Um incrível roteiro no Algarve: o belo litoral sul de Portugal

O Algarve está para Portugal assim como o litoral do Nordeste para o Brasil. Lá estão as praias mais belas e desejadas do país. É a região portuguesa onde o sol brilha mais forte. Aliás, o astro-rei acumula milhagem no Algarve. São mais de 3 mil horas por ano, o que vem bem a calhar para um destino praiano, o predileto dos portugueses nas férias de verão. E não só deles. Alemães, ingleses e escandinavos também adoram aqueles litorais de falésias dramáticas e mar cristalino, cujas praias fazem frente a um punhado de charmosas cidades históricas de casas branquinhas erguidas na beira dos penhascos. E, além das belezas naturais, o Algarve tem história para contar. Dali partiram as caravelas rumo aos mares nunca dantes navegados. A região foi a última a ser conquistada pelos reis católicos e mantém heranças dos tempos dos mouros. A influência árabe é marcante, da arquitetura das casas aos nomes começados em “al”, como o próprio nome Algarve, que deriva de Al-Gharb (o ocidente, em árabe).

Embora tenha um interior bem interessante, as maiores atrações do Algarve estão mesmo à beira-mar. Ali está o mais belo e charmoso litoral do país, com pequenas cidades que somam o charme histórico ao encanto do mar verde e cristalino. De Lisboa são apenas 3 horas de carro ou de trem até a cidade de Faro (a capital), ou Albufeira (a mais turística), principais portas de entrada para conhecer a região. O programa típico de lá é ficar pulando de praia em praia, de vila em vila, para descobrir quais seus recantos prediletos. A escolha é difícil.

A Gruta do Benagil, considerada uma das dez maravilhas naturais de Portugal – Foto: Shutterstock/Nido Huebl


A maior parte da costa do Algarve é marcada por falésias íngremes e áridas, com uma coloração amarelada, que cercam praias de variados tamanhos. Algumas são tão pequenas que nem aparecem nos mapas. Esses paredões costeiros, a milênios erodidos pela força das ondas e do vento, ganharam os mais loucos recortes. Em alguns pontos são tão verticais que parecem cortados a fio de navalha. Em outros, os paredões parecem desmanchar-se, adornando as praias com uma notável variedade de formações rochosas à beira do mar: pináculos, arcos, grutas… Essas falésias servem como mirantes naturais, perfeitos para admirar a beleza dessa costa do melhor ponto de vista possível: do alto. Quem vai ao mirante da Ponta da Piedade ou da Praia da Marinha não tem dúvidas: o Algarve é lindo.

Mirante da Ponta da Piedade, em Lagos – Foto: Tales Azzi


Algumas dessas praias, como a Praia da Rocha e Albufeira, são urbanizadas e com grande infraestrutura turística, muitos bares e restaurantes. Outras, ainda que belíssimas, são desertas, como a do Camilo e do Carvalho. E ainda sobram dezenas que são exclusividades apenas dos barcos e dos pássaros, sem nenhum acesso por terra, isoladas pelos paredões costeiros.

Os alemães e ingleses são maioria entre os turistas e invadem o Algarve com fúria a cada verão. Largam-se nas areias sem fazer cerimônia até que o branco-escritório da pele se transforme em vermelho-camarão. Você pode (e deve) se juntar a eles.

Como não existe linha de trem entre as cidades da costa do Algarve, alugar um carro é fundamental para explorar a região de forma prática e rápida. Basta um GPS ou Waze e pronto, de rotunda em rotunda (rotatória, em português do Brasil), se vai a qualquer lugar. A costa algarvia tem cerca de 200 km de extensão de uma ponta a outra. Mas nem é preciso rodar tudo, concentre-se apenas no melhor trecho: os 100 km entre as cidades de Lagos e Tavira.

Vilarejo de Carvoeiro – Foto: Shutterstock/ Pawel Kazmierczak

Albufeira

A Rua 5 de Outubro, principal calçadão turístico de Albufeira – Foto: Shutterstock/ Vvoe

A maioria dos visitantes no Algarve faz base em Albufeira. A cidade está estrategicamente no meio do litoral do Algarve e, portanto, a distâncias curtas tanto para um lado quanto para o outro. A cidade é um charme só, com casas brancas sobre os penhascos à beira do mar e vielas estreitinhas com luz de lampiões. A fiação elétrica é toda subterrânea, o que ajuda a manter uma atmosfera de antigamente nessa cidade que os árabes chamavam de Al-Buhar, ou castelo sobre o mar.


