A Rodovia A23 corta o centro de Portugal de um lado a outro. Campos de cerejeiras, oliveiras e vinhedos margeiam a pista. Após o túnel de Alpedrinha, a 250 km de Lisboa, já se pode ver as montanhas da Serra da Estrela. Ali está o ponto mais alto de Portugal continental e único lugar do país onde neva quase todos os anos. A partir de novembro, é grande a expectativa para ver o topo das montanhas tingidas de branco. Essa serra de encostas suaves e platôs achatados foi um dos primeiros parques naturais criados em Portugal e continua sendo sua maior reserva protegida. É uma região de lindas paisagens, com cachoeiras, bosques e lagoas formadas pela água da chuva em meio a curiosas formações rochosas. Mas a serra não é inteiramente selvagem. Nela estão 41 vilarejos, lá chamados de aldeias de montanhas. São pequeninas, com vielas estreitas e casas de pedra, habitadas por uma gente tranquila e simpática que toca a vida como antigamente. Pastores conduzem rebanhos de ovelhas aos pastos pela manhã. Viúvas usam vestido negro e lenços nos cabelos e as mulheres ainda lavam roupa em centenárias fontes de água. A “mais portuguesa das serras”, como dizem por lá, é pura autenticidade.
Conhecer a região é muito fácil. A Serra da Estrela é amigável e pode de ser explorada de carro já que é cortada por boas estradas asfaltadas. Há placas indicando os caminhos para os principais mirantes e nem é preciso suar em trilhas para contemplar os melhores panoramas. Em um único dia rodando sem pressa é possível conhecer os principais atrativos. Um roteiro clássico é a volta da serra, que passa pelas três cidades principais – Manteigas, Seia e Covilhã – em um percurso com cerca de 100 km.

Dessas três, Manteigas é a mais estratégica. Tem boa estrutura turística e fica no coração da reserva, a distâncias mais curtas para as principais atrações. Se for se hospedar, comece por ali. A meia hora dali está o mirante do Fragão do Corvo, um conjunto de pedras que dá vista a um mar de montanhas. É um bom lugar para ver o nascer do sol e fotografar a sequência de montanhas com uma névoa encobrindo os vales.

Nesse pedaço, conhecido como Penhas Douradas, está a nascente do Rio Mondego, um dos maiores rios de Portugal, mas que ali é apenas um fio de água gelada e cristalina que brota entre as pedras e ganha o nome de Mondeguinho. Só após descer a serra, o rio ganha volume e segue seu percurso de 232 km passando por Coimbra até desaguar no Atlântico.
A Ribeira de Leandro, por sua vez, abriu caminho em rochas de xisto e criou uma cachoeira que joga suas águas cristalinas em uma piscina natural esverdeada. Parece até o paraíso, apesar do nome do lugar: Poço do Inferno. O acesso fica bem ao lado do estacionamento da estrada. São poucos passos, nem é preciso caminhar em trilha. Para curtir um picnic, o pessoal segue ao Covão D’Ametade, que tem mesas e churrasqueiras em meio a um bosque cercado de pelos paredões íngremes de granito.

O visual mais espetacular está na subida para a Torre, o ponto mais alto região, a 1993 metros de altura. A estrada que leva até lá faz curvas fechadas na encosta das montanhas de granito e pouca gente resiste em estacionar várias vezes para admirar a paisagem. E que paisagem! No alto da Torre estão os dois observatórios abandonados de um antigo centro de controle do tráfego aéreo. Hoje é o local mais visitado da serra. Ali funciona um comércio de produtos típicos (queijos, mel e artesanatos) e, logo abaixo, uma pequena pista de esqui que serve de diversão quando a neve cai nos meses de inverno, a partir de novembro.


