O Hotel Toriba, um clássico em Campos do Jordão

Por: Tales Azzi

Fazia calor no último final de semana de janeiro. Mas à medida em que eu seguia serra acima rumo a Campos do Jordão já sentia, pela janelinha do carro, o ventinho frio da Mantiqueira. Próximo a entrada do Hotel Toriba, onde eu ficaria hospedado pelo final de semana, a neblina já encobria quase toda a pista. Passava de meia-noite quando eu cheguei ao hotel, que parecia repousar completamente com os hóspedes recolhidos aos quartos. Um pouco cansado, não pude reparar logo de cara na beleza do jardim e da arquitetura da casa-sede, um casarão branco em estilo alpino.

Segui rapidinho para fazer o check in na recepção, onde tive a primeira surpresa da viagem. Sobre a mesa, havia um porta-retratos com uma fotografia preto-e-branco que me pareceu familiar. Aproximei-me para olhar mais de perto. A foto era minha, tinha meu nome gravado nela. Era uma imagem da Pedra do Baú, um pico de granito que fica a 26 km de Campos do Jordão, que registrei durante uma reportagem para a revista Viaje Mais em 2007.

Fiquei surpreso, mas não fiz qualquer pergunta ao recepcionista. Subi ao quarto com as bagagens e lá encontrei uma carta sobre a cama com a seguinte mensagem: “Sr. Tales Azzi, sabemos que é fotógrafo e apaixonado por natureza. Você está no lugar certo”. Ao lado da carta, havia uma bolsinha azul, uma mochila em miniatura que tinha dizeres bordados: “Kit de Sobrevivência do Fotógrafo”. Dentro dela havia uma capa de chuva e um caixinha de Band-Aid, dois itens que sempre me acompanham nas reportagens que faço para a revista. Havia também outra mensagem: “Sr. Tales, para as suas próximas expedições, providenciamos esse kit de sobrevivência do fotógrafo. A mochila é pequena e leve, porque a bagagem reforçada já vai contigo: espírito de aventura, coragem, sensibilidade, paciência e um coração aberto”. Lembrei imediatamente da fotografia na recepção e pensei que talvez ela não estivesse ali à toa. Ainda que discretamente, teria sido colocada apenas para que eu a visse?

No dia seguinte, eu descobriria que toda essa gentileza na recepção de um hóspede faz parte de uma política do hotel que eles chamam de “ação de encantamento”. Nesse princípio, não basta apenas ter funcionários educados e deixar uma mensagem de boas-vindas no quarto. Eles querem saber quem é o hóspede e, mais importante, o que ele gosta, para deixar uma surpresa personalizada, única, que o faça sentir-se lembrado. É uma tarefa delicada para que a gentileza não seja encarada como invasão de privacidade. No meu caso, eu adorei a surpresa.

Pioneiro em Campos do Jordão

O Toriba foi o primeiro hotel de turismo em Campos do Jordão. Seu casarão branco e amadeirado, em estilo alpino, erguido em meio à mata da Serra da Mantiqueira está ali desde 1943, quando a cidade se emancipava da vizinha São Bento do Sapucaí e ganhava status de município. Erguido a 1850 metros acima do nível do mar, era, na época, o hotel mais alto do país. Em pouco tempo, o Toriba virou um símbolo de Campos do Jordão e referência na hotelaria da cidade. O toque alpino da arquitetura de sua casa-sede influenciaria toda a arquitetura de Campos do Jordão nas décadas seguintes.

O hotel é elegante e classudo, mas sem ser esnobe e espalhafatoso. Apesar da idade, está com tudo em ordem. Não vi em canto algum as marcas da passagem do tempo, reflexo dos contínuos investimentos dos proprietários na manutenção do local. Os ambientes são amplos, com móveis robustos em madeira, e transmitem a atmosfera de cabana chique de montanha. O salão principal, o bar e restaurante, tem paredes decoradas com afrescos de Fulvio Pennacchi, e ficam especialmente bonitos nos finais de tarde, quando a luz natural invade os salões por grandes portas de vidro que dão para o jardim.

Afrescos de Fulvio Pennacchi

Toriba tem um astral leve e agradável. E dizem ser assim desde tempos passados, quando famílias inteiras passavam ali longos períodos de férias. Todos os anos muitas famílias retornavam e se reencontravam, criando uma espécie de clube de montanha. O fotógrafo Klaus Mitteldorf, um dos maiores nomes da fotografia de moda e publicidade do Brasil, passou férias no Toriba durante toda a infância e adolescência. Foi nos jardins do hotel que Klaus fez suas primeiras fotografias com a câmera que ganhou dos pais.

Na casa-sede são 21 suítes, além de quatro chalés e quatro apartamentos externos. No total, são mais de dois funcionários por habitação, o que se traduz em qualidade de serviço. Os quartos do segundo andar da casa-sede, como o 202, onde me hospedei, oferecem enormes varandas com vista adorável para o jardim. Pontos positivos: o endredon fofíssimo, que eu gostaria muito de ter na minha casa; a ducha potente e ecologicamente correta, com água de nascente e aquecida em um sistema de caldeira que funciona por queima de biomassa (folhas e galhos caídos da mata); e o serviço de quarto 24 horas, que veio bem a calhar no meu caso, que cheguei tarde da noite e morrendo de fome.

Outro complexo, em meio ao jardim, integra a área de lazer: a piscina, o spa, as saunas, a academia e as quadras. Tudo fica conectado, de forma que se pode sair de um espaço para outro com comodidade. A piscina é muito especial, grande (com raia semi-olímpica), abastecida com água de nascente e aquecida na temperatura do corpo. Sobre um deque de madeira há espreguiçadeiras e quiosques. Na prateleira, há roupões e toalhas sempre à mão, basta pegar, o que todo mundo faz. O branco do roupão, com o brasão do Toriba gravado, é o traje típico dos hóspedes do hotel. Mesmo no inverno, a piscina mantém sua rotatividade de banhistas. E fica ainda mais gostosa no frio, soltando vapores em direção às araucárias centenárias do entorno.

Já a molecada se amarra na fazendinha, onde podem dar milho para os patos e ração para as trutas. Entre maio e junho, os monitores conduzem os pequenos para a cata de pinhão, e, em novembro, pode participar da tosquia das ovelhas. A fazendinha fica a 1 km da sede, com acesso por trilhas ou nas vans do hotel.

Mapa das trilhas do Toriba

Recanto de paz

Por ficar isolado, os hóspedes do Toriba desfrutam de paz e tranquilidade mesmo no auge da temporada de julho, quando Campos do Jordão ferve de turistas durante os eventos e festas do Festival de Inverno. O único barulho por ali vem do canto dos pássaros, do murmúrio das águas nos riachos da propriedade ou do estalar de lenha na lareira do salão principal. Mesmo estando a menos de 2 km do centro de Campos do Jordão, o Toriba é um sossego só. Mantém-se protegido do agito da cidade, por uma grande área verde de 328 mil metros quadrados, com parques ajardinados, araucárias e uma espessa mata atlântica nativa.

As trilhas permitem um contato com a mata atlântica

A paisagista Kátia Rys, que há 25 anos cuida dos jardins do hotel, coordena uma equipe de seis jardineiros responsáveis pelas podas e replantio de espécies nativas, como o manacá-da-serra e a bracatinga. Em agosto e setembro, o jardim está no auge do seu esplendor, com a florada de amor-perfeito, calêndula, goivo, orquídeas, boca de leão e narciso. Esses canteiros são visitados por uma infinidade de pássaros, alguns com avistamentos raros, como o papagaio-de-peito-roxo ou o tucano-de-bico-verde.

Pela mata atlântica do entorno, há 15 km de trilhas demarcadas, exclusivas para os hóspedes. Uma delas, a Trilha do Mirante (40 minutos para ir e voltar), leva a um ponto mais alto do morro, de onde se vê a cidade e a Pedra do Baú ao fundo.

Pães caseiros e trutas

As refeições são momentos especiais no Toriba. A começar pelo café da manhã, um buffet farto com pães caseiros e geléias preparadas na cozinha do hotel. O pão de queijo chega quentinho à mesa. Não pude deixar de provar o wafle com Maple Syrup canadense, servido a la carte. Há uma vantagem extra: o café da manhã vai até 11h, ou seja, não precisei almoçar nos dias que passei lá.

Café da manhã repleto de opções

Esticava as caminhadas nas trilhas e o banho de piscina até às cinco da tarde, quando os garçons, que lá vestem terno verde e gravata borboleta, começam a arrumar as mesas para o chá da tarde. Nesse momento, o pianista começa a tocar uma música clássica suave no salão principal. É a esperada hora do famoso chá da tarde do Toriba, uma singela refeição com pãezinhos e café, mas que ali ganha um estupendo ar de requinte.

Esquerda: O chá da tarde | Direita: Piano-bar no chá da tarde

Entrei na onda e pedi uma modesta cestinha de pães caseiros com manteiga e geleias (R$ 20). Mas é preciso dizer que os pães chegam quentinhos à mesa e que as geleias (Meu Deus!) são deliciosas. Eu poderia comer um vidro inteiro: são frescas, com pedaços de frutas. Por sorte, estão à venda na lojinha ao lado da recepção. Levei várias para casa.

As geleias à venda na loja

O grande momento, porém, é o jantar, tanto no restaurante Toribinha, que fica num chalé externo, especializado em fondues, quanto no Pennacchi, na casa-sede, que traz, no menu, pratos elaborados. Faz sucesso as trutas, que, aliás, são cultivadas em criadouro próprio do hotel. Há várias receitas com o peixe, como a truta grelhada com molho de amêndoas (R$ 59) ou a truta com molho de shitake e espaguete de legumes (R$ 61). Vale provar também uma entrada. Recomendo o salmão defumado com creme de queijo de cabra (R$ 33).

 

Truta com molho de amêndoas

Salmão defumado com queijo de cabra

O Spa L´Occitane

No domingo à tarde, após cochilar ao som gostoso da chuva, fui conhecer o spa da rede L´Occitane, onde são oferecidos 25 opções de massagens e tratamentos estéticos. Há massagens indicadas para insônia ou fadiga muscular; e outras específicas em partes do corpo, como a Back Massage (para as costas, ombros e pescoço) e a Cavaleiros e Ciclistas (com ênfase nas pernas). Contaram-me maravilhas sobre a tal massagem Provençal com Pindas, que é feita com almofadas quentes enchidas com lavanda e aveia para aromatização (R$ 360, com 1h30 de duração). Todas começam com um escalda-pés em água quente com sais de pinho e menta. Fiz uma massagem relaxante de uma hora que me fez dormir novamente sobre a maca (e eu tinha acabado de acordar). Ao final, fui relaxar ainda mais em um lounge envidraçado com vista para a mata.

Spa L´Occitane

Spa L´Occitane

Produtos L´Occitane à venda no spa

Produtos L´Occitane à venda no spa

Já quase flutuando após aquela massagem divina, lembrei que tinha planejado dar uma volta em Campos do Jordão. Mas para quê? Não tive vontade alguma de sair do hotel. Só queria voltar pra beira da piscina, pedir uma cerveja Baden Baden Cristal, da cervejaria local, e ficar mais um tempo ali, de roupão, hipnotizado com a beleza das araucárias.

Foi assim que descobri que o Toriba não é um simples hotel, desses onde você se hospeda para conhecer algum lugar. Ele é “o” lugar para onde você vai. É o destino da viagem, uma espécie de resort de montanha, autosuficiente. Passei dois dias inteiros ali sem colocar os pés no centro de Campos do Jordão, e foi a escolha certa. Dessa forma, pude aproveitar ao máximo meu tempo de estadia, que se alongou até às 21 horas do domingo, graças ao late checkout mais simpático que já vi. Fui embora com vontade de voltar.

Serviço:

As diárias no Toriba têm preços, de segunda a quinta, a partir de R$ 540 o casal, com café da manhã. Nos finais de semana, o hotel trabalha com pacotes (de sexta a domingo), com preços a partir de R$ 2.280. Nos chalés, as diárias têm preços a partir R$ 770 e pacotes de finais de semana, a partir de R$ 2580. Para crianças de 3 a 7 anos cobra-se 10% do valor da diária; e de 8 a 11 anos cobra-se 20%. O Toriba fica na Av. Ernesto Diederichsen, 2962, em Campos do Jordão.
Mais informações em www.toriba.com.br

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