Açores, um arquipélago de encantos em Portugal

É difícil encontrar os Açores no mapa. O conjunto de nove ilhas de origem vulcânicas estão no meio do Atlântico, entre a Europa e a América do Norte, a cerca de 1.500 km da costa portuguesa. Mas faz algum tempo que o mundo voltou os olhos para esse arquipélago, que se tornou um dos destinos turísticos mais cobiçados de Portugal. O motivo está na geografia espetacular das ilhas, com praias, vulcões e lagoas de águas termais. Há belas cidades históricas para conhecer, com a arquitetura típica que lembram as cidades coloniais brasileiras, a exemplo de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, além dos mergulhos no mar cristalino e dos passeios de barco para ver baleias e golfinhos.

A origem do nome Açores deve-se aos primeiros navegadores portugueses, que lá chegaram a partir de 1444, no início da era das Grandes Navegações. Açores é uma espécie de pássaro que habita as ilhas e sobrevoa os costões e as paisagens que se diferenciam bastante daquelas que se conhecem no continente português. As mais altas montanhas do país estão lá, a exemplo do Morro do Pico, na Ilha do Pico, que atinge 2.351 metros.
O litoral, por sua vez, é bastante rochoso e dominado por penhascos íngremes. Há poucas praias de areia. O banho de mar acontece principalmente em piscinas naturais, que são trechos de pedras que represam a água do mar. No interior, as ilhas são verdes e há muitos vulcões, alguns deles ainda ativos. A atividade geotérmica é notada nos campos que exalam fumarolas com cheiro de enxofre e nos parques com fontes de águas termais. Pequenos abalos sísmicos são comuns, mas quase imperceptíveis, notados apenas por aquele lustre que balança na sala de casa sem motivo aparente.
Cerca de 235 mil pessoas habitam as cidades e vilas, sempre erguidas ao longo da costa das ilhas. Muitas preservam a arquitetura histórica com belas igrejas e casarões. Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, foi declarada Patrimônio Mundial da Humanidade. A maior cidade é Ponta Delgada, na Ilha de São Miguel, onde vive mais da metade da população total do arquipélago.


Para conhecer as ilhas, os turistas alugam carros e rodam pelas estradas margeadas por hortênsias, que viram corredores arroxeados entre junho e setembro. Esses caminhos levam a praias, mirantes e lagoas que surgem na cratera dos vulcões adormecidos. Outros embarcam em lanchas para ver de perto as baleias que habitam aos montes aquelas águas cristalinas. Açores é um dos principais destinos do mundo para essa atividade, atraindo espécies como as cachalotes e a baleia-azul, o maior animal do planeta, que chega a ter 150 toneladas. Há muitos roteiros de trekking, mountain bike e incontáveiss pontos de mergulho.
Apesar da distância, chegar aos Açores é bem fácil. As duas maiores ilhas, São Miguel e Terceira, recebem voos diretos e diários da companhia aérea Sata (www.azoresairlines.pt). São duas horas de voo entre Lisboa e Ponta Delgada. Além disso, todas as ilhas contam com aeroporto próprio, que recebem os chamados “voos inter ilhas” da Sata, já que a grande distância entre elas torna inviável as viagens de barco em mar aberto. São 170 km de distância entre São Miguel e a Ilha Terceira, ou 520 km entre São Miguel e a Ilha do Corvo.

A Ilha de São Miguel

A maior e mais visitada ilha dos Açores encanta pelo vulcões e cenários costeiros

Na capital Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, os aviões da companhia Sata, que chegam diariamente do continente, dão um rasante sobre as casas antigas e imponentes igrejas do centro histórico. É bonita a vista da janelinha. A pista de pouso do aeroporto está bem ao lado da cidade, que é a metrópole local, com 57 mil habitantes. Ali desembarcam cerca de 70% dos turistas que chegam em busca de dias tranquilos em meio às belas paisagens da maior ilha do arquipélago dos Açores.

