Desde que os americanos criaram o Parque Nacional de Yellowstone, em 1872, ficou determinado que os lugares mais belos do planeta não deveriam ser exclusividade de quem chegou primeiro, ou comprou depois. Talvez essa tenha sido a melhor invenção dos americanos. No Brasil, o primeiro parque nacional, em Itatiaia, foi criado em 1931, a mando do presidente Getúlio Vargas. Atualmente, o país contabiliza 72 parques. Escolhemos dez deles, na costa e nas montanhas, para você decidir qual merece estar nos seus próximos planos de férias.
Chapada Diamantina – Bahia
O mar virou sertão no interior da Bahia. Há 800 milhões de anos, a Chapada Diamantina era fundo de mar. Hoje, essa região dominada pelos galhos retorcidos do cerrado, a 500 km de Salvador, é a grande meca do ecoturismo brasileiro. Seus rios desabam em cachoeiras lindíssimas. A do Buracão impressiona por jogar suas águas no interior de um cânion de pedra. A da Fumaça, a mais alta do país, com 340 metros de altura, tem esse nome porque parte da água evapora durante a queda, formando uma imensa cortina de vapor. Olhando para o alto, a vista se volta para morros de curiosos recortes, como o Pai Inácio, o Camelo e o Morrão. Criado em 1985, o Parque Nacional da Chapada Diamantina abrange uma área de 1.520 quilômetros quadrados, onde há diversas cidades: Lençóis, Andaraí, Mucugê, Palmeiras e Ibicoara. No século 19, esses municípios prosperaram com o garimpo de diamantes. A herança dessa época está nas arquiteturas dos casarões centenários e nas ruas calçadas de pedras. Lençóis é a maior delas e principal porta de entrada para quem visita a Chapada Diamantina.
Abrolhos – Bahia
“Quando te aproximares da terra, abra os olhos”, alertou Américo Vespúcio em seu diário de bordo de 1503, logo após passar por cinco ilhotas a 70 km da costa da Bahia, na altura da cidade de Caravelas. Foi a primeira referência ao arquipélago de Abrolhos, cujos arrecifes de corais representavam um enorme risco de naufrágio para os navegadores do século 16. Mas, o que antes era considerado perigoso, hoje é um tesouro biológico e o maior santuário de vida marinha da costa brasileira. As bancadas de corais de Abrolhos é o único lugar do mundo onde é possível encontrar o coral-cérebro (Mussismilia braziliensis), que serve de refúgio para diversas espécies de tartarugas ameaçadas de extinção. É um dos melhores pontos de mergulho da América do Sul. As ilhas, por sua vez, são tomadas por ninhos de aves marinhas, como a grazina do bico vermelho, as fragatas e os atobás. O lugar ainda é o berçário de baleias jubarte que migram da Antártida, entre os meses de julho e novembro, para acasalar e ter filhotes. Os passeios para Abrolhos acontecem, sobretudo, nesse período, são realizados em catamarãs, em viagens que levam em torno de 3 horas a partir do cais de Caravelas. A chance de encontrar baleias pelo caminho é de quase 100%. O desembarque, porém, só é permitido na Ilha da Siriba, que tem uma trilha demarcada para observação de aves.
Lençóis Maranhenses – Maranhão
O vento sopra no litoral do Maranhão e carrega as finas areias das dunas dos Lençóis Maranhenses. O cenário é o mais intrigante do Brasil. Parece um imenso deserto de areia fofa, com cerca de 80 km de extensão, mas com praias ao lado e abundância de chuvas. Tal paisagem foi formada graças ao trabalho paciente da natureza, que, ao longo de milhões de ano, foi jogando, com ventos generosos, a areia da praia para o interior. O nome do parque nacional, criado em 1981, vem da ondulação do imenso areal, que lembra um lençol desalinhado sobre a cama. Nos primeiros meses do ano, a água das chuvas faz surgir lagoas de águas cristalinas nas depressões entre uma duna e outra. Na estiagem, a partir de agosto, as lagoas secam. Só voltam a encher com as chuvas do ano seguinte. O turismo na região acontece entre os meses de abril e julho, quando as lagoas estão cheias. Nessa época, aviões monomotores sobrevoam a área e os veículos 4 x 4 partem da cidade de Barreirinhas, atravessando as acidentadas estradas do parque nacional, para levar os visitantes para caminhar e nadar nas lagoas azuis dos Lençóis.
