Autor: Marilane Borges – Colaboração: Thierry Joly
Flanar por Paris, locomovendo-se principalmente a pé. O verbo, que vem da palavra francesa flâneur, usada pelo poeta Charles Baudelaire (1821-1867) para descrever uma pessoa que caminha por um lugar, observando tudo e todos, não poderia ter melhor uso do que na cidade. É que esse jeito de explorar a capital francesa permanece como a melhor forma para topar com as construções e monumentos que dão corpo e alma à eterna Cidade Luz. E mais: as andanças, despretensiosas ou com um certo planejamento, também ajudam a revelar pequenos tesouros que os moradores mantêm com um quê de segredo.
A sugestão de Viaje Mais é que você abra mão dos passeios dos ônibus turísticos e só use o metrô quando estiver cansado. Ou quando inventar de sair da Catedral de Notre-Dame com destino ao boêmio bairro de Montmartre, por exemplo, que ficam em regiões completamente diferentes.
A proposta é que, a partir de um ponto conhecido, como a Torre Eiffel, a Avenue Champs-Élysées e o cabaré Moulin Rouge – ou mesmo uma estação de metrô importante –, você perambule, zigue-zagueie, vá, venha, descubra e revisite toda a vizinhança onde está.
Cinco desses agradáveis percursos estão explicados, tintim por tintim, nas próximas páginas. À parte os emblemáticos cartões-postais que todo mundo quer ver e rever em Paris, tais roteiros revelam lojas, pracinhas, restaurantes, jardins e outras valiosas atrações que, muitas vezes, passam despercebidos quando vistos da janela do ônibus ou quando se anda e consulta o mapa da cidade ao mesmo tempo.
Se aceitar nosso convite, o planejamento de suas caminhadas começa agora. E quando estiver em Paris, andando para lá e para cá e mantendo os olhos bem abertos e os demais sentidos apurados, você não terá dúvida de que a cidade é mesmo absurdamente linda, charmosa e empolgante.
Da Torre Eiffel até Saint-Germain-des-Prés (arrondissements 6 e 7)
Os cartões-postais e as grandes atrações de Paris, como seus icônicos museus e igrejas, espalham–se por diferentes pontos da cidade. Essa variedade de regiões turísticas poderia significar uma divisão no fluxo de visitantes, ou seja, enquanto uma parte deles está no alto da Torre Eiffel, outra parte está na Catedral de Notre-Dame ou no Museu do Louvre, e por aí vai. De fato, isso até ocorre, mas, o ano todo, invariavelmente, os points de Paris são “invadidos” pelos turistas.
O negócio, então, é se planejar para comprar o ingresso das grandes atrações antecipadamente, caso da Torre Eiffel, que tem bilhetes vendidos pelo ticket.toureiffel.fr, em que se escolhe dia e horário do passeio. Nesse esquema, ficar numa fila ainda será inevitável, mas a espera é mais curta, o que se transforma em tempo extra para desfrutar as fabulosas vistas reveladas por esse cartão-postal por excelência da Cidade Luz.
Ao descer da torre, comece este roteiro pela Rive Gauche, a margem esquerda do Rio Sena, cujos bairros e o estilo de vida de seus moradores são a perfeita tradução da art de vivre (arte de viver) dos franceses. Serão 7 km de andanças – e muitos pit stops – até Saint-Germain-des-Prés, o bairro de ares intelectuais e dos cafés imortalizados pelos artistas e escritores existencialistas. Pode parecer muito, mas, quando se tem as belezas de Paris surgindo em sucessão, tudo o que se quer é descobrir mais e mais.
Então, atravesse o Champs de Mars (Campo de Março), o amplo gramado que ladeia a torre, em direção à École Militaire (Escola Militar, não aberta à visitação). Ao chegar ao final dessa área verde, dê uma olhada no Le Mur de la Paix (Muro da Paz), cujas colunas e paredes de vidro contêm inscrições da palavra paz em vários idiomas. Pegue à direita para cair na Avenue de La Motte Picquet. Nela, dois cafés de esquina acenam charmosamente para uma parada, o La Terrasse e o Le Tourville, que são uma oferta irrecusável nos dias de verão.
