Guia para curtir Buenos Aires de bairro a bairro

Buenos Aires voltou ao radar dos brasileiros. Há bons motivos para isso. Além do charme da cidade, das boas compras e dos passeios culturais, Buenos Aires é opção mais em conta para uma viagem internacional. Os valores pagos em hotéis e restaurantes não assustam o bolso já que o Real anda bem valorizado diante do peso argentino. A cidade também está com novidades, como a abertura de espaços gastronômicos, entre eles, o Mercado de los Carruajes, no Retiro; e o Mercat, em Villa Crespo. De quebra, as companhias aéreas brasileiras estão ampliando a oferta de voos para lá. A Gol informou que pretende dobrar o número de voos para a cidade no segundo semestre de 2022. Para a Latam, Buenos Aires é o principal destino de venda de passagens na América do Sul e teve aumento de 50% do número de passageiros no segundo trimestre do ano. Portanto, esse é um momento excelente para ir, ou voltar, para a alegre capital do tango e da parrila.

Centro

É o bairro que faz Buenos Aires lembrar a Europa, com avenidas arborizadas e construções históricas imponentes. Caminhar é a melhor maneira de conhecer esse pedaço que guarda os principais ícones da capital argentina. Um bom ponto de partida é a Plaza de Mayo, endereço da Casa Rosada, sede da presidência. Nos fins de semana, o prédio pode ser visitado em tours guiados que partem a cada dez minutos. Já a Catedral Metropolitana está sempre aberta. Era ali que o Papa Francisco celebrava missas quando era Cardeal de Buenos Aires. Construída em 1822, a catedral é marcada pela fachada com doze colunas que representam os doze apóstolos de Cristo.

A Casa Rosada, sede do governo argentino, na Plaza de Mayo – Foto: Simon Mayer/ Shutterstock


Perto dali, a Calle Florida, é uma das principais ruas de compras de Buenos Aires. São 12 quadras de comércio com lojas refinadas em um calçadão exclusivo para pedestres. Há muitas lojas de roupas e acessórios em couro. No miolo está o shopping Galerías Pacífico, o mais bonito da cidade, que ocupa uma bela construção de 1889. Um passeio ali pode ser uma tentação para as compras. Afinal, o câmbio anda favorável para nosotros brasileiros.


Para fazer um pit stop siga para a Avenida de Mayo, onde estão alguns bares lendários de Buenos Aires. O mais famoso é Café Tortoni, o mais antigo da cidade, em funcionamento desde 1858, com atmosfera bárbara. Já a Confeitaria London City, aberta desde 1954, era o preferido do escritor Julio Cortázar. Ali, em uma mesa cativa, ele escreveu a obra Os Prêmios. Outro clássico é o Los 36 Billares, do século 19, ideal para curte uma partidinha de sinuca.

O Café Tortoni, o mais antigo de Buenos Aires, desde 1858 – Foto: Sergio Schnitzler/ Shutterstock


Outra avenida importante dos arredores é a Corrientes, reduto de teatros. Nenhum, porém, brilha mais do que o Teatro Colón, uma sala de concertos espetacular com sete andares de camarotes, poltronas com estofado vermelho, balcões e uma hipnotizante cúpula pintada. Vale a pena conhecer, seja para um espetáculo – o teatro é a sede da orquestra filarmônica de Buenos Aires – ou apenas em uma visita guiada. Para finalizar os cartões-postais só falta conhecer o Obelisco, na Av. Nove de Julio. O monumento de 67 metros de altura foi inaugurado em 1936 no aniversário de 400 anos de Buenos Aires.

Onde Ficar no Centro de Buenos Aires



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Puerto Madero

É uma das regiões mais modernas de Buenos Aires e se desenvolveu muito desde que os antigos galpões do porto da cidade foram restaurados após décadas de abandono. Assim, os arredores do Canal do Rio da Prata e os prédios de tijolos aparentes, construídos no final do século 19, passaram a abrigar excelentes bares e restaurantes, entre eles o celebrado Cabaña Las Lilas, um dos mais procurados (e caros) para o delicioso churrasco argentino.

O calçadão de Puerto Madero e a Ponte de La Mujer – Foto: SC Image/ Shutterstock


Uma caminhada em Puerto Madero rende um passeio bastante agradável já que tudo fica perto, interligado por um calçadão com vista para o rio e a Puente de la Mujer, obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Chama atenção a Fragata Sarmiento, ancorada no canal, declarada Monumento Histórico Nacional e que funciona como museu flutuante. Feita em madeira, aço e bronze, a fragata de 85 metros de comprimento serviu de navio-escola da Marinha entre 1899 e 1938.

A Fragata Sarmiento foi transformada em museu da marinha – Foto: Goodluz/ Shutterstock


Um segredinho bem guardado do bairro é a Fortabat Art Collection, o belo museu que exibe a coleção privada de María Amalia Fortabat e reúne obras de artistas como Marc Chagall, Auguste Rodin, Andy Warhol, entre outros.
Puerto Madero também é o endereço dos cassinos, com a diferença que, ali, eles funcionam em barcos ancorados no Canal do Rio da Prata. Foi uma estratégia encontrada pelos empresários locais para burlar a lei anti-jogo de Buenos Aires. Como o rio pertence à União e não à cidade, as mesas de apostas e máquinas caça-níqueis podem funcionar em total legalidade. O Cassino Puerto Madero, por exemplo, funciona em um portentoso navio de três andares, com entrada cheio de luzes e cores, assim como se espera em qualquer casa de jogos.


Já o outro lado do canal, chamado Puerto Madero Este, tornou-se uma área muito valorizada na cidade há cerca de 15 anos, quando passou a ganhar hotéis e empreendimentos residenciais de alto padrão. Seu ícone é o Hotel Faena, um dos mais luxuosos hotel-design da América do Sul, projetado pelo francês Phillipe Starck. Repleto de objetos e detalhes vermelhos, paredes com pé direito alto, banheiras em mármore e móveis arrojados, o hotel foi o start do projeto imobiliário que mudou completamente a cara de Puerto Madero Este, de zona degradada para o bairro com um dos metros quadrados mais caros da Argentina.

Onde Ficar em Puerto Madero



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San Telmo

Boêmio por natureza, San Telmo é um dos bairros mais antigos da cidade. Tem ruas estreitas de paralelepípedos, arquitetura centenária e muito charme. A Plaza Dorrego é o coração do bairro. Pequena e encantadora, é cercada por casarões históricos transformados em cafés e restaurantes que colocam mesas ao ar livre. Não há melhor lugar em Buenos Aires para estar em um domingo, quando ali acontece uma alegre feira de antiguidades. O ambiente é alegre e com dançarinos de tango que se apresentam em plena rua para ganhar uns trocados.

Feira de antiguidades em San Telmo aos domingos – Foto: Gary Yim/ Shutterstock


Na esquina da praça está um café tradicionalíssimo, o Bar Dorrego, que incorpora a alma típica dos cafés portenhos, com sua fachada em vidro, sem muita pompa, o chão de ladrilhos e as mesas de madeira desgastadas. Apesar da simplicidade, gente muito famosa, como o guitarrista Eric Clapton, já esteve ali, como comprovam os retratos das celebridades nas paredes. Peça um cortado (café com leite) com alfajor e curta o ambiente.
Entre outros endereços clássicos para um almoço ou pit stop estão o La Poesia e o El Hipopótamo. Este último é uma velha bodega com garçons que trabalham ali há décadas servindo os mesmos pratos desde sempre, como as massas caseiras recheadas com peru, rúcula e nozes.

Mercado de San Telmo – Foto: Ivo Antonie de Rooij/ Shutterstock

Nas caminhadas pelo bairro, tome o rumo da Igreja de Nossa Senhora de Belém, a principal do bairro. Construída em 1734, ela ostenta uma bela fachada neoclássica e um pátio interno ladeado por arcos de pedra.
Só não se esqueça de retornar à noite em San Telmo, para vivenciar a tradição do tango. Há muitas casas que promovem shows com o ritmo musical de Carlos Gardel. É o caso do El Viejo Almacén, que oferece um espetáculo grandioso e orquestrado. O preço é mantido em dólar por conta da inflação argentina: US$ 70 por pessoa.

Outras têm ambientes intimistas, como o Bar Sur, um clássico de atmosfera vintage aberto há meio século, onde os dançarinos se apresentam no meio do salão, quase colados às mesas dos fregueses. Após o show, tem início a milonga, quando os frequentadores tomam conta da pista para dançar um tango tipicamente amador.

Show de tango intimista no tradicional Bar Sur – Foto: T.Photography/ Shutterstock

Onde Ficar em San Telmo



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Recoleta

O mais afrancesado bairro de Buenos Aires nasceu em berço de ouro: era refúgio dos aristocratas portenhos no século 19. Rodeado de luxo e palácios em estilo francês, o bairro cativa com ruas arborizadas, cafés cheios de charme, museus e hotéis cinco-estrelas. Não espere encontrar arranha-céus ou edifícios modernos, o bairro permanece residencial e salpicado de antigos casarões. O local de maior agito é a Praça Francia, que, nos fins de semana, abriga uma feira de artesanato. Muitos moradores curtem o evento no gramado enquanto dividem uma garrafa de vinho com os amigos e acompanham os shows gratuitos. Outra forma de curtir a atmosfera da Recoleta é ocupar uma das mesas do La Biela, outro café clássico de Buenos Aires, que tem mesas em uma área externa voltada para o burburinho da Praça Francia.


Pode parecer estranho, mas visitar o Cemitério da Recoleta, na lateral da praça, é o passeio turístico mais popular do bairro. Ali estão sepultados muitas personalidades, entre artistas e políticos. O ponto mais visitado é o mausoléu de Eva Perón, a primeira dama que ganhou o coração dos argentinos e faleceu em 1952. Já o cartão-postal mais conhecido fica na Praça Naciones Unidas: é a escultura Floralis Genérica, uma flor de aço com seis petálas de 23 metros de altura e 18 toneladas.

Cemitério da Recoleta, onde os turistas visitam o túmulo de Evita Perón – Foto: Elena Odareeva/ Shutterstock


Quem curte programas culturais pode explorar o Museu Nacional de Bellas Artes, que tem um rico acervo de arte clássica; ou ir à Livraria El Ateneo, que ocupa o interior de uma magnífico teatro. A área da plateia ganhou prateleiras para os livros; o palco virou cafeteria; e os camarotes ganharam poltronas de leitura. A Recoleta também é a principal região do comércio de luxo de Buenos Aires, com a maior concentração de lojas de grife da cidade. O principal templo das compras do bairro é o shopping Patio Bullrich, cujo prédio do século 19 preserva a arquitetura original dos tempos em que funcionava como casa de leilões.

Livraria El Ateneo, instalada em um antigo teatro – Foto: RM Nunes/ Shutterstock


Na hospedagem, a Recoleta guarda alguns dos hotéis mais sofisticados da capital argentina. É o caso do Four Seasons, que prepara um famoso brunch aos domingos, e do Alvear, que conta com um belo roof top bar (ideal para ir ao pôr do sol) e serve, no restaurante L’Orangerie, um elegantérrimo chá da tarde ao som de piano.

Onde Ficar em Recoleta



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La Boca

Um dos bairros mais tradicionais de Buenos Aires foi, no passado, um lugar pobre e periférico. Nasceu a partir do porto às margens do Rio Riachuelo, onde desembarcavam os imigrantes italianos. Sem dinheiro, os estrangeiros davam forma a casas usando tábuas de madeira e zinco, que eram recobertas com restos de tintas usadas para pintar os navios. Daí a mistura de tons multicoloridos das fachadas que viraram marca registrada do bairro e deu origem a uma das principais atrações turísticas de Buenos Aires: o Caminito.


A viela curta e estreita emoldurada pelas cores berrantes das casas virou o mais agitado corredor para turistas da cidade. Entre a multidão, há vendedores ambulantes, pintores, desenhistas, artistas performáticos e dançarinos de tango, todos em busca de alguns trocados. Vá, portanto, com paciência pois o assédio é grande. O Caminito é o cenário preferido para selfies e reúne muitas lojas de souvenires e pequenos restaurantes. Vá ao La Perla, um café clássico na esquina da rua.

Casas coloridas e a atmosfera descontraída do bairro La Boca – Foto: Milosk50/ Shutterstock


Outra atração em La Boca é a Fundación Proa, centro cultural de arte contemporânea de frente ao Rio Riachuelo. Moderno, o espaço conta com exposições temporárias de importantes artistas mundiais, uma livraria e um agradável café com mesas ao ar livre e vista para o rio.
Já os amantes do futebol podem fazer uma visita guiada ao estádio La Bambonera, casa do Boca Juniors, considerado um dos templos do futebol sulamericano. Há tours guiados para conhecer o estádio e sua história.