Foz do Iguaçu – Paraná
Por abrigar uma das sete maravilhas naturais do planeta, o Parque Nacional do Iguaçú, na fronteira do Brasil com a Argentina, é, de longe, o mais visitado do País. Recebe cerca de um milhão e meio de turistas por ano, que vão conhecer de perto a força e a beleza das cataratas do Rio Iguaçu. Desde 1999, o parque está sobre concessão privada, o que se mostrou uma excelente alternativa para melhorar a qualidade dos serviços turísticos. É o parque brasileiro com a melhor infraestrutura para receber visitantes. Isso inclui transporte em ônibus por estrada asfaltada, restaurante de muito bom nível (o Porto Canoas) e 1,2 km de passarelas e mirantes que funcionam como camarotes para o show das cataratas. Em épocas chuvosas, entre outubro e março, o volume de água é maior e 275 cachoeiras são formadas, muitas com mais de 80 metros de altura, espalhadas ao redor de um cânion em forma de ferradura com cerca de 3 km de extensão. Os estrangeiros, que são 30% dos turistas no parque, vêm de longe para contemplar esse espetáculo da natureza. Também é possível curtir o visual do alto, em passeios de helicópteros. O mais radical, porém, é o Macuco Safári, realizado em lanchas infláveis que vencem a correnteza e levam os aventureiros até debaixo das quedas, literamente.
Fernando de Noronha – Pernambuco
A 345 km de Natal e 545 km de Recife, ao sabor das correntes marítimas que desenharam suas praias, Fernando de Noronha é uma joia em meio ao Atlântico. A natureza foi caprichosa ao desenhar suas 15 praias, onde o mar verde-esmeralda une-se a curiosos monumentos rochosos, como o Morro do Pico, com 323 metros de altura, ou o Morro Dois Irmãos. A ilha é o topo de um vulcão submarino que emergiu do fundo do mar a 4 km de profundidade. Suas águas abrigam muita vida marinha, o que a torna um dos melhores lugares do mundo para o mergulho. Mas nem é preciso ser mergulhador credenciado, mesmo no raso, usando apenas máscara e snorkel (especialmente na Baía do Sueste ou na Baía dos Porcos), é possível ver tartarugas, cardumes e até filhotes de tubarões. Os moradores mais famosos são os golfinhos, que visitam a ilha às centenas todos os dias. São facilmente vistos em passeios de barco, saltando ao redor das embarcações. Do mirante da Baía dos Golfinhos, os turistas podem assistir às manobras dos bichos pela manhã. Na Praia do Atalaia, quando a maré baixa, os recifes formam uma piscina natural. Quem mergulha ali se sente em um aquário natural cheio de peixes. É verdade que Noronha mudou bastante nas últimas duas décadas, ganhou pousadas de luxo, bons restaurantes e conta atualmente com cerca de 3,5 mil moradores fixos. Mas a maior parte da ilha está dentro da área do parque nacional, criado em 1988, e, portanto, sob rígidas leis ambientais.
Anavilhanas – Amazonas
A cerca de 150 km de Manaus, na altura da cidade de Novo Airão, o Rio Negro alarga-se e chega a ter 20 km de uma margem a outra. Nesse trecho, um imenso arquipélago fluvial, com 400 ilhas, toma conta da paisagem, que, vista do alto, parece um grande labirinto verde desenhado sobre as águas escuras do rio. O Parque Nacional de Anavilhanas, criado em 1981, abraça esse inusitado trecho do Rio Negro e suas centenas de ilhas. A região pode ser visitada a partir da cidade de Novo Airão, ou hospedando-se em alguns dos hotéis de selva às margens do Rio Negro, como o Anavilhanas Jungle Lodge. A paisagem da região muda bastante conforme a época do ano. Entre setembro e fevereiro (na estação de seca), o nível da água do rio baixa e belas praias de areia branca surgem ao redor das ilhas. Entre março e agosto (na cheia), a água encobre o solo das ilhas e os barcos conseguem passear por dentro das florestas alagadas. Nesses passeios é bastante comum encontrar botos-cor-de-rosa. Nadar no Rio Negro, pescar piranhas, fazer trilhas pela mata e conhecer comunidades ribeirinhas são os principais passeios oferecidos aos turistas.
