Entenda os gargalos das companhias aéreas que pressionam os preços das passagens

Os CEOs das três maiores companhias aéreas do país – Gol, Latam e Azul – reuniram-se, nesta quarta-feira (6 de março), durante o Fórum Panrotas 2024 e traçaram o panorama atual do setor aéreo brasileiro e dos grandes desafios das empresas para equilibrar suas receitas. Mediado pelo jornalista William Waack, os CEOs apontaram o custo-Brasil, a instabilidade de câmbio, a confusa regulamentação do setor, a insegurança jurídica e a falta de estrutura em aeroportos como os principais entraves para o crescimento das companhias.

A crise do setor aéreo no Brasil vem se arrastando desde 2012 e se agravou durante os dois anos de pandemia de Covid 19. Em 2023, o acrescimento de receitas das companhias aéreas aumentou 21 %, ainda insuficiente para cobrir o acréscimo de 28% dos gastos no mesmo período.

A Gol, que trouxe o conceito low cost para o Brasil há 23 anos, é a que vive o momento mais delicado. Em janeiro de 2024, a empresa pediu recuperação judicial nos Estados Unidos para ter acesso a financiamentos com tarifas mais atraentes. Essa decisão pode ter surtido efeito. Um aporte de capital de US$ 950 milhões por investidores estrangeiros foi liberado para apoiar as operações em andamento da Gol, segundo informou o CEO Celso Ferrer.

“O pedido de recuperação judicial da Gol não altera as operações da companhia e os passageiros não serão afetados. O posicionamento da empresa é crescer com novas rotas e a modernização da frota. Para 2024, está previsto a chegada de 14 novas aeronaves”, disse Ferrer.

O preço do combustível de aviação, responsável por cerca de 40% dos custos de operação das aéreas, foi apontado como principal fator para a instabilidade de balanço das companhias. “O custo do combustível no Brasil é o mais caro do mundo, e como os preços estão atrelados a um câmbio instável não há muito o que fazer”, lembrou John Rodgerson, CEO da Azul.

Os representantes das empresas destacaram também a falta de uma política pública para incentivar o setor aéreo e a legislação, ao contrário, apenas onera ainda mais as companhias. É o caso, por exemplo, das regras para atrasos de voo. “O Brasil é o país que mais processa as companhias aéreas por conta de atrasos ou cancelamentos de voo”, disse Rodgerson.

Alguns projetos de lei atualmente em tramitação no Congresso Nacional parecem trazer ainda mais incertezas. É o caso da exigência de serviço de internet gratuito em voo nacionais e de novas regras para os programas de milhagem (com prazo mínimo de 3 anos para a validade dos pontos e fim da taxa para emissão de passagem com milhas). Em junho de 2022, o ex-presidente Bolsonaro vetou o projeto do retorno do despacho gratuito de bagagem que tinha sido aprovado pelo Senado.

O CEO da Azul lembrou que, nas rotas internacionais, fica muito difícil concorrer com as empresas estrangeiras que tem apoio e são subsidiadas pelo governo de seus países, a exemplo da Delta ou da Tap.

A privatização dos aeroportos na última década, embora tenha sido benéfica para a experiência dos passageiros, não refletiu em aumento expressivo da infraestrutura aeroportuária. “Seria preciso uma nova onda de investimentos com a construção de pistas de grande porte. Com o aumento da frota em uma estrutura engessada, cresceu o tempo em solo das aeronaves, o tempo na fila de taxiamento e o tempo de pouso em aeroportos mais movimentados. E tudo isso reflete no custo final da operação”, disse Celso Ferrer.

“Olhamos para 2024 de forma otimista. Com orçamento para investir na ordem US$ 1 bilhão, a perspectiva da Latam é comprar novas aeronaves. Mas é fundamental continuar a reduzir os custos para reduzir o preço das tarifas”, explicou Jerome Cadier, CEO da Latam.

“O país precisa de empresas aéreas fortes, que geram empregos. E as companhias precisam se unir para fortalecer o setor como um todo. As oportunidades são imensas no Brasil, com destaque para os passageiros de turismo”, concluiu John Rodgerson.

A Associação do Transporte Aéreo Internacional (IATA) divulgou, no dia 7 de março, os dados sobre a demanda global de passageiros de janeiro de 2024, que indicam um forte início de ano. A demanda internacional cresceu 20,8% no mundo e a taxa de ocupação permaneceu em 79,7% em comparação ao mesmo período do ano passado. A demanda doméstica de voos aumentou 10,4% e a taxa de ocupação foi de 80,2% (aumento de 4,2 pontos percentuais).

“É fundamental que os governos vejam a aviação como um catalisador do crescimento. O aumento de impostos e a regulamentação onerosa são um contrapeso à prosperidade. Esperamos que os governos adotem políticas que ajudem a aviação a reduzir custos, melhorar a eficiência e atingir o objetivo de zero emissão líquida de CO2 até 2050″, divulgou em nota Willie Walsh, diretor geral da IATA.

Por Tales Azzi

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