Viagens curtas (e bem legais) para perto de São Paulo (SP)

Muita gente pensa que é preciso ir para bem longe, talvez outro continente, para curtir uma bela viagem. Mas não é bem assim. Próximo da sua casa, tenha certeza, há grandes destinos turísticos. Veja o caso de São Paulo, por exemplo. Em um raio de 350 km da maior metrópole do país, há cidades históricas como Paraty e São Luiz do Paraitinga, praias maravilhosas ao longo da Rodovia Rio-Santos, montanhas na Mantiqueira onde brilha o astral de Campos do Jordão e Monte Verde, e uma infinidade de esportes de aventura em rios e cachoeiras de Brotas e Socorro. A proximidade traz outras vantagens: reduz riscos, barateia custos e ainda permite encaixar uma viagem até num simples fim de semana.

Paraty

Charme histórico à beira-mar

Rua do centro histórico de Paraty – Foto: Tales Azzi


Paraty é uma das mais lindas cidades históricas do Brasil e o melhor pretexto para viajar para o litoral no inverno. Afinal, nem todo mundo vai até lá pensando em praia, mas principalmente em explorar o centro antigo da cidade, com suas centenas de casarões coloniais que formam um cenário delicado para ser desfrutado em qualquer época do ano. É um imenso prazer caminhar pelas ruas de calçamento irregular de pedras, parando para olhar as lojas de artesanato, tomar sorvete e conhecer as principais igrejas, como a de Santa Rita e a Matriz de Nossa Senhora dos Remédios. À noite, quando as antigas luminárias são acessas – pois não há postes à mostra, já que toda fiação elétrica é subterrânea –, a cidade ganha ainda mais charme.

Quando a maré enche algumas ruas ficam alagadas pela água do mar – Foto: Tales Azzi

Quem não abrir mão de pisar na areia de uma bela praia deve seguir para a vizinha vila de Trindade, que guarda uma linda sequência delas. Ali, as praias do Cepilho, Rancho, Meio e Caxadaço, todas molduradas pelas montanhas verdes da serra do mar, oferecem espaço de sobra para caminhar e admirar a paisagem, que é realmente espetacular.

Outra forma bem divertida de conhecer a região são os passeios de barco que levam às muitas ilhas de mar esverdeado e cristalino da Baía de Paraty. Há muitos roteiros. No sentido sul, dá para conhecer o Saco do Mamanguá (o fiorde brasileiro), Ilha dos Cocos e a Praia da Lula (que só tem acesso pelo mar). Para o norte, vale conhecer a Ilhas do Araújo, Pelado, Comprida, Sapeca e do Cedro.

Passeios de barco (escunas, lanchas e traineiras) levam às lindas ilhas da Baía de Paraty – Foto: Tales Azzi

Entre os passeios de ecoturismo oferecidos, os mais populares são o Jeep Tour para as cachoeiras das redondezas e as cavalgadas por uma área de mata atlântica próximo a Estrada Paraty-Cunha.

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Socorro

Emoção na água e no ar

Rafting no Rio do Peixe – Foto: Divulgação Kango Jango

O Rio do Peixe, em Socorro, a 130 km de São Paulo, é considerado um dos melhores do País para quem gosta de emoções fortes. Suas águas correm no fundo de um vale da Serra da Mantiqueira e tem corredeiras que são a Disneylândia dos praticantes de rafting. A bordo de botes infláveis, esses aventureiros se jogam ao sabor de rápidas corredeiras em um percurso que varia entre 4 km e 7 km conforme o nível do rio. Entre dezembro e março, na época das chuvas, o volume de água aumenta na mesma proporção da emoção da atividade. Ao longo da Estrada do Rio do Peixe, diversas operadoras oferecem o passeio de rafting.

É o caso da Kongo Jango, que, como medida sanitária preventiva, atualmente só faz saídas em grupos privativos, sem misturar turistas que não se conhecem. Quem não se jogar nas águas do Rio do Peixe pode se atirar pelos ares nas diversas tirolesas do Parque dos Sonhos, algumas com 1 km de extensão. É pura adrenalina por quase 1 minuto voando sobre as matas da serra. Os guias dizem que essa é a forma mais rápida de viajar entre São Paulo e Minas Gerais. E é verdade, já que o percurso atravessa o Rio Cachoeirinha, fronteira natural entre os dois estados. A mais legal é a chamada Tirolesa Voadora, na qual a pessoa vai deitada. É só abrir os braços e você já descobre a sensação de voar como um super-herói.

Desde que foi inaugurado, em 2002, o Parque dos Sonhos se tornou a principal atração de Socorro. Instalado em um vale verde, o complexo inclui, além das quatro tirolesas, circuito de arvorismo, trilhas com cachoeiras e boia-cross. Nos fundos da propriedade ainda há uma fazenda, onde são feitas cavalgadas. O Parque dos Sonhos agrega um hotel, cuja diária inclui pensão completa e todas as atividades.

A tirolesa do “Superman” no Parque dos Sonhos – Foto: Tales Azzi

Nos finais de tarde, o melhor programa em Socorro é ver o pôr do sol no Mirante Pedra Bela Vista. Trata-se de uma laje de pedra, a 1.250 metros de altura, de onde se vê as montanhas sem fim da Mantiqueira. Para combinar com a beleza da paisagem, o espaço recebeu confortos e cuidados de muito bom gosto. Há um restaurante, cujas mesas se espalham pelo terraço, e um deque de madeira. As pessoas se acomodam em bancos sobre a laje de pedra ou em um gramadão. E, enquanto o sol desliza manso no horizonte, o pessoal assa, nos braseiros a carvão, um pão no espeto, de massa caseira, chamado pan de palo, que, após assado e dourado, recebe recheios variados: queijo, pizza, carne-seca com catupiry…

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Campos do Jordão

A capital do inverno

Casas estilo alpino do bairro Capivari – Foto: Will Rodrigues/Shutterstock

Quando o inverno chega, parece que todo mundo pensa a mesma coisa: subir a serra em busca do frio e do charme de Campos do Jordão. A cidade de montanha mais badalada da Serra da Mantiqueira, a 180 km de São Paulo, é um típico caso de destino turístico que nunca sai de moda. A atmosfera europeia está no clima frio e também na arquitetura das casas em estilo alpino. Há muitos restaurantes sofisticados, hotéis estrelados e mais de uma dúzia de atrativos que agradam a famílias e casais apaixonados. Caminhar pelo centro e fazer compras nas lojas bacanas (a tentação maior são os chocolates caseiros) são alguns dos passeios prediletos dos visitantes.

Além do charme, Campos do Jordão é uma das cidades mais verdes do Brasil. Tanto que tem um imenso parque ocupando metade da área do município. É o Horto Florestal, um bosque com lagos, araucárias centenárias e cachