos Monica Puchevitch e Roberto Durscki: todo o evento, do making off da noiva à recepção dos convidados, totalizou € 19 mil (em torno de R$ 51 mil). Pouco para um supercasamento. Muito para um evento com apenas 14 pessoas presentes.
Sobre esses números, sobrepõem-se ainda os gastos da viagem propriamente dita, sem falar que a economia por parte dos noivos não cobre as despesas dos convidados, que bancam a viagem para poder comparecer a esses casamentos dos sonhos.
Tradição adaptada
Nem preço nem questões logísticas parecem ser um entrave para a popularização do destination wedding entre os pombinhos nacionais. “A festa de casamento é muito importante para os brasileiros, independentemente da classe social. Por isso, não acredito que a motivação para fazer uma cerimônia nesse estilo esteja ligada à procura por preços mais vantajosos”, diz Fernanda Silva, da Wedding Luxe, que viu o número de clientes disparar em 2012.
Em 2011, ela atendeu um casal brasileiro. Em 2012, foram dez. Um fenômeno que, para ela, segue o ritmo das mudanças socioeconômicas do Brasil. “Existe um aumento na procura por destination weddings na mesma proporção com que os brasileiros se interessam mais por viagens internacionais”, afirma Fernanda.
Americanos e europeus, porém, além de japoneses e chineses, ainda são os povos que selam a união fora das fronteiras nacionais com maior frequência e encaram a empreitada com mais naturalidade. As cerimônias que eles protagonizam não são iguais entre si, assim como não seguem as mesmas diretrizes das festas tradicionalmente realizadas no Brasil ou para brasileiros.
Assim, para agradar noivos e convidados, é preciso acrescentar elementos típicos da celebração de seu país de origem. Para um norte-americano, por exemplo, um rehearsal dinner, o jantar no dia anterior ao casamento, é indispensável. Para os brasileiros, outras preocupações entram em pauta: cabem desde o capricho com a decoração à preocupação com uma trilha sonora animada, passando pela urgência em caçar um padre que fale português.
São detalhes que se concretizam e viram histórias felizes e inesquecíveis, capazes de inspirar outros pombinhos a oficializar
a união num cenário de contos de fadas, como, por exemplo, o Château d’Esclimont, um castelo do século 16, a 60 km de Paris, superprocurado para esse tipo de evento.
Para quem já passou pela experiência, o saldo é tremendamente positivo, a ponto de fazer com que o casal queira repetir a dose, caso da administradora Monica Puchevitch e do engenheiro Roberto Durscki. “O casamento foi absolutamente perfeito. Nós nos apaixonamos por Paris e pretendemos voltar lá para comemorar todas as nossas bodas daqui para frente”, planeja a gaúcha.
Esse trecho foi retirado da revista Viaje Mais, seção Serviço, edição 141.