Onde Ficar em La Boca



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Retiro

Localizado entre o Centro e a Recoleta, o bairro do Retiro é um dos menores de Buenos Aires. Seu coração é a Plaza San Martín, uma das mais belas da capital argentina com gramados bem cuidados e monumentos em homenagem aos heróis da Guerra das Malvinas. Um deles é composto de 25 placas de mármore negro que exibe o nome dos 649 militares mortos em 1982 no combate contra a Inglaterra pela posse das Ilhas Malvinas, cujo nome oficial é Ilhas Falklands, já que o arquipélago permaneceu sob o comando dos ingleses.


Nos arredores da praça, há suntuosos casarões de arquitetura francesa, a exemplo do Palácio da Paz e do Palácio San Martín, ambos da primeira década do século 20 e que oferecem visitações guiadas. Entre eles está o edifício Kavanagh, de 120 metros de altura, que chegou a ser o mais alto da América do Sul quando foi inaugurado em 1935. Mas o prédio residencial não permite o acesso para turistas. Para ter um panorama do bairro do alto, a opção, portanto, é subir na Torre Monumental, um marco importante do Retiro com seu relógio semelhante ao do Big Ben londrino. Um elevador panorâmico leva até o sexto andar, de onde se pode avistar Retiro Mitre, com uma bela fachada de 1909.

A Praça San Martín, no coração do elegante bairro do Retiro – Foto: Aleksandar Todorovic/ Shutterstock


A novidade do bairro é o Mercado de los Carruajes, um espaço gastronômico que ocupa um edifício histórico de dois pavimentos e um terraço com jardins ornamentais. Apelidado de “Chelsea Market portenho”, o mercado foi aberto ao público em fevereiro de 2022 e conta com cerca de 40 lojas de produtos gourmet, docerias, restaurantes e cervejarias artesanais. Já a Calle Reconquista, exclusiva para pedestres, é o endereço de consagrados pubs da cidade, como o Buller, o The Kilkenny e o Down Town Matias. Estes dois últimos são estabelecimentos tipicamente irlandeses que servem cervejas e uísques de vários países.


Na beira do Rio da Prata está o terminal do Buquebus, ferry que faz a travessia de Buenos Aires para a cidade histórica de Colônia de Sacramento, no Uruguai. Leva pouco mais de uma hora de viagem e rende um excelente passeio bate e volta. Consulte horários e passagens em www.buquebus.com.

Onde Ficar no Retiro



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Palermo

O maior bairro de Buenos Aires surgiu no final do século 19. Era o mais afastado do centro. Foi planejado e concebido para ser o pulmão verde da cidade. Daí os seus belos parques, como o Rosedal, com seus extensos canteiros de rosas; o Jardim Botânico, projetado pelo paisagista francês Carlos Thays; e o Jardim Japonês, com viveiros de bonsai, casa de chá e eventos tradicionais japoneses. Juntos esses parques formam uma grande área de verde de 80 hectares e rendem um agradável passeio matinal, que fica ainda melhor se acrescentar uma ou duas paradas culturais.

Palermo é o bairro verde, com belos parques e boa vida noturna – Foto: Cavan-Images/ Shutterstock
O Planetário Galileo Galilei – Foto: Nessa Gnatoush/ Shutterstock


O Malba guarda obras de famosos artistas latino-americanos do século 20, como Diego Rivera, Frida Khalo, Botero, entre outros. O quadro modernista Abaporu, de Tarsila do Amaral, faz parte do acervo. Já o Museu Evita conta a sobre a vida da ex-primeira dama argentina Evita Péron através de objetos pessoais, fotos e documentos históricos expostos nos cômodos de antigo casarão de 1906.


A região conhecida como Palermo Soho, que ganhou esse nome por conta da semelhança com os bairros de Nova Iorque e Londres, é o pedaço mais charmoso e descolado do bairro. Por suas ruas de pedras arborizadas e cheias de grafites coloridos há restaurantes transados, bares e lojas de luxo. O epicentro é a Plaza Júlio Cortázar, que, durante o dia, abriga uma alegre feirinha de arte e, à noite, concentra os boêmios que lotam os diversos bares de mesas sobre as calçadas.


Para comer e beber considere o Ser y Tiempo (Goriti 5.910), que serve degustações de vinhos argentinos com ótimas tábuas de petiscos. O então o curioso The Uptown, um bar subterrâneo que recria o ambiente de uma estação de metrô de Nova York. Já quem leva café a sério não pode perder o LAB Tostadores. Buenos Aires está em alta.



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