Albufeira é a cidade mais turística do Algarve. Nenhum outro lugar da região é mais agitado que a Baixa de Albufeira, como é chamado o bairro nos arredores da praça central da cidade, ladeada de bares e restaurantes. O movimento de turistas é intenso dia e noite, principalmente à noite, quando uma moçada se junta em peso para curtir as altas baladas algarvias.


A cidade recebe muitos estudantes e jovens europeus em férias, que aproveitam os preços mais baixos de Portugal (ao menos para os padrões europeus) para se esbaldar no verão mais ensolarado do continente. São eles que lotam as pistas de dança de casas noturnas como o Santa Eulália, o Kiss Club e o New Town Street. A noite de Albufeira é para baladeiros avançados. Tanto que a cidade ganhou uma rua inteira dedicada às noitadas, a Rua Oura, que foi batizada de “Strip”, em alusão à avenida mais famosa de Las Vegas.

O centro de Albufeira oferece diversos calçadões com bares para tomar uma jarra de sangria e lojas de artesanato, que vendem as típicas bolsas algarvias, feitas de cortiça. A Rua 5 de Outubro é um desses caminhos. No final dela, um túnel serve de passagem para a Praia Central. Haverá outras faixas de areia bem mais belas em sua viagem. Mas, por ora, suba até o mirante ao lado do elevador panorâmico, no canto direito da praia, para ter um primeiro vislumbre. Vai funcionar com uma mensagem de boas-vindas.

Passeios em Albufeira: tour de barco e o trekking pelo Caminho dos Sete Vales Suspensos

Quem gosta de caminhar vai amar o Algarve, pois existem muitas rotas sobre as falésias, à beira dos penhascos, que levam às praias e de onde se pode curtir a paisagem de pontos de vistas privilegiados. O Caminho dos Sete Vales Suspensos é o mais cênico deles. Tem cerca de 6 km, vai da praia do Carvoeiro à da Marinha. A trilha exibe altos mirantes para contemplar meia dúzia de praias pelo caminho, todas em forma de ferradura e emolduradas por paredões rochosos. O ponto mais bonito está no mirante da Praia da Marinha, que é decorada com muitas formações rochosas: pináculos, arcos, grutas…

Praia da Marinha – Tales Azzi

No canto direito da praia, um túnel natural na falésia leva a uma prainha de não mais do que dez metros de extensão. A Marinha costuma estar em quase toda lista de internet que elege as mais belas praias do mundo.

Nem é preciso contratar guia para fazer o Caminho dos Sete Vales Suspensos, pois a trilha tem sinalizações, placas explicativas sobre a geologia da região e áreas para descanso. A caminhada tem algumas subidas, mas na maior parte o trajeto é plano e não exige grande preparo físico. Há sempre muitos turistas fazendo o mesmo caminho, na dúvida é só perguntar. Reserve um pit stop para recarregar as energias no bar da Praia da Marinha ou na Praia de Ceianes.


Da terra para o mar, a bordo dos catamarãs, que saem da marina de Albufeira, você ganhará outros ângulos para curtir as belezas desse recortado litoral português. Durante três horas de navegação, entre Albufeira e a Praia do Carvoeiro, os barcos da Algar Experience (www.algarexperience.com) contornam praias e costões com um guia à bordo que dá explicações sobre cada ponto.


Em diversos trechos surgem enormes cavernas nos paredões litorâneos, algumas tão grandes que permitem a entrada dos catamarãs. A mais impressionante delas é a Gruta do Benagil, uma imensa cavidade na rocha com uma praia de uns 20 metros de comprimento dentro dela. O teto da caverna desabou parcialmente formando uma claraboia por onde entra um facho de luz natural. A Gruta do Benagil é considerada uma das maravilhas naturais de Portugal, e das mais visitadas também. Os barcos chegam a fazer fila para entrar na caverna e permanecem por poucos minutos. Se quiser conhecê-la com mais calma, volte de carro até a Praia do Benagil, onde é possível alugar um caiaque.

