Setúbal: natureza, vinhos e boa gastronomia portuguesa

Portugal também tem a sua “Serra do Mar”. Trata-se da Serra da Arrábida, cujas encostas formam os mais altos penhascos costeiros da Península Ibérica. Essas montanhas de matas preservadas, a 50 km ao sul de Lisboa, escondem, em pequenas enseadas, um lindo conjunto de praias acessadas por uma estradinha sinuosa que serpenteia a serra como uma espécie de “Rio-Santos lusitana”. A Praia de Galapinhos, uma pequena faixa de areia tomada de mata nativa e águas cristalinas já foi escolhida em reportagens como uma das mais bonitas da Europa. Esse cenário é o quintal da cidade de Setúbal.
Com cerca de 80 mil habitantes, Setúbal é uma cidade de grande porte para os padrões portugueses. Esparrama-se pelas margens da foz do Rio Sado. É dona de um porto comercial importante, mas não exibe ao turista aquele charme histórico que tanto encanta em outras cidades de Portugal. Talvez por isso há poucos visitantes passeando por lá, o que, em compensação, ajuda a preservar a atmosfera autêntica da cidade e do tradicional Mercado do Livramento.
Esse antigo mercado com paredes de azulejos é frequentado somente pelos próprios moradores de Setúbal. É bem interessante o setor de peixaria com barracas que colocam peixes imensos nas bancadas, como o atum e o peixe-espada, para serem cortados ao gosto do freguês. Outras barracas vendem peixes e frutos do mar exóticos: enguias vivas, percebes, caranguejos gigantes e o choco (este último é parecido com a lula). Não saia de lá sem degustar a famosa ostra de Setúbal. Dizem que não existe ostra melhor em toda a Europa, o que talvez justifique o preço caro do molusco: 2 euros a unidade.

Saindo do centro da cidade, não leva cinco minutos para ganhar a estrada que contorna a foz do Rio Sado e ganha as encostas da Serra da Arrábida. Ali começa o espetáculo com a vista alta das encostas verdes sobre o mar bem azul. É belíssima a vista da foz do rio, com suas ilhas arenosas que surgem na maré baixa (há passeios de barco para elas) e o desenho da Península de Tróia, uma faixa estreita de restinga de 25 km que forma a mais extensa praia de Portugal.

À margem desse caminho costeiro está o Convento da Arrábida, de 1542, erguidos por monges franciscanos que, durante séculos, viveram ali na clausura e em voto de silêncio. Os sacerdotes não podiam nem mesmo elogiar a paisagem, o que hoje todo mundo faz logo que chega ali. A visita vale não só pela arquitetura histórica mas também para conhecer sobre o estilo de vida dos monges medievais.

Vinhos e queijos

Setúbal também é conhecida pela boa gastronomia. Além das ostras, a cidade produz um queijo cremoso de ovelha divino e um tipo de vinho licoroso conhecido como “moscatel de Setúbal”, cuja técnica de produção é semelhante ao do vinho do Porto. As vinícolas estão concentradas no vilarejo do Azeitão, a 13 km do centro.
Vale conhecer a vinícola José Maria Fonseca, instalada em um belo casarão de arquitetura de 1834. Seu vinho mais conhecido é o Periquita, figurinha fácil em qualquer mercado brasileiro, produzido na casa de 3 milhões de garrafas ao ano. Mas há rótulos bem mais sofisticados, como o Apoteose, que passa 80 anos em barrica. Apenas 20 garrafas desse vinho são colocadas à venda a cada ano. Se quiser levar uma para casa terá que desembolsar 12.500 euros. A vinícola José Maria Fonseca oferece visitas guiadas com degustação de três provas. O valor do tour varia de 8 a 100 euros conforme a categoria dos vinhos servidos.

No centrinho do Azeitão, as cafeterias e mercadinhos vendem o célebre queijo do azeitão, que recebe selo DOC (denominação de origem). É saboroso, cremoso e vai muito bem com geléias ou uva. Nos restaurantes locais é possível prová-lo como petisco de entrada, é tão típico quanto o choco frito empanado, parecido com a lula só que mais macia e suculenta. Setúbal é uma delícia.