As aldeias de montanha
Além dos passeios para contemplar a natureza, qualquer viagem pela Serra da Estrela também inclui visitas a algumas de suas simpáticas aldeias de montanha. Videmonte é uma das mais encantadoras, com uma igrejinha branca do século 17 rodeada por casas de granito no centrinho. Convém chegar pela manhã. A partir das 7h, os fornos a lenha do povoado já estão acesos para produzir o famoso Pão de Videmonte, considerado o melhor de Portugal. O segredo está na qualidade do centeio produzido nos campos de lá. Turistas podem acompanhar a produção do pão, do preparo da massa até a abertura dos fornos – agende em freguesiavidemonte@sapo.pt. Outro motivo para ir a Videmonte é a caminhada por uma passarela de madeira de 12 km de extensão que corta um vale e conduz a belos cenários. É chamado de Passadiço do Mondego. Percorrê-lo é a forma mais confortável de caminhar na natureza por lá.



Muitas desses povoados da Serra da Estrela prosperam, no passado, graças às fábricas de lã, que se aproveitavam dos bons pastos para as ovelhas e da água abundante (necessária no processo de produção). Quase todas fecharam nos anos de 1990 pois não suportaram a concorrência dos baratíssimos produtos chineses que invadiram o país. Uma delas, porém, ainda funciona, a Burel Factory, em Manteigas, que é aberta a visitação. Ali, você pode conhecer mais sobre a história da lã na Serra da Estrela e passear pela fábrica com os antigos maquinários em pleno funcionamento.

Louriga também viveu tempos de riqueza nos tempos das fábricas de lã. Já foi uma das mais populosas da região. Hoje, vive do turismo e conta com muitas opções de hospedagens e restaurantes. É a preferida no verão, por conta da praia fluvial da Ribeira do Louriga, que, na realidade, são poços de água represada na descida do rio. O povoado também é conhecido por suas trilhas. Há três delas com destaque à Trilha da Garganta do Louriga, de 8 km de extensão, que conecta a vila ao planalto superior da Serra da Estrela através de um vale glaciar. O caminho passa por diversos mirantes, grandes afloramentos rochosos e pelas Lagoas das Salgadeiras, um conjunto de lagoas formadas pelas águas da chuva em meio a belas formações de granito. A Serra da Estrela é uma das regiões mais belas e originais de Portugal.

O queijo da Serra da Estrela
A Serra da Estrela ficou famosa no mundo inteiro por causa de um certo queijo, de recheio cremoso, sabor delicioso e que se serve de colher. É feito somente com leite de ovelhas da raça bordaleira, que naquela região, alimentam-se somente de ervas e pastagens naturais. Sua cura exige cuidados com sucessivas viragens e lavagens. Após cerca de 30 dias adquire o sabor forte que o faz ser considerado um dos melhores do mundo. O queijo ganhou um selo de denominação de origem e é vendido em peças de 500g a um preço de 15 euros em média. No Brasil chega a custar a partir de R$ 300. Quem quiser se aprofundar mais sobre a história e a técnica de produção pode visitar o Museu do Queijo, em Covilhã.
Onde Ficar
Casa de São Lourenço

No topo da montanha, tem linda vista dos quartos e do restaurante envidraçado. Sofisticado e elegante, tem gastronomia gourmet com opção de menu degustação harmonizado com vinhos da região. Conta com piscina aquecida e spa. A partir de 225 euros. www.casadesaolourenco.pt
Casa das Penhas Douradas

No alto da serra, em meio à natureza, tem 17 quartos, piscina aquecida interna, spa e restaurante gourmet. Oferece duas caminhadas diárias por trilhas com guia do hotel. É um exemplo de sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. A partir de 175 euros. www.casadaspenhasdouradas.pt
Casas da Lapa
Hotel butique com arquitetura em granito. Tem 15 quartos com vista para o horizonte da serra, três piscinas (uma delas interna e aquecida), spa e restaurante gourmet. Fica na aldeia de Lapa do Dinheiro. A partir de 155 euros. www.casasdalapa.pt