Se não parou em nenhum deles, mantenha-se à esquerda, ainda na calçada do La Terrasse: você encontrará um supermercado Carrefour excelente, famoso pelas frutas fresquinhas, e, a menos de cem metros dali, a butique de chocolates e guloseimas Lenôtre. Dependendo do dia da semana, a Rue Cler, também nesse pedaço, oferece uma feira com produtos de várias regiões francesas – e alguns comerciantes oferecem degustação.
Continue na La Motte Picquet até chegar ao Hôtel National des Invalides (Palácio dos Inválidos), a portentosa construção de cúpula dourada que guarda o túmulo de Napoleão Bonaparte, bem como o Musée de l’Armée (Museu do Exército). Atravesse o pátio principal e siga as indicações para a Tombe de Napoléon (Túmulo de Napoleão), num outro conjunto de construções. É numa delas que estão os restos mortais desse grande conquistador francês.
A ideia é aproveitar que o Museu Rodin, o qual ocupa o ateliê e a residência que pertenceram a esse notório escultor, está nas proximidades para você dar uma passada lá. É nos jardins do complexo que ficam os originais de O Pensador e Porta do Inferno, duas de suas mais famosas esculturas. No interior da casa também ficam expostos trabalhos de Rodin, além dos de seus alunos, principalmente Camille Claudel, que por anos foi amante do escultor.
Para ir até lá, pegue o Boulevard des Invalides. O muro que você verá do outro lado da rua, assim que sair do Palácio dos Inválidos, já faz parte do Museu Rodin. Ainda da rua, espie pelas grades e comece a apreciar O Pensador, ou melhor, as costas da escultura, emoldurada pelos arbustos do jardim, aonde se chega pela Rue de Varenne.
Caso dispense a ida ao museu e decida conhecer apenas esse formidável espaço artístico ao ar livre, o ingresso custa € 1. Ao ver de perto as esculturas de Rodin, que se “casam” perfeitamente com o ambiente – o qual ganha cor e perfume no verão, quando brotam as rosas –, é impossível não incorporar um pouco da inspiração que o artista tirava dali. Se quiser descansar e comer algo (ou começar a desenhar e escrever, como fazem os visitantes mais encantados), há um simpático café, além de uma lojinha em que todos os produtos fazem alusão aos trabalhos de Rodin.
– Rumo a Saint-Germain
Ao sair do museu, volte para o Boulervard des Invalides, tendo os jardins do escultor à sua esquerda e o Palácio dos Inválidos à direita, e prepare os pés para prosseguir a caminhada até o delicioso arrondissement de Saint-Germain-des-Prés.
Siga em frente e você chegará, sem dificuldade, à Rue de Babylone, que, apesar do clima ordeiro, conta com diversos restaurantes, lojas tipicamente francesas, floriculturas, casas de chá e até um cinema com ares de palácio e arquitetura e decoração chinesas, o La Pagode.
Conta a história que o lugar foi erguido, em 1896, como um presente de Francois-Emile Morin, então dono da loja de departamentos Le Bon Marché, há 160 anos na ativa, para reconquistar a mulher. Numa época em que o orientalismo estava na moda, Morin não poupou esforços para levantar um verdadeiro palácio oriental em Paris.
La Pagode foi salvo da demolição em 1970 e conta com duas salas de cinema decoradas com extravagância, onde o espectador pode facilmente se distrair por conta das pinturas, tapeçarias, vitrais, lustres e, em especial, do exuberante quarto japonês.
O local é um dos poucos templos do cinema independente em Paris. Mais do que isso, é um agradável pit stop para tomar um chá, servido no jardim, aberto ao público, ou apenas para apreciar a bela fachada oriental. Você deve pedir as bebidas no caixa do cinema e alguém virá servi-lo no jardim, que comporta poucas mesas.
– Luxo à moda parisiense
A Rue de Babylone também é o endereço do Le Bon Marché, a loja de departamentos de estilo art déco cujo proprietário mandou erguer o suntuoso La Pagode para a mulher. Um dos mais antigos, tradicionais e luxuosos centros de compras de Paris – pense numa grife dos sonhos e é certo que ela terá ao menos um cantinho lá –, a megaloja coloca, até o fim de junho de 2013, o Brasil em evidência, por meio do Brésil Rive Gauche. Esse evento expõe e vende produtos de grandes marcas verde-amarelas de moda, gastronomia, design, acessórios e lifestyle. Se não tiver bala na agulha para gastar em euros nesse templo do luxo, parta para as pequenas lojas da mesma Rue de Babylone.
Para um momento de sossego, mantenha-se na calçada da direita da Babylone, e entre num jardim meio escondido, na altura do número 34: ali, crianças se esbaldam nos brinquedos e, se for horário de almoço, pessoas que trabalham nas redondezas vão estar comendo seu lanche. Outra parada pode ser na Capela de la Médaille Miraculeuse (Medalha Milagrosa), na Rue du Bac, ao lado do Le Bon Marché, que faz sucesso entre católicos brasileiros por conta da tal medalhinha milagrosa.
Retome o objetivo de chegar ao miolo do burburinho de Saint-Germain por meio da Rue de Sèvres. Essa via cruza o Boulevard Raspail, que vale um desvio por conta do Hotel Lutetia, um dos mais antigos e tradicionais de Paris, que tem algumas suítes decoradas por artistas brasileiros, como os irmãos Campana e Vik Muniz.
Na volta à Rue de Sèvres, você logo topará com uma das mais belas lojas da marca de altíssimo luxo Hermès, construída na antiga área da piscina do Hotel Lutetia e da qual conservou azulejos, colunas e pisos, sem abrir mão da atmosfera sofisticada que caracteriza a grife. O local é refinado, mas não se intimide: os passantes podem entrar e tirar fotos, mas é de bom–tom fazer isso com discrição.
Bem perto dali, procure pelo número 6 da Rue Récamier, casa do Espace Fondation EDF. Ele merece ser visitado por conta das ótimas exposições gratuitas, que tratam de temas universais de uma forma surpreendente. No final da rua, há um jardim “secreto” escondido entre os prédios, um daqueles endereços que praticamente só os moradores conhecem – e, agora, também os leitores de Viaje Mais.
– Ar intelectual em Saint-Germain
Para continuar seguindo em direção a Saint-Germain-des-Prés, mantenha-se à direita na Rue des Sèvres. Você avistará, do outro lado da rua, a escultura Centauro, de 1985, metade homem, metade animal e composta de vários elementos metálicos, especialidade do escultor francês César. Dali é um pulo até a Rue du Dragon, ruela calma, com muitos restaurantes e lojinhas, que desemboca no coração de Saint-Germain, que, de cara, apresenta aos forasteiros os dois míticos cafés do bairro, Les Deux Magots e Café de Flore.
Esses icônicos estabelecimentos seguem juntando turistas e moradores, intelectuais ou não, décadas depois de seu auge: a Segunda Guerra Mundial, quando eram o ponto de encontro de pensadores, artistas e escritores, como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Picasso, Samuel Beckett…
Hoje, quando se pisa em Saint–Germain, esses e outros cafés funcionam como um ímã de visitantes, porque, nos dias de calor, não existe lugar mais concorrido na cidade do que suas imbatíveis mesas na calçada. O difícil é conseguir um lugar. Se conseguir, não tenha pressa de ir embora, pois é uma delícia intercalar a pedida de uma bebida com a leitura de uma revista ou livro e a observação do dia a dia parisiense desfilando à sua frente.
Vizinha do Café de Flore e da austera Igreja de Saint-Germain-des-Prés, a mais antiga de Paris, a Louis Vuitton criou um espaço temporário totalmente dedicado à escrita. Influenciada pela atmosfera intelectual e cultural do bairro, a butique para escritores, decorada como um jardim à inglesa, acolhe todos os códigos da arte da correspondência e da escrita.
A loja, única no mundo, com produtos que recebem o logo LV e o de parceiros, segue os moldes de um gabinete de curiosidades do século 17 e traz papéis especiais, cadernos e outros produtos de papelaria, que, sob encomenda, também podem ser personalizados para o cliente. Uma bela homenagem à ancestral arte de desenhar e escrever, num mundo em que os mais jovens normalmente não se importam muito com isso.
Tentações pelo caminho
Com todo esse adorável clima cult e requintado, sem ser nada pretensioso ou afetado, é difícil sentir vontade de partir da região de Saint-Germain, mas o dia de andanças não terminou. Antes que você pense em encerrar a bateção de perna, é animador saber que tudo o que está previsto para ser feito daqui em diante é extremamente prazeroso, como se largar em bares e cafés e provar guloseimas que vão deixar saudade.
Com essa “árdua” tarefa em mente, continue seguindo o Boulervard de Saint-Germain-des-Prés em direção ao Odéon. Ao chegar ao cruzamento Carrefour d’Odéon, a opção de bares, cafés, cinemas e restaurantes é enorme – e todos são irresistíveis. Um que você pode testar é o Café Les Éditeurs, decorado com confortáveis sofás de veludo vermelho e uma coleção com cerca de cinco mil livros, que podem ser lidos in loco.
Na calçada oposta, a boa pedida são os crepes simplesmente fantásticos da L’Avant Comptoir. O local não tem mesas. Assim, você escolhe o que quer comer, faz o pedido no minúsculo balcão, ou mesmo pela janela da cozinha, que fica de frente para a rua, paga e depois sai comendo, andando e certamente emitindo “humm” pelas ruas até o crepe acabar.
Ainda nos arredores do Carrefour d’Odéon, há uma passagem antiga, com entrada nas proximidades do metrô Odéon, na Rue Saint-André des Arts, que reúne vários barzinhos, lojas de chocolate e bistrôs.
Além dos pratos deliciosos, o La Jacobine, por exemplo, oferece sobremesas e bolos caseiros de comer rezando. Nem pense em calorias ou regime – ali, não provar um docinho é que seria um pecado.
Para o happy hour, a escolha é difícil, mas você pode entrar no Pub Saint-Germain, na Rue de l’Ancienne Comédie. Ali, como em qualquer pub parisiense, prefira o vinho à cerveja, que nunca está na temperatura ideal para o paladar dos brasileiros. Isso evita uma discussão em que os garçons vão insistentemente tentar convencê-lo de que as “loiras” estão bem geladas, sim senhor.
Na mesma rua, uma sugestão para levar muito em conta é o Le Procope. Esse é um dos restaurantes mais míticos da cidade, fundado, acredite, em 1686, e na ativa desde então. Por suas mesas já passaram personalidades como Molière, Diderot, Voltaire e Benjamin Franklin, homenageados nos nomes que foram dados às salas que integram a construção. Você vai se encantar instantaneamente pela decoração à francesa e, levando em conta os padrões da capital, pelos bons preços do restaurante, que tem menus de almoço e jantar com preços fixos.
Assim, pode-se escolher entre uma entrada e prato principal ou este e uma sobremesa e, ainda, todas as opções e mais bebidas. Consulte os preços, que encontram-se no cardápio disposto à entrada do restaurante, porque há variações de valor entre o que é cobrado no almoço e no jantar. O local, que também conta com um ambiente que funciona como casa de chá, é mais famoso pela decoração e pelo contexto histórico e não especialmente pela gastronomia, que é simples e básica, mas deliciosa.
De Les Halles à Catedral de Notre-Dame (arrondissements 1, 2, 3 e 4)
Arte, história e modernidade se misturam igualmente neste agradável passeio. Da grande área verde de Les Halles, você vai partir para uma deliciosa caminhada passando por algumas das lojas e boulangeries (padarias) mais antigas de Paris, conhecer um pouco mais de arte contemporânea em um dos mais modernos museus e se deparar com construções magníficas, como o Hôtel de Ville, sede da prefeitura, e a Catedral de Notre-Dame. Esse roteiro estende-se por pouco menos de 4 km, e é para ser feito sem pressa, aproveitando o que cada esquina tem para mostrar.
Para começar o tour, desça na estação de metrô Les Halles. Inicie o dia com um passeio pelo parque construído no local do antigo mercado, que, por oito séculos, alimentou os parisienses, até perder esse posto, em 1969, para o mercado de Rungis. Além de um grande área verde, o espaço tem agora um enorme shopping center com múltiplas opções de restaurantes, cinemas, academias e piscinas públicas.