Lagos

Praia do Camilo, em Lagos, para chegar basta descer as escadas na falésia – Foto: Tales Azzi

Para conhecer os arredores de Albufeira, use a estrada N125, que atravessa todo o Algarve, ou as ruazinhas mais próximas ao mar, que unem um vilarejo ao outro. Não importa o caminho, contanto que você chegue a Lagos, onde está o Algarve dos cartões-postais conhecidos no mundo inteiro, com suas falésias e rochas douradas à beira do mar. Na Ponta da Piedade, a 50 km de Albufeira, está o visual célebre com os inúmeros rochedos e as curiosas formações rochosas na beirada da costa. A vista do alto do penhasco se tornou o símbolo de todo o litoral do Algarve, estampado em guias de turismo no mundo todo. Uma escadaria leva até o nível da água, onde é possível embarcar nas lanchinhas que fazem um zigue-zague pelos labirintos e túneis dos rochedos.

As vizinhas, praias do Camilo e Dona Ana, não são menos fotogênicas. A primeira é deserta e sem qualquer infra na areia. Mesmo assim vive cheia. O motivo é a beleza da praia, que é dividida em duas por um paredão rochoso. Um túnel escavado na rocha conecta as duas partes. Já a Praia de Dona Ana é mais urbana e extensa. Tem bares que espalham muitas espreguiçadeiras na areia e até quiosques para massagem. O visual é convidativo, mas é preciso coragem para encarar o banho de mar. A água, com temperatura na casa dos 18 oC, é gelada demais para o gosto dos brasileiros. Os escandinavos e ingleses, por sua vez, nem ligam.

Banhistas na Praia do Camilo, as praias de Lagos são lindas mas a maioria não estrutura de bar e restaurante – Foto: Tales Azzi

Prefira conhecer a costa de Lagos caminhando. Da Ponta da Piedade até a Praia de Dona Ana são apenas 1,5 km em caminhos que contornam os penhascos e levam a inúmeros mirantes. Na dúvida, é só seguir os outros turistas. Além de belezas naturais, Lagos também tem história. A cidade já foi a principal do Algarve entre os anos 1576 e 1755. No período das Grandes Navegações, era um importante centro comercial. Na Praça Infante D. Henrique, uma placa assinala o local onde funcionou o primeiro mercado de escravos da Europa, aberto em 1441, quando o navegador Nuno Tristão trouxe os primeiros prisioneiros africanos para a Europa. O centro da cidade é cheio de belos casarões dos séculos 18 e 19 e de ruínas de uma fortaleza construída pelos árabes no século 8.

Cabo de São Vicente

Farol do Cabo de São Vicente, o ponto mais ocidental da Europa – Foto: Shutterstock/Steve Photography

Depois de conhecer Lagos, vale esticar até o Cabo de São Vicente, 35 km adiante, já no extremo oeste da costa do Algarve. É o ponto mais ocidental da Europa, na esquina de Portugal. Há um farol da marinha marcando a importância geográfica do local. Lá dentro, um pátio oferece a varanda para contemplar o Atlântico, o mesmo que, no passado, agigantava-se diante dos olhos dos navegadores. O Cabo de São Vicente era o “fim do mundo”, o ponto mais próximo dos monstros marinhos e do grande abismo no horizonte. Por ali passaram as caravelas que descobriram o Novo Mundo, incluindo a de Cabral, que veio bater com os costados no litoral da Bahia. Tente chegar ao Farol do Cabo de São Vicente no final da tarde. Há um agradável bar lá dentro, que serve chope Sagres e drinques com vinho branco e soda. Assistir ao pôr do sol dali é um programa clássico.

Silves e a herança moura

O Castelo de Silves é a principal herança dos mouros no Algarve – Foto: Shutterstock/Tatiana Popova

Os mouros ocuparam o sul de Portugal mais tempo do que em outras partes do país. Quando finalmente D. Afonso III tomou Silves, a última cidade moura do Algarve, em 1189, o monarca passou a ser considerado o Rei de Portugal e do Algarve. Após seis séculos de ocupação moura, a trabalhosa conquista desse pedaço do extremo sul de Portugal parecia merecer o adendo especial ao nome do novo reino.


A herança moura ainda é visível em toda a parte, seja no urbanismo das cidades, com vielas que lembram medinas árabes, seja nas casas caiadas de branco, cuja finalidade é refletir a luz do sol e tornar o interior das residências mais fresco nos dias de verão. A chaminé algarvia é o mais famoso símbolo mouro. Estão em toda a parte do Algarve, basta olhar para cima. São feitas de cerâmica com formas que lembram a torre das mesquitas. Algumas são decoradas com desenhos geométricos de várias cores.


Os árabes chegaram à região do Algarve no início do século 8, cruzando o estreito de Gibraltar. Por muito tempo, a convivência com os cristãos foi pacífica e com intensa troca de conhecimentos. A agricultura acelerou-se com as novas técnicas de irrigação e o cultivo de espécies que não existiam na Europa, como a laranjeira, o limoeiro e as oliveiras. A astronomia e a navegação também foram beneficiadas, o que ajudou os portugueses no período das Grandes Navegações. As caravelas que partiram rumo aos descobrimentos a partir do século 15 foram influenciadas pelo carib, uma embarcação árabe.


A charmosa Silves guarda o mais importante vestígio dessa era islâmica: o Castelo de Silves, que fica na parte mais alta da cidade. Quando foi erguido, Silves chamava-se Xelb e era a capital do Algarve. Todos os caminhos da cidade conduzem ao castelo, que pode ser visto de longe, com suas muralhas de arenito avermelhado. Ao lado da imponente Igreja da Sé, do século 13, de belo pórtico de entrada e arcadas internas, compõe um importante patrimônio histórico português.

A visita ao Castelo de Silves, porém, não leva muito tempo. O interior do Castelo resume-se a um pátio aberto do tamanho de um quarteirão, circundado pelas muralhas e as torres da fortaleza. O melhor é a cafeteria que há lá dentro, com mesas ao ar livre e um cardápio bem eclético, de crepe com sorvete e Nutella a bebidas saudáveis, como a água de pepino, que ainda leva gengibre, limão, frutas vermelhas e ervas aromáticas.


Quando a fome bater siga para o Restaurante Marisqueira Casa Velha, para provar o arroz de Tamboril com Amêijoas (arroz com peixe e vôngole), para finalizar com um café no Da Rosa, ao lado do Pelourinho. Depois, caminhe mais um pouco pelas ruas históricas e preste atenção aos telhados, onde vivem os mais curiosos moradores de Silves: imensas cegonhas.

Restaurante Marisqueira Casa Velha, em Silves – Foto: Tales Azzi

Faro e a costa leste do Algarve

Faro é a capital do Algarve e uma linda cidade histórica – Foto: Shutterstock/Pashamba

Já na direção leste da costa do Algarve, as praias não estão mais à vista, pois ficam atrás de uma longa faixa de lagoas e alagados que separam a faixa de areia da orla das cidades. Esse ecossistema costeiro é uma área de preservação ambiental chamada Ría Formosa e se estende desde a cidade de Faro até a fronteira com a Espanha. Para conhecer essas praias, que são bem mais tranquilas e com menos turistas, só mesmo em passeios de barco ou lancha.


Em Faro, há um curioso serviço hop-on/ hop-off de barco, que leva a diversas praias e ilhas da costa leste. Com um só bilhete, você pode embarcar e desembarcar quantas vezes quiser, e assim conhecer diversos pontos em um único dia, embora a paisagem litorânea no trecho da Ría Formosa pouco se altere. O visual das praias é muito bonito com a vegetação preservada e muitos pássaros, mas a paisagem plana demais torna o visual um tanto monótono.


Mesmo assim, há lindas cidades históricas para visitar, como a própria capital Faro, cuja parte antiga é cercada por uma muralha medieval preservada. O centro é chamado de Vila Adentro e tem um portal de entrada, o Arco da Vila, que leva ao Largo da Sé. Atrás da igreja, em plena calçada, ficam as mesas do restaurante Cidade Velha, que serve comida típica algarvia. Outra joia na costa leste é a cidade de Tavira, às margens do Rio Gilão, com 21 igrejas e casarões com fachadas de azulejos nas duas margens do rio. É uma das mais belas do Algarve.

Tour Gastronômico na cidade de Faro

Restaurante O Palhacinho, no Mercado Municipal do Faro – Foto: Tales Azzi

Comer bem faz parte de qualquer viagem a Portugal, e não é diferente no Algarve. Mas é preciso esquecer o pastel de nata e o vinho do porto. A comida típica dessa região costeira se vale principalmente dos peixes e frutos do mar. O prato mais emblemático é a cataplana de mariscos, um ensopado preparado em panela funda (a tal cataplana), mas há muitas outras receitas igualmente deliciosas.