São Miguel se formou através de uma sucessão de explosões vulcânicas iniciadas a mais de oito milhões de anos. Tem diversos vulcões no interior cujas crateras represam lagoas. Há muitos mirantes, trilhas em meio aos bosques e parques com relaxantes fontes de águas termais. Para explorar a ilha é preciso contratar passeios ou alugar um carro para percorrer as estradas que levam aos principais pontos.

Quando ver um estacionamento à beira da pista é sinal que você chegou a algum mirante. O Mirante do Rei e a Grota do Inferno são dois dos mais conhecidos e dão vista para as chamadas Lagoas das Sete Cidades. São as maiores do Açores e estão no fundo de um vulcão inativo. O cenário é belíssimo por conta da estupenda coloração da água. Cada lagoa tem uma cor diferente, uma é azul e a outra verde. O motivo está na composição química da água que favorecem a proliferação de diferentes tipos de algas.

Mirante Grota do Inferno, com vista para o Lago das Sete Cidades


Ainda mais encantadora é a Lagoa do Fogo, cercada pelos paredões verdes da cratera do Vulcão do Fogo, bem no centro da ilha. O caminho até lá passa pelos pontos mais altos de São Miguel, de onde é possível avistar o mar de ambos os lados da ilha. Há dois pontos de parada no entorno da lagoa. Basta estacionar e curtir a visual dos mirantes. Há diversas trilhas também, que contornam a lagoa e levam a belos panoramas.

Lagoa do Fogo, formada na cratera de um vulcão inativo no interior da Ilha São Miguel – Foto: Shutterstock


Descendo pela estrada na encosta do vulcão, a água brota quente do chão em meio a um bosque formando pequenas cachoeiras e poços de água termal. É o Parque da Caldeira Velha. Os turistas chegam aos montes por lá todas as manhãs e se juntam nas piscinas naturais, que ficam pequenas para tanta gente. A entrada custa 8 euros por pessoa, com direito ao vestiário.

Piscina termal do Parque Caldeira Velha


Já na freguesia de Furnas, as fumarolas com cheiro de enxofre sobem ao céu em uma praça no centro da vila. Elas vêm das “caldeiras”, fontes de água fervente, aquecidas pelo magma do subsolo. Há várias delas. Um jardim com caminho pavimentado foi construído no entorno, onde os visitantes caminham e podem observar as fontes borbulhantes a uma distância segura. Os restaurantes da vila aproveitam o calor das entranhas da terra para fazer o prato típico local, o Cozido das Furnas. O preparo começa de madrugada, quando os cozinheiros depositam em buracos no chão as panelas lacradas e recheadas com carnes e legumes, que passam oito horas cozinhando no vapor de 80o C. Na hora do almoço, as panelas são retiradas e levadas aos restaurantes.

Passeios no litoral de São Miguel


Na costa da Ilha de São Miguel os pontos mais visitados são as praias, como o Areal de Santa Bárbara, Monte Verde e Água D’Alto Grande. Mas não espere encontrar barracas de praia e vendedores ambulantes tais como nas praias brasileiras. Nas praias da ilha, não há infraestrutura nas areias e cada turista precisa levar seu próprio guarda-sol e o que for consumir.
Em Vila Franca do Campo, a 25 km de Ponta Delgada, barcos levam a um passeio para um ilhéu que está a 500 metros da costa. São apenas 15 minutos de navegação. O ilhéu é o cume de um pequeno vulcão submarino cuja cratera em formato circular perfeito é inundada pela água do mar formando uma laguna. É possível nadar ali, a água é calma e cristalina. Mas é preciso reservar o passeio com antecedência pois existe um limite para visitação de apenas 400 pessoas ao dia. Outro passeio mar adentro leva à observação de baleias e golfinhos que habitam aos montes as imediações da ilha. É bem fácil encontrá-los até porque alguns animais ganharam sensores que emitem sinais para serem rastreados.

O Ilhéu de Vila Franca do Campo fica a 500 metros da costa: é a cratera de um vulcão submerso, onde é possível nadar

Parque Terra Nostra

A forte atividade geotérmica da ilha de São Miguel também rende relaxantes banhos de águas termais no Parque Terra Nostra, na freguesia de Furnas, onde uma imensa piscina é abastecida com água que brota de uma nascente a uma temperatura de 36o C. A cor da água é amarronzada, parece lama, mas é minério de ferro em suspensão. Vencido o receio inicial, quem entra na piscina do Terra Nostra dificilmente tem vontade de sair. E o parque conta com vestiários e um bonito jardim.

A Ilha Terceira

O charme da arquitetura histórica de Angra do Heroísmo e das vilas litorâneas

A Catedral da Sé na cidade de Angra do Heroísmo
A Catedral da Sé na cidade de Angra do Heroísmo

É a segunda ilha mais visitada dos Açores e também recebe voos diretos do continente. É bem menor do que São Miguel, tem apenas 30 km de comprimento e só duas cidades, Angra do Heroísmo e Praia da Vitória. A população de 55 mil habitantes vive toda na costa da ilha enquanto o interior é quase desabitado, tomado por pastagens e rebanhos de gado.
A capital Angra do Heroísmo é uma cidade encantadora. Surgiu no entorno de uma pequena baía de águas calmas, onde os portugueses ergueram, no século 16, duas fortalezas no alto dos morros para protegê-la. As ruas de pedras, as antigas igrejas e as casas de arquitetura típica portuguesa fazem lembrar Ouro Preto. Em janeiro de 1980, um terremoto pôs quase tudo abaixo. Mas a cidade foi rapidamente reconstruída de forma a restaurar seu aspecto original. Três anos depois, foi declarada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco.
Do mirante no Monumento à D. Pedro IV é possível ter um bom panorama do mosaico de casas com as torres das igrejas que despontam no conjunto. O destaque é a Igreja da Sé, erguida com pedras vulcânicas da própria ilha, com portas de madeira bem trabalhadas e sacadas em ferro forjado à mão. Na orla, em frente à Igreja da Misericórdia, está a estátua de bronze de Vasco da Gama. O navegador aportou ali no retorno da grande viagem às Índias.
Em uma simples caminhada é possível percorrer os principais pontos de Angra do Heroísmo, como a Câmara Municipal, o Teatro Angrense e o Mercado Público. A tranquilidade toma conta da cidade. Agito maior só em dia de festa de santo. No 13 de maio tem procissão para Nossa Senhora de Fátima, e no 24 de junho, dia de São João, é época de concertos, desfile folclórico e feira gastronômica.
No alto do Monte Brasil, ao lado da baía de Angra há outro bom ponto para observar a cidade. O mirante fica junto aos velhos canhões da Segunda Guerra, que foram instalados para combater os aviões alemães mas nunca dispararam um só tiro.
A partir de Angra do Heroísmo partem as estradas que levam a todo canto da Ilha Terceira. Uma delas segue rente a costa, tem extensão de 80 km interligando a cidade à vizinha Praia da Vitória e às diversas freguesias, como eles por lá os bairros que se espalham pela ilha. A cada dois minutos rodando por essa estrada costeira surge uma freguesia com casinhas históricas e uma bela igreja com fachada voltada para o mar. Rodar por essa via litorânea é a melhor maneira de conhecer a Ilha Terceira parando em pontos estratégicos.

Farol das Contendas


Na freguesia de Raminho, a visão de um trecho com grandes penhascos à beira-mar é maravilhosa. Para o banho de mar, a melhor opção é a freguesia de Biscoitos. Mas a costa da Ilha Terceira é rochosa e o mergulho ali acontece em piscinas naturais, com a água do mar represada pelas rochas. São as verdadeiras praias da ilha. No verão, lotam, mas, nas outras épocas do ano, o frio, o vento e a água gelada desencorajam o banho.
Em Biscoitos, um trecho dessas piscinas ganhou passarelas acimentadas e escadarias que tiram um pouco da naturalidade do cenário mas facilitam bastante o acesso. Também há banho de mar em Porto Martins e Negrito.

Piscinas naturais da Freguesia de Biscoitos


Já no interior a grande atração é o Algar do Carvão, a cratera de um vulcão inativo. Uma escadaria segue para as entranhas da terra por 100 metros de profundidade até a margem de um lago subterrâneo. Uma vez lá dentro, é impressionante olhar para cima para ver o buraco da cratera e os paredões rochosos cobertos pela vegetação. Nas proximidades estão as Furnas do Enxofre, um campo com fumarolas de atividade vulcânica que escapam entre fendas nas pedras. Uma passarela conduz a vários pontos onde é possível ver, e cheirar, o vapor vulcânico. O arquipélago dos Açores é cheio de encantos e belas surpresas.

Algar do Carvão, a cratera inativa de um vulcão que pode ser visitada

Onde Comer

Mesmo com a influência do mar, o arquipélago dos Açores tem fama de produzir a melhor carne de Portugal. Na Ilha Terceira, o prato mais típico é a Alcatra, em que a carne é cozida em panela de barro por 14 horas no calor da pedra do fogão a lenha para chegar à mesa desfiando de tão macia. Para entrada, todos os restaurantes servem o queijo de cabra fresco com um molhinho vermelho de pimenta que eles chamam de “massa de malagueta”, mas não arde.

Em São Miguel

Alcides – Famoso pelo Bife à Alcides (23 euros), uma carne suculenta frita com alho e pimentão. Fica no centro histórico de Ponta Delgada.

Louvre Michaelense – Em Ponta Delgada, o ambiente simula uma loja antiga. Vale provar os queijos da ilha com mel. Entre os pratos principais, uma dica é o linguine com lulas e bochecha de porco (14 euros).

Miroma – Um bom lugar para provar o Cozido das Furnas (23 euros para duas pessoas), o prato com carne e legumes que é assado embaixo da terra com o vapor quente das fumarolas vulcânicas. Na freguesia de Furnas.

Bar Caloura – O mais disputado da ilha, vive lotado e tem sempre fila de espera. Mas vale a pena. O restaurante na beira-mar da freguesia de Caloura serve peixe grelhado recém-saído do mar, além das lapas, um marisco típico da ilha preparado na grelha e servido com caldo de manteiga, alho e limão. O ambiente também agrada, com as mesas sobre um terraço para almoçar vendo o mar e ouvindo o barulho das ondas.

Queijada do Morgado – Uma pequena e tradicional fábrica artesanal de queijada, um doce conventual português à base de gema de ovo com recheio de queijo e uma massa fininha. Fica em Vila Franca do Campo. Custa 1,40 euro a unidade.


Na Ilha Terceira

Oficina da Esquina – Do famoso chef português Vitor Sobral, que preza pelo uso de ingredientes frescos e com sistema de congelamento rápido de peixes e frutos do mar para conservar o sabor. Vale provar a cataplana de bacalhau com camarão (38 euros) ou o polvo ao forno com batata doce e tomates 918 euros).

Quinta do Martelo – Restaurante instalado em uma antiga mercearia do século 18. A entrada preserva o balcão e o cenário da antiga venda. O cardápio traz pratos tradicionais da ilha. Entre os petiscos há favas, queijo de cabra e azeitonas. É um bom lugar para provar a típica Alcatra.

Caneta – Na freguesia de Altares, no norte da ilha, serve comida regional com carne do tipo angus. Alcatra regional, Costelão e a Espetada na Brasa são algumas das opções. Já o peixe depende do que os pescadores trazem no dia, podendo ser preparado frito, na brasa ou em caldeiradas.

Sabores do Atlântico – Ambiente simples, com preço bom e pratos deliciosos. O melhor lugar da Ilha Terceira para comer peixe. Não tem cardápio. O garçom diz qual é o peixe do dia e o cliente escolhe a forma de preparo. Acompanha sempre arroz, batatas e salada. Fica na Praia da Vitória.

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