O Parque Arqueológico Vale do Côa, a cerca de 360 km de Lisboa, colado à região do Rio Douro, guarda um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo. Ali, em meio a um terreno árido e pedregoso estão cerca de 1.400 rochas repletas de gravuras datadas com até 30 mil anos. Trata-se do maior conjunto de arte paleolítica ao ar livre já descoberto.
O Museu do Côa, que fica no alto de um morro bem no encontro dos rios Douro e Côa, tem a função de contextualizar e explicar essas gravuras rupestres espalhadas em um raio de 30 km. Não há exposição de rochas no museu, apenas alguns poucos fragmentos. As apresentações são áudio-visuais e explicam a história e a origem das peças. “O museu de verdade está lá fora”, explica Mário Reis, o arqueólogo-chefe.
Dos 97 sítios arqueológicos existentes no Vale do Côa, apenas quatro deles estão abertos à visitação. O museu organiza passeios diários (a custo de 7 euros) para quem quiser ver de perto as gravuras. São realizados em veículos 4×4 e completado por trilhas curtas, que variam entre 200 metros e 2 km de extensão. O mais interessante é o sítio arqueológico Ribeira dos Piscos.
O problema é que os desenhos, que os homens pré-históricos realizaram com instrumentos de pedra, raspando as rochas de xisto, têm traços delicados e quase imperceptíveis. Por isso, os passeios costumam ser realizados bem no final da tarde, quando a luz é rasante, ou mesmo a noite, com a utilização de lanternas, que facilita a visualização. O tamanho das figuras varia de um centímetro até três metros e meio.

Apesar da dificuldade de observação, as gravuras do Côa impressionam pela qualidade artística. Não se tratam apenas de formas geométricas e rabiscos toscos de animais. São feitos com linhas complexas, senso de proporção e movimento. As representações de cavalo, boi, cabra e seres humanos são muito bem desenhadas. E o mais curioso é que, a partir de análises de laboratório para determinar a idade das gravuras, descobriu-se que o estilo artístico se manteve ao longo dos milênios, ou seja, o conhecimento dessa arte paleolítica teria sido transmitida de uma geração à outra. As gravuras foram reveladas ao público em 1995 durante a construção de uma barragem no Rio Côa. Estudos de impacto ambiental revelaram os sítios arqueológicos e a obra foi paralisada. O Parque Arqueológico do Vale do Côa foi declarado Patrimônio da Humanidade em 1998.
