Os produtores de vinho em São Roque (SP) adoram lembrar que lá foram plantadas as primeiras videiras do Brasil, lá pelos idos do século 17, pelos bandeirantes paulistas. E a tradição só cresceu com a chegada dos imigrantes portugueses e italianos no final do século 19. Esses europeus capricharam nos vinhedos nas encostas dos morros da região e construíram adegas que transformaram a cidade na “capital do vinho paulista” e no principal destino de enoturismo do estado, pertinho de São Paulo, a apenas 60 km de distância.
Mas antes é preciso esquecer aquele vinho do garrafão, tá? Claro que ainda tem muito vinho de mesa adocicado sendo produzido por lá, mas a maioria das vinícolas de São Roque evoluiu bastante nos últimos anos. Agora eles também cultivam as vitis viníferas e produzem vinhos finos de alta qualidade. Experimente só uma taça do Philosophia, um cabernet franc da Vinícola Góes, por R$ 184 a garrafa, e vai ver como o vinho de São Roque está em uma nova fase.
Hoje em dia, São Roque tem uma porção de vinícolas abertas para visitação, a maioria ao longo da charmosa Estrada do Vinho. Aos fins de semana, uns 20 mil turistas passeiam por ali, curtindo os bons restaurantes, chocolaterias, cervejarias artesanais e hotéis com chalés de frente pros vinhedos. Se você tá afim de uma escapada diferente e saborosa pelo interior de São Paulo, São Roque é a escolha certa.
Vinícola Góes
É a maior e mais conhecida vinícola do Roteiro do Vinho de São Roque. Ao redor dela, surgiu um complexo com dois restaurantes, bar, cafeteria e lojas de doces e licores. Eles circundam a casa-sede formando uma espécie de parque. Tanto que o nome oficial do lugar é Parque Vinícola Góes.
Há muitas formas de conhecer a propriedade da família Góes: com degustações, piquenique nos parreirais e até passeios de bicicleta. A sugestão é a chamada Degustação Premium (R$ 215), que começa com um tour de jardineira pelos vinhedos, onde os visitantes aprendem sobre curiosidades sobre o cultivo da uva, e segue com a degustação de cinco provas harmonizadas com embutidos, queijos e doces. A sommelier explica, de forma simples e interessante, o segredo para treinar o paladar para descobrir a combinação perfeita do vinho com a comida. Custa R$ 215 por pessoa.
Do lado externo, diante do jardim, vale conhecer o wine bar da Góes, onde o visitante também pode degustar os vinhos produzidos na vinícola em taças e harmonizar com tábua de queijos, burratas e bruschettas. Entre os restaurantes, o Vale do Vinho tem cardápio italiano com massas caseiras e pizzas, mas também serve ótimas carnes, como o filé ao molho de vinho com arroz cremosos de alcachofra e purê de mandioquinha.
Na parte mais alta da propriedade, subindo uma escadaria de pedras, está a loja de licores, a chocolateria artesanal, a sorveteria e o Boteco do Batata, com mesas em um deque externo e cardápio com algumas especialidades alemães.
Quinta do Olivardo
É uma casa portuguesa, com certeza, que nasceu vinícola mas cresceu e ganhou fama pelo seu restaurante português. No ambiente rústico, estilo fazenda, cerca de 10 mil pessoas chegam para almoçar em um final de semana movimentado. O restaurante é imenso, tem 780 lugares divididos em três ambientes, onde são servidos cinco toneladas de bacalhau ao mês.
O peixe, prato-chefe da casa, comprado somente em postas altas, é preparado na brasa do carvão e servido em 23 receitas da família de Olivardo Saqui, o proprietário. O bacalhau à lagareiro, suculento, soltando grandes lascas e com um cobertor de alho-frito por cima, será um dos melhores que você já comeu na vida, pode ter certeza.
No meio do restaurante, por onde passam os garçons vestidos à caráter, com colete e boina portuguesa, ainda funciona uma “feirinha” de comida típica, com espaços que vendem o pastel do caco (da Ilha da Madeira), sardinha no pão, bolinho de bacalhau… Há até uma mini-fábrica de pastel de nata, que produz 3 mil unidades por dia. Quando um sino toca é sinal que uma fornada quentinha está pronta.
Na vinícola, a Quinta do Olivardo chama atenção pelo “vinho dos mortos”, no qual as garrafas ficam enterradas por seis meses. O método surgiu em Portugal a partir de 1807 quando Napoleão invadiu o país e os portugueses enterraram os vinhos para escondê-los dos invasores. Ao resgatá-los, perceberam que o sabor da bebida estava diferente, alterado pela temperatura e escuridão. Na cave da vinícola, onde estão as garrafas empoeiradas de terra (só para dar um charme) se faz a degustação dos “vinhos dos mortos”.
Todo terceiro sábado do mês, acontece o “jantar do vinho dos mortos”, com luz de vela e fado ao vivo, no qual o próprio cliente enterra uma garrafa (que é numerada). É quase um ritual, com direito a cortejo pelo parreiral com tochas e banda de música. Após seis meses, o cliente retorna para provar o vinho que ele mesmo enterrou.
Quem vai a um almoço de domingo na Quinta do Olivardo pode custar a acreditar que tudo por ali começou há cerca de dez anos a partir da venda de um inocente bolinho de bacalhau preparado pela própria Dona Dolva, a mãe do Olivardo Saqui. O bolinho era servido junto com a degustação dos vinhos. O petisco fez tanto sucesso que novos pratos foram adicionados. Olivardo foi perfeccionista na qualidade para garantir a fidelidade nas receitas e trouxe de Portugal um especialista em construir forno a lenha para garantir que seu Leitão à Bairrada, outro clássico do cardápio, ficasse idêntico ao original.
A propriedade é completada com um wine bar, onde o pessoal pode beber e petiscar em mesas ao ar livre com vista para um lago com pedalinhos; duas tirolesas (com 280 metros e outra de 80 metros) e um circuito de arvorismo voltado para crianças.
Em 2020, a vinícola abriu uma pousada com chalés instalados dentro de tonéis de vinho autênticos que vieram do Rio Grande do Sul. Cada tonel abriga um chalé de 2 pavimentos, com uma sala no térreo e uma suíte com hidromassagem na parte de cima. Todos dão vista para um parreiral e os hóspedes podem usufruir de uma área com piscina e bar.
Alma Galiza
Erguida no alto de um morro, a Alma Galiza é uma vinícola jovem, pequena e intimista, que agrada especialmente por conta do wine bar instalado em um deque externo com vista panorâmica. Ali, com música instrumental de violão espanhol na playlist, o visitante pode degustar, em taças ou garrafas, os oito rótulos da casa.
Para petiscar, há tábuas de queijos e embutidos de jamón serrano. Quem preferir um drinque mais refrescante à base de vinho, pode pedir uma jarra de sangria ou um tinto de verano. A casa também serve almoços e a especialidade é a culinária espanhola, com tapas e três opções de paella, incluindo uma versão vegana com alcachofra e legumes.
A visita guiada inclui uma caminhada no parreiral, que passa por plantações de cabernet franc e lorena. Esta última, é uma uva desenvolvida pela Embrapa e considerada 100% brasileira. O tour segue com a degustação orientada com cinco rótulos, que também pode ser harmonizada com uma variedade de queijos.
Fazenda Angolana
É o melhor lugar para curtir com as crianças. Afinal, a Fazenda Angolana foi toda pensada para os pequenos com diversas atrações ao livre. A mais procurada delas é o arvorismo para crianças a partir de 5 anos, seguida da tirolesa de 200 metros de extensão que passa sobre um lago onde é feito passeios de pedalinho. Para refrescar, a molecada entra na ducha e passa sabão no corpo para brincar em um parque de infláveis com escorregas e quadra de futebol de sabão. Já os adultos se divertem tanto quanto os filhos ao alimentar os bichos do minizoo. Os currais abrigam bodes, cabras, pôneis, lhamas e muitos outros. Os animais são bem dóceis e comem na mão dos turistas. Já os pais curtem o arco e flecha semi-profissional, atividade que requer idade mínima de 15 anos. Para almoçar há dois restaurantes, com opção de bufê com churrasco ou no à la carte com pratos alemães.
A Fazenda Angolana recebe cerca de mil visitantes por dia. Paga-se R$ 15 na entrada e as atividades são cobradas à parte, mas nada custa caro. O combo de arvorismo com tirolesa é só R$ 45.
Hotel Villa Rossa
O Hotel Villa Rossa é o mais desejado de São Roque. Mais do que um simples hotel, trata-se de um resort de campo de alto nível localizado em uma bela área verde. Da varanda das suítes e dos chalés privativos a vista é para o bosque e os morros no horizonte. O conforto é cinco-estrelas. As acomodações são equipadas com camas king size, edredons de pluma de ganso, TV de 60 polegadas e amenities Boticário nos banheiros.
O melhor é a área de lazer, com um parque aquático com quatro piscinas. A principal, de 800m2, é cheia de curvas, emolduradas de palmeiras, jardins e cascatas. Tem área de hidromassagem, espelhos dá água e toboágua para criançada. Para os dias frios, há uma piscina interna climatizada.
Ao fundo da propriedade, uma grande área verde com bosques e gramados mais parece um parque. Caminhos pavimentados contornam as quadras e campo de futebol para terminar na beira de um lago, onde há pedalinhos e prancha de stand up paddle. Como em todo resort, há uma extensa programação de atividades esportivas: tirolesa, arco e flecha, vôlei de praia… Para criançada, há uma equipe de monitores que comandam brincadeiras e jogos das 9h às 22h em grupos divididos por faixas etárias, de 4 a 7 anos e de 8 a 12 anos. Em março, o hotel inaugurou um novo espaço, a Floresta, com ambientes para que pais e filhos curtam juntos. Tem espaço para oficinas de arte, salas de jogos, cinema, miniteatro e quadra coberta.
A casa-sede lembra uma fazenda elegante, com um longo terraço sombreado na lateral, onde ficam as mesas do bar (a música de fundo é MPB suave) e o acesso para as salas de jogos e o spa. Há diversas massagens e banhos aromáticos para relaxar. Com tanto o que fazer, nem dá vontade de sair do hotel, ainda mais porque todas as refeições, servidas em um variado bufê, estão inclusas no valor da diária.
Por Tales Azzi – texto e fotos