As praias e a vibe bicho-grilo da Ilha do Mel

A Ilha do Mel é o melhor motivo que você tem para viajar para o (desconhecido) litoral do Paraná. Isso, claro, se você não fizer questão de hotel cinco estrelas ou táxi com ar-condicionado, porque isso não existe por lá. A Ilha do Mel é rústica, mas com astral bem interessante e com uma linda sequência de praias selvagens e preservadas, já que quase toda a área da ilha faz parte de uma imensa reserva ambiental. Uma vez lá, o máximo de luxo que você pode querer é vestir um par de sandálias para passar as tardes tomando banho de mar ou balançando na rede de uma pousada.

A Ilha do Mel está na boca da grande Baía de Paranaguá, próxima à divisa dos estados de São Paulo e Paraná e a apenas 4 km de distância do continente, perto o bastante para ser avistada sem dificuldade desde o embarcadouro de Pontal do Sul, de onde partem as lanchas e os barcos para a ilha. São apenas 15 minutos de travessia.


A ilha é, de fato, lindíssima, e com uma agradável atmosfera de paz e amor que os hippies deixaram de herança. Nos anos 1970, a Ilha do Mel se transformou em um dos principais redutos de bicho-grilos do litoral sul brasileiro. Naquela época, não havia nem luz elétrica na ilha, que só chegou em 1998 através de cabo submarino.

Vista aérea do atracadouro da vila de Nova Brasília – Foto: Tales Azzi
Carros não entram na ilha, que tem astral meio bicho-grilo – Foto: Tales Azzi


Os dois principais povoados da ilha são Encantadas e Nova Brasília. Entre um e outro leva cerca de uma hora de caminhada, percurso que quase todo mundo acaba fazendo. Os povoados são simples e informais. Ruas não há, afinal, carros são proibidos. Os únicos caminhos são picadas de areia que dão acesso às casas e às pousadas. Os meios de transporte locais são as bicicletas ou as lanchas, que funcionam como táxi-aquáticos.

Trilha que leva à Praia da Gruta, a mais próxima da vila de Encantadas – Foto: Tales Azzi


A hospedagem típica na Ilha do Mel são as pousadas, geralmente com poucos quartos e cercadas pelo verde da mata. Grandes hotéis não existem na ilha porque as leis ambientais proíbem novas construções desde 2002, quando foi criado o Parque Estadual da Ilha do Mel. Quase toda a área faz parte da reserva e, portanto, está sujeita às rígidas regras ambientais. Em compensação, isso impede o crescimento desordenado das vilas e ajuda a manter a ilha verde e preservada. Há até controle do número de turistas. Oficialmente, não é permitido mais do que 5 mil turistas ao mesmo tempo.

Praias Selvagens


Ilha do Mel é grande. De uma ponta a outra tem mais de 15 km. Praias são inúmeras, espalhadas ao longo de 35 km de costa. A maioria delas é selvagem, coberta por vegetação de restinga e mata atlântica, com areia batida e mar nem sempre calmo, o que faz a alegria dos surfistas. Caminhar pela areia, pulando de uma praia para outra, no ritmo da maré, é a melhor maneira de conhecer as belas paisagens costeiras. Em uma hora de caminhada é possível conhecer as principais praias: da Gruta, de Miguel, de Grande, de Fora e do Farol.

A Praia de Fora e, ao fundo, o Farol das Conchas – Foto: Tales Azzi


Quem for até o Farol das Conchas, construído em 1872 ou subir ao Morro do Sabão, terá diante de si os melhores panoramas, com a sequência de enseadas separadas por morros suaves. Quem não quiser caminhar pode utilizar os serviços de barcos-táxis que fazem o trajeto entre as vilas de Encantadas e Nova Brasília. São apenas dez minutos para ir de um ponto a outro.

O Farol das Conchas, de 1872, sinaliza os barcos que navegam bela Baía de Paranaguá – Foto: Tales Azzi

Um passeio de barco leva à vizinha Ilha das Peças, ocupada por uma colônia de pescadores. O tour inclui uma parada na histórica Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, de 1769, construída pelos portugueses para proteger a entrada da Baía de Paranaguá contra invasores. No caminho, é bem fácil ver muitos golfinhos nadando perto da embarcação. Na Ilha das Peças, o ponto de apoio é o Restaurante Teodoro Dias, com mesas à sombra de amendoeiras, que serve pratos generosos de peixe e camarões fritos.

O Forte de Nossa Senhora dos Prazeres, principal construção histórica da Ilha do Mel – Foto: Tales Azzi

A Ilha do Mel é um lugar para curtir prazeres simples, como admirar o céu absurdamente estrelado e dormir ouvindo o barulho das ondas do mar. O sossego é quase total e você será até capaz de esquecer o dia da semana em que está. Quem imagina que o litoral paranaense é restrito apenas a praias urbanizadas e sem graça terá uma imensa surpresa quando desembarcar na mais doce das ilhas brasileiras.

Como chegar na Ilha do Mel


A Ilha do Mel fica a 90 km de Curitiba e a 450 km de São Paulo, a maioria do caminho pela Rodovia Régis Bittencourt. A descida da Serra do Mar para o litoral é feita pelas deliciosas curvas da Estrada da Serra da Graciosa (a PR-410), que vale por um lindo passeio. Já para atravessar à ilha, que fica a 4 km do continente, é preciso pegar um barco que parte de hora em hora do embarcadouro da cidade de Pontal do Sul. A operadora www.serraverdeexpress.com.br oferece passeios para a Ilha do Mel saindo de Curitiba a partir de R$ 429 por pessoa, com transporte, traslados em barco, guia e almoço. Consulte também para opções de pacotes.

Onde ficar na Ilha do Mel


A Ilha do Mel não tem hotéis, apenas pequenas pousadas. Elas estão nas vilas de Encantadas e Nova Brasília. São propriedades pequenas com poucos quartos, mas sempre cercadas de verde. A mais charmosa é a Pousada Grajagan (www.grajagan.com.br), em Nova Brasília, que tem acesso direto à Praia Grande e deque panorâmico com serviço de bar. Em Encantadas, há bons quartos nos chalés da Pousada Caraguatá (www.caraguata-ilhadomel.com.br), e atendimento megassimpático na Pousada Bob Pai Bob Filho (www.pousadabobpaibobfilho.com.br).

Quarto da Pousada Grajagan, uma das melhores da ilha, com quartos de frente para a Praia de Fora – Foto: Divulgação

Por Tales Azzi, texto e fotos