Inseparável de Les Halles, que deve terminar a revitalização somente em 2016, a Rue Montorgueil se desenvolveu seguindo as sucessivas transformações do mercado, dando ares modernos a essa área popular.
Para chegar à via, vá até a Igreja de Saint-Eustache, colada ao parque. Construída no início do século 16, no local de uma pequena capela, é uma mistura dos estilos gótico e renascentista. Ao mesmo tempo em que Napoleão III, em meados do século 19, encomendava novas reformas para o Les Halles, o arquiteto Victor Baltard assumia a restauração da igreja, avariada após o incêndio de 1844.
Em frente à igreja, é possível avistar um edifício circular com uma grande cúpula. O local, que em tempos antigos era destinado à troca de grãos, como milho, cevada e aveia, é, atualmente, a Bourse de Commerce (Bolsa do Comércio).
– Comércio secular
Após a visita à igreja, explore a Rue Montorgueil, coração comercial do bairro, onde ficam alguns dos comércios mais antigos de Paris. No número 38, por exemplo, o L’Escargot de Montorgueil, fundado em 1832, era o restaurante favorito de Proust, Guitry, Dalí e da atriz Sarah Bernhardt.
Continue em frente e, ao chegar à Rue Etienne Marcel, você vai estar literalmente na Paris do século 13, quando a cidade era protegida por torres, cujos vestígios ainda são visíveis. No número 20, há uma dessas relíquias: La Tour Jean-Sans-Peur (Torre de João sem Medo, em tradução livre).
Siga até o número 51 e depare–se com a mais antiga padaria de Paris, a Boulangerie-Pâtisserie Stohrer. O local leva o nome de seu antigo proprietário, que foi o padeiro, durante muitos anos, de Marie Leszczynska, mulher do rei Luís XV (1710-1774).
Em seguida, pegue a Rue Tiquetonne e vire na Rue Dussoubs. No número 23, funcionou um dos maiores bordéis do século 18, onde a Comtesse du Barry exercia seus dotes sensuais antes de se tornar a amante oficial de Luís XV, mas o lugar, hoje, é apenas um escritório. Continue em frente até a Passage du Grand Cerf, uma galeria agradável, cheia de lojas e bistrôs, que fecha aos domingos.
No final dessa passagem, entre na Rue Saint-Denis, uma das travessas principais da Rue Montorgueil, vire à direita e continue descendo até a praça Joachim du Bellay, também conhecida como Place des Innocents. Aqui, funcionava o cemitério Les Halles, fechado em 1780 após mais de mil anos de funcionamento. Nessa época, o local já estava superlotado, começava a contaminar o solo e a queda de um muro do cemitério decretou o seu fechamento. A partir de então, foi decidido que os cemitérios deveriam ficar fora da cidade. Foi assim que a construção dos cemitérios de Père Lachaise, Montmartre e Montparnasse se iniciou.
– Arte em grande estilo
Partindo da Place des Innocents, siga em direção à Rue Rambuteau e, de longe, você avistará uma construção moderna em forma de diagrama. É o Centre Pompidou, famoso pelas megaexposições de arte contemporânea. Suas características arquitetônicas o deixam com aspecto futurista e único. Você pode visitar gratuitamente alguns de seus espaços, como livraria e cafés, ou subir para petiscar algo no Georges, o refinado e elegante restaurante localizado no sexto andar.
Antes de entrar no Pompidou, dê uma olhada à sua esquerda e localize o elevador com o nome Georges na vertical e informe ao guarda que você vai ao restaurante. Mesmo que não seja para consumir algo, suba pelo elevador panorâmico e aproveite para ter uma das mais belas vistas dos telhados e monumentos de Paris. De graça. Ao descer pelas escadas rolantes, você chegará ao átrio do Pompidou, com sua butique, livraria, cafés e banheiros abertos ao público.
Ao sair do complexo, admire a Fonte Stravinsky, trabalho conjunto dos artistas Jean Tinguely e Niki de Saint Phalle, construída em 1983. O monumento lembra o trabalho musical do compositor russo do século 20, símbolo do ecletismo e do internacionalismo artístico. Na fachada em frente à fonte, a imagem gigante de Salvador Dalí observa tudo e todos com olhos bem abertos.
– Palácios e igrejas
Depois de circular por entre obras modernas e ousadas, é hora de descobrir algumas construções históricas. Pegue a Rue du Renard e vire na Rue de Rivoli até avistar um imponente edifício de estilo renascentista, que foi completamente destruído no século 19 após um incêndio e reconstruído seguindo fielmente seu projeto original. Esse é o Hôtel de Ville, belíssimo edifício que abriga a prefeitura parisiense e recebe grandes mostras gratuitas o ano inteiro. Para acessar a entrada das exposições, dê a volta e entre na Rue de Lobau, que fica nos fundos do imponente palácio.
Atravessando essa rua, você verá a Igreja de Saint-Gervais e, seguindo por ela, à esquerda, está a Place Badoyer, onde aos sábados há uma ótima feirinha. Subindo alguns degraus, você entra na Rue des Barres, um atalho para acessar as margens do Rio Sena. No percurso, há simpáticos restaurantes e antiquários. Fique atento aos cruzamentos e observe nas ruas perpendiculares algumas casas medievais, dos séculos 13 e 15. Mais alguns passos e você estará na Ponte Louis Philippe e, ao lado, verá os antigos livreiros que instalam suas bancas nas calçadas, às margens do Sena.
– As ilhas do Sena
Ao atravessar a ponte, você estará na Île Saint-Louis, uma das ilhas do Sena. Desça os degraus e acompanhe por um momento o fluxo do rio. No verão, muitos fazem piquenique nesse local, que fica alegremente congestionado. Subindo os degraus em direção à Rue Saint-Louis en Île, delicie-se com os famosos sorvetes Bertillon.
Passeie ao longo dessa rua que atravessa a Île Saint-Louis e concentra lojas que são uma gracinha. Os gourmets vão encontrar bons restaurantes e excelentes salões de chá. Observe ao largo a elegante igreja, cujo estilo combina perfeitamente com a arquitetura da rua. Vá até o número 22 no Quai de Béthune para ver onde Baudelaire viveu de 1842 a 1843. Mais poucos metros e vire à direita na Rue Bretonvilliers, onde há uma mansão de 1642 que permanece intacta.
Outra opção de passeio a partir do Hôtel de Ville é continuar em frente pela Rue d’Arcole, atravessar a praça da prefeitura e o Rio Sena pela Pont d’Arcole. Dê uma parada e aprecie a paisagem ao redor. Do outro lado da ponte, você está na Île de la Cité, a outra ilha do rio. Continuando sempre pela Rue d’Arcole, você perceberá que o movimento e o vaivém de pessoas só vai aumentado. É que essa é uma grande área turística, principalmente em função da Catedral de Notre-Dame.
A catedral medieval, cuja primeira pedra foi colocada em 1163 – em 2013, portanto, está chegando aos 850 anos –, levou dois séculos para ser concluída e os cristãos só puderam rezar a primeira missa em 1351. Todos os dias, há sempre uma multidão querendo conhecer seu interior. Entre na fila, visite a catedral e a torre e depois faça um tour no Square Jean XXIII, à direita da igreja e com o Sena à esquerda.
Pegue a Rue du Cloître Notre-Dame, que leva à ponte que desemboca na Île Saint-Louis. Permaneça ao longo do cais até as primeiras escadas. Continue em frente rumo ao Quai de Bourbon e aproveite que a Rue Mascate está próxima para observar na esquina o seu antigo e inusitado nome: Rue de la Femme Sans Teste, que significa, literalmente, Rua da Mulher Sem Cabeça, fazendo jus à escultura de um corpo – sem cabeça, evidentemente –, que aparece ali. Continue na Rue Saint-Louis en l’Île e desfrute mais alguns momentos num dos lugares mais românticos de Paris antes de fazer novas descobertas.
Esse trecho foi retirado da revista Viaje Mais, seção Capa, edição 144. Você confere toda a reportagem, com os demais roteiros, na revista.