Uma boa maneira de conhecer a gastronomia do Algarve e descobrir aqueles restaurantes tradicionais que pouca gente conhece é embarcar em um tour oferecido pela agência Eating Algarve Tours. Os passeios gastronômicos têm entre 4 e 5 horas de duração e levam os turistas a conhecer os mais autênticos sabores algarvios. No chamado Tour do Pescador, que acontece em Faro, a capital do Algarve, são 15 degustações realizadas em meia dúzia de restaurantes. E passeio vale também por um city tour, já que para ir de um lugar a outro caminha-se pelas principais ruas do centro histórico da cidade.

Tudo começa no Bar da Xica, que fica dentro do Mercado Municipal, onde é servido a bifana, o autêntico pequeno almoço (café da manhã) dos pescadores locais. Trata-se de um sanduíche com carne de porco marinado em vinho, alho, sal e louro, servido no chamado pão de papo-seco.

O sanduíche Bifana, do Bar da Xica – Foto: Tales Azzi

Caminhar pelo Mercado, aliás, é uma ótima maneira de conhecer boa parte dos ingredientes que vão à mesa dos portugueses do Algarve. O bacalhau está lá, é claro, mas a ele se juntam as conservas (eles adoram atum, sardinha e cavala) e algumas outras iguarias bem mais exóticas, como o caracol. O molusco, exposto vivo, é um apreciado tira-gosto. Vai para a panela com água quente e sal.


Na barraca “Casa do Marisco”, você vai conhecer as canilhas e os búzios, mariscos coletados nos alagados à beira do mar que fazem parte de uma reserva ambiental, a Ría Formosa. Dizem que o Algarve tem os melhores mariscos de Portugal. “Só no cheiro dá para perceber a diferença”, explica Olga, dona da barraca.

As canilhas, um tipo de molusco típico da região, coletado na reserva de Ría Formosa, um alagado costeiro – Foto: Tales Azzi


No Mercado Municipal também está o tradicionalíssimo restaurante O Palhacinho. Os moradores do Faro o adoram, especialmente por causa da açorda, uma sopa com pão e ovos capaz de curar qualquer ressaca, preparada pelo casal Judite e Custódio. Poucos turistas vão até esse modesto restaurante, que é um dos maiores segredos do Faro.

A açorda, prato típico português, do Restaurante O Palhacinho, no Mercado Municipal de Faro – Foto: Tales Azzi


Ao lado da Igreja de São Pedro, uma viela leva ao restaurante A Venda, cuja decoração em estilo vintage simula a atmosfera de antiga mercearia. O estabelecimento tem apenas 9 mesas e serve pratos com toque gourmet preparados pelo chef Vasco Prudêncio, como o ceviche de corvina. A cozinha é aberta e a sensação é a de estar na sala de casa, o que faz todo sentido, pois veio do hábito de reunir os amigos que surgiu a ideia do chef Prudêncio de abrir o A Venda.

Já o Restaurante Chalavar é para quem curte peixe assado na brasa do carvão. O dono, Sr. Vitor, era pescador, mas abandonou a profissão quando o movimento no restaurante aumentou mais do que imaginava. O ambiente é simples, mas a qualidade da comida surpreende. O balcão é uma peixaria com os peixes do dia. Atrás dele fica a churrasqueira. É só apontar o que você quiser e está feito o pedido. Vale provar a porção de sardinha ou a posta de bacalhau temperada apenas com sal. O azeite vai à mesa, ao gosto do freguês. A porção de ostra no bafo com salada de tomate é outro clássico da casa.


Atravessando as muralhas do centro histórico do Faro, chega-se a Catedral da Sé. Aos fundos da igreja, na calçada, estão as mesas do simpático restaurante Cidade Velha. Apesar do ambiente altamente turístico, as receitas são as mais tradicionais possíveis, como a tal cataplana de mariscos ou o xarém com amêijoas (um creme à base de farinha de milho, parecido ao angu brasileiro, que leva vôngole). Esse último é um prato comum no dia a dia dos moradores do Algarve.

O gran finale da maratona gastronômica acontece no Columbus, um famoso bar de drinques, que foi eleito três vezes seguidas o melhor de Portugal no concurso Lisbon Bar Show. O menu de drinques da casa é, de fato, impressionante e vai estampado em um livro de fotografias. São dezenas de opções, muitos delas preparadas com a bebida mais típica do Algarve, a Amarguinha, um licor de amêndoa. É com ele que se faz o drinque Amarguinha Sour, que leva xarope de açúcar, clara de ovo e suco de limão.