Aparados da Serra – Rio Grande do Sul
Há 130 milhões de anos, a terra tremeu e a crosta de basalto do solo rachou-se poderosamente como se tivesse sido “aparada” por uma lâmina de navalha, dando origem a um conjunto de paredões rochosos de até 900 metros de altura. O Cânion do Itaimbezinho é o mais famoso deles, com 5.800 metros de extensão e uma fotogênica cachoeira bem próxima ao seu vértice. O Parque Nacional de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, é a terra desses grandes cânions brasileiros. Está localizado nas proximidades da cidade de Cambará do Sul, a 115 km de Gramado. A paisagem é, sem dúvida, a mais impressionante da Serra Gaúcha. E, além dos cânions, o parque nacional abriga campos de vegetação e florestas de araucárias preservadas. A facilidade de acesso é uma das principais vantagens. O passeio em Aparados é realizado em caminhadas leves por trilhas autoguiadas que seguem pela borda do Itaimbezinho e conduz a diversos mirantes. A Trilha do Vértice tem 1,4 km de extensão, e a Trilha do Cotovelo, 6 km ida e volta. Para os mais aventureiros, a melhor alternativa é fazer a Trilha do Rio do Boi, que percorre o interior do cânion, na parte baixa, em um trajeto de 14 km, a partir da cidade de Praia Grande.
Serra da Capivara – Piauí
O Parque Nacional da Serra da Capivara, no interior do Piauí, é um dos mais importantes Patrimônios Arqueológicos da Humanidade. A região, próxima à cidade de São Raimundo Nonato, abriga cerca de mil sítios arqueológicos, onde foram encontrados os vestígios mais antigos do homem das Américas. São ossadas de 60 mil anos, utensílios feitos de pedras lascadas, restos de carvão de fogueiras e uma infinidade de pinturas rupestres. Cerca de 200 sítios arqueológicos são abertos para visitação. A infraestrutura do Parque Nacional da Serra da Capivara, criado em 1979, inclui caminhos com passarelas para os visitantes e um museu com peças encontradas na área. Além do tesouro arqueológico, o parque protege uma exótica vegetação de caatinga e muitos animais que sobrevivem no clima semiárido da região, como iguanas, gatos-do–mato, jaguatiricas e gaviões. A paisagem, por sua vez, é marcada por formações rochosas com aspectos de ruínas e paredões de contornos estranhos moldados ao longo de 60 milhões de anos, como a Pedra Furada e o Caldeirão dos Rodrigues, que, visto do alto, assemelha-se a um grande labirinto de pedra.
Monte Roraima – Roraima
Na fronteira do Brasil com a Venezuela, um conjunto de montanhas em formato de mesa ergue-se nas bordas da floresta amazônica. São os chamados tepuys, considerados sagrados pelos índios que habitam a região. O Monte Roraima, com 2.875 metros de altitude e 84 km de extensão, é um dos maiores desses tepuys. O parque nacional, criado em 1989 , protege suas paisagens que serviram de inspiração ao escritor inglês Conan Doyle para escrever o romance O Mundo Perdido, um clássico na literatura de aventura lançado em 1912. No platô do Monte Roraima, há curiosas formações rochosas, lagos, cachoeiras, cavernas e uma fauna e flora endêmicas adaptadas ao ambiente frio e estupendamente úmido da montanha. Os aventureiros que vão ao Monte Roraima precisam encarar um treeking de 5 a 7 dias conduzidos por índios Pemons da aldeia venezuelana de Paraytepuy. Muitos que fizeram a escalada – que não exige cordas, apenas um bom par de pernas – dizem que há uma energia especial nessa jornada. No ponto mais alto do Monte Roraima, está o marco das três fronteiras: Brasil, Guiana e Venezuela.
Itatiaia – Rio de Janeiro
O primeiro parque nacional do Brasil, criado em 1937, guarda a parte mais importante da Serra da Mantiqueira, uma região adorada por trekkers e montanhistas que se aventuram pelos caminhos do Pico das Agulhas Negras, um dos mais altos do País, com 2.787 metros de altitude. Próximo a ele está o Pico das Prateleiras, que é ainda mais fotogênico e pode ser escalado sem auxílio de cordas. Nele, as formações rochosas arredondadas assumem formas que lembram animais, a exemplo da Pedra da Tartaruga. Uma estrada, construída na década de 1930, dá acesso às trilhas que levam às duas montanhas e também ao Abrigo Rebouças, o mais antigo abrigo de montanha do Brasil, inaugurado em 1950. Já nas escarpas das montanhas, na parte baixa do parque, a cerca de 400 metros de altitude, uma densa floresta atlântica envolve nascentes e grandes cachoeiras, como a Véu de Noiva. Uma sinuosa estrada asfaltada, que começa a partir da cidade de Itatiaia, conduz serra acima. No caminho, há diversos hotéis imersos em meio à mata, como o Donati e o Ypê. As trilhas para as cachoeiras são curtas e autoguiadas, bastante procuradas nos meses de verão. O inverno também atrai visitantes aos hotéis. Nessa época, o frio é intenso e a temperatura pode baixar facilmente a zero grau. O último registro de neve, porém, aconteceu em 1988.
Por Tales Azzi
Fotos: Shutterstock