Não são apenas as montanhas de Campos do Jordão e Monte Verde que brilham na Serra da Mantiqueira. As pequenas cidades de Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí também guardam muitos atrativos para quem pretende curtir os prazeres do inverno, entre eles, charmosas pousadas com lareira, boa comida, ateliês de talentosos artistas locais e muitas opções de passeios na natureza.
Santo Antônio do Pinhal
Foi-se o tempo em que os turistas chegavam a Santo Antônio do Pinhal em busca de hospedagem barata para fugir dos preços altos dos hotéis de Campos do Jordão, que fica a 30 km de distância. A cidade ganhou vida própria, mas sem perder sua pacata atmosfera interiorana. Minúscula, com cerca de cinco mil moradores apenas, Santo Antônio do Pinhal fica dentro de um vale de araucárias. O centro resume-se a uma única rua principal, onde está to comércio e o principal ponto turístico local, o Jardins dos Pinhais. Trata-se de um parque com jardins plantados na encosta de um morro. Os jardins são temáticos, cada um tem plantas e flores de diferentes regiões do mundo e com diferente estilos de paisagismo: canadense, holandês, japonês, italiano, entre outros. Na parte mais alta da propriedade fica o jardim brasileiro, com pau-brasil, orquídeas e bromélias. A visita guiada é feita por um caminho calçado de 1.200 metros que segue contornando os jardins. Ao longo do ano, as plantas vão sendo substituídas para garantir que o espaço esteja sempre florido.
Já as estradinhas de terra dos arredores, onde cachorros perseguem os carros que passam, levam a simpáticas cafeterias rurais e cervejarias artesanais (faça a degustação na Araukarien, do mestre cervejeiro Tiago Carvalho). Placas indicam o caminho para a Cachoeira do Lageado, que fica a 5 km do centro. O carro fica estacionado na beira da estrada e basta descer uma escada para chegar diante da bela queda d’água. Mas a propriedade é privada e só abre aos finais de semana.
A zona rural da cidade também guarda muitos ateliês de arte, cerâmica e móveis de design, uma curiosa veia artística que começou por volta dos anos de 1990, quando muitos artistas refugiaram-se nas montanhas de Santo Antônio do Pinhal em busca de tranquilidade e inspiração em meio à natureza. Foi o caso do premiado escultor Eduardo Miguel Pardo, que faz obras de arte e peças de decoração em madeira sem usar pregos ou parafusos. “Tudo é feito por encaixes”, diz. No ateliê, o talentoso escultor recebe os visitantes como se fossem velhos amigos e conta com detalhes sobre seu estilo de trabalho. Móveis com técnica de encaixe também é a prática do japonês radicado no Brasil Morito Ebine, cujo ateliê foi escolhido entre os 25 estúdios de arte mais importantes do mundo segundo a revista inglesa Monocle.
Quando a tardinha vai caindo, os carros começam a ganhar a direção do Pico Agudo, o mais alto da região, com 1.634 metros de altura. São apenas 8 km do centro da cidade. A estrada é de terra, mas os trechos mais íngremes do caminho são concretados para garantir o bom fluxo dos veículos. O cume da montanha foi aplainado, ganhou estacionamento e gramados para acolher os visitantes. A vista de 360o é espetacular. De um lado estão o mar de montanhas da Mantiqueira; do outro o Vale do Paraíba. Nos finais de semana, o céu ainda ganha o colorido das velas de parapente. Quem tiver coragem pode fazer um voo duplo.
Só não há muito que fazer à noite em Santo Antônio do Pinhal. Falta na cidade um bar mais transado para quem quiser bebericar e ouvir música até mais tarde. Em compensação sobram pousadas gostosas para curtir a noite com taça de vinho e lareira. Há opções bastante luxuosas, como a Pousada Quinta dos Pinhais.
Restaurante Donna Pinha
É o restaurante mais famoso da cidade tem o cardápio dominado pela truta, peixe típico da região, que vai tanto nas entradas – como a casquinha de truta e o bolinho de truta – como nos pratos principais. São 18 receitas criadas pela chef Anouk Rosa. Há recriações de clássicos, como a moquequinha e o escondidinho de truta, e combinações de sabores mais exóticos, como a truta defumada e gratinada ao queijo brie, com nozes e mel. Legumes, shitakes, pinhão e todos os ingredientes usados na cozinha são frescos e produzidos nas hortas da serra. Para acompanhar, o restaurante tem carta de vinhos extensa para harmonizar com os pratos.
Casquinha truta Truta gratinada ao queijo brie
São Bento do Sapucaí
A placa na entrada da cidade dá a dica: “Visite a Pedra do Baú”. A portentosa formação rochosa da Serra da Mantiqueira é mesmo a grande atração para quem visita a pequena São Bento do Sapucaí. Muitos turistas vão até lá apenas para contemplá-la a partir do Mirante do Bauzinho, que oferece a melhor vista para a montanha. São 25 km desde o centro da cidade seguindo pela Estrada do Paiol Grande. O carro fica em um estacionamento e bastam cinco minutos de caminhada para estar diante da incrível paisagem. O melhor horário para ir ate lá é ao pôr do sol, quando a luz do final de tarde tinge as rochas da montanha de dourado.
Outra opção para conhecer a Pedra do Baú é a escalada até o cume seguindo por escadas de ferro encravadas na rocha, que permitem a qualquer pessoa disposta a encarar os 740 degraus da subida admirar o visual de 360o em ponto a 1.950 metros de altura. A subida à Pedra do Baú, no entanto, exige acompanhamento de guia, que fará uso de cordas e mosquestões de segurança.
A Estrada do Paiol Grande também leva a diversas cachoeiras. A mais conhecida é a do Toldi, a 9 km da cidade, onde um riacho despenca pelo paredão de um penhasco de 100 metros de altura. É importante ir sempre com guia pois o caminho é íngreme e escorregadio. Bem mais tranquila é a Cachoeira dos Amores, a 5 km de São Bento, com acesso fácil de carro e sem a necessidade de se embrenhar em trilha.
Passeios em meio à natureza também ocorrem no Parque Pesca na Montanha, um complexo de lazer ao ar livre, próximo à Pedra do Baú. O lugar tem lagos para pesca de truta, tirolesas, passeio a cavalo e mais de 20 km de pistas para prática de mountain bike.
Além dos passeios ecológicos, São Bento do Sapucaí também oferece um roteiro de arte e cultura local. Nesse quesito, o grande representante é o escultor autodidata Ditinho Joana, que usa pedaços inteiros de jacarandá para esculpir personagens típicos do interior: o agricultor, o pescador, a lavadeira…Suas peças são expressivas e ricas em detalhes. No ateliê, no bairro do Quilombo, Ditinho expõe algumas de suas obras.
O espírito criativo de Ditinho Joana acabou se espalhando pelo bairro, que virou um celeiro de artesãos e artistas plásticos. No espaço Arte no Quilombo os trabalhos produzidos pelos artistas locais estão à mostra para venda. O forte são as peças em palha de bananeira e arranjos de flores feitas com palha de milho.
O tour artístico também leva a Capelinha do Mosaico, uma pequena igreja forrada por mosaicos criado pelo casal Ângelo e Claudia Villar. Bijoterias, botões, tampinhas de garrafas, azulejos quebrados, cacos de vidro e uma infinidade de imagens de santinhos (a maioria em pedaços) decoram as paredes da capela. O resultado é a igreja mais psicodélica do Brasil. Impossível não se admirar seja pelas cores, seja pela criatividade dos mosaicos.
Por Tales Azzi, texto e fotos