O detalhe de luxo no preparo: o barman torce a casca de limão sobre a taça apenas para perfumar a borda. Nem precisava, mas o ambiente do Columbus também é especial. As mesas do bar ficam sobre as arcadas da Santa Casa da Misericórdia, um prédio histórico dos anos 1700. Dali, enquanto saboreia um drinque, você terá um resumo de todo o Algarve: o charme histórico, a vista dos barcos na marina de Faro e o astral turístico dessa linda região de Portugal.

O drink Amarguinha Sour do Columbus Bar, feito com a Amarguinha, licor de amêndoa típico do Algarve – Foto: Tales Azzi

Já na pequena Vila da Guia, a 7 km de Albufeira, ficou famosa por servir um dos pratos mais típicos do Algarve: o frango piri-piri, que é um galetinho assado na brasa de carvão e temperado com um molhinho apimentado. A receita foi criada por José Carlos Ramires e fez tanto sucesso que, em 1964, o ex-sapateiro resolveu abrir um restaurante apenas para servir o tal franguinho gostoso. Na época, ninguém servia frango no litoral do Algarve. Mesmo assim, a velha tasquinha de Seu José Carlos prosperou e o Restaurante Ramires passou para um casarão com três pavimentos com azulejos nas paredes e capacidade para acomodar até 300 pessoas. Virou atração turística. A fama foi tanta que muitos outros restaurantes do vilarejo copiaram a receita do frango piri-piri, até que a Vila da Guia ganhasse o apelido de “capital portuguesa do frango”.

O frango piri-piri do Restaurante Ramires, em Vila da Guia, um clássico local – Foto: Tales Azzi

Onde Ficar no Algarve

Hotel Faro

É o hotel mais bem localizado de Faro, instalado em um prédio bem em frente à marina e ao lado da entrada do centro histórico. Tem quartos espaçosos e confortáveis, de padrão quatro estrelas e cinco categorias diferentes. Oferece um excelente bufê de café da manhã e academia de ginástica. Um ponto forte é o restaurante, que fica na cobertura, de onde se tem uma linda vista da marina de Faro. É um lugar bem gostoso para curtir um happy hour. Na recepção, é possível contratar passeios de lancha para as praias e ilhas da Ría Formosa, a grande reserva ambiental que ocupa boa parte da costa leste do Algarve. Diárias de € 85 a € 395. www.hotelfaro.pt


Hotel Epic Sana

Um resort grande, elegante e completo, que ocupa um trecho praticamente exclusivo na Praia da Falésia, a 7km do centro de Albufeira. Tem piscinas climatizadas, restaurante de alto nível e serviços padrão cinco estrelas. A partir de € 280. www.algarve.epic.sanahotels.com


Hotel São Rafael Atlantico

Um resort de padrão cinco estrelas que ocupa uma praia linda e exclusiva: a Praia de São Rafael, de belas falésias douradas. Quartos impecáveis, com decoração moderna e clean, belos jardins, piscinas e spa. A partir de € 280. www.saorafaelatlantico.com

Vila Galé Cerro Alagoa

Resort da rede portuguesa Vila Galé, fica no centro de Albufeira e a curta caminhada dos bares do centro histórico e da Praia dos Pescadores. Ideal para quem não abre mão de um grande hotel e quer ficar próximo dos bares e restaurantes da cidade de Albufeira. A partir de € 114. www.vilagale.com

Como circular no Algarve


Não existe trem entre as cidades do Algarve e depender só de ônibus para circular por lá é a maior roubada. Táxi são raros (e caros) e o Uber só compensa para trechos curtos dentro de uma mesma cidade. A melhor maneira, portanto, para explorar a costa do Algarve e visitar as principais cidades é alugar um carro. A costa tem cerca de 200 km de extensão no total. Com o carro, ganha-se mobilidade e dá para conhecer muito em pouco tempo de viagem. Só não esqueça de incluir um GPS, pois sem ele você vai se perder o tempo inteiro. Há locadoras regionais que oferecem diárias de aluguel a partir de € 30.
Para gastar menos, prefira contratar o carro apenas quando chegar ao Algarve. Desde Lisboa são 240 km até Albufeira ou 260 km até Faro. Levando em conta o preço da gasolina em Portugal (€ 1,6, ou
R$ 7, um único litro), e os inúmeros pedágios do caminho (cerca de € 30), esse deslocamento fica bem caro.


Por Tales Azzi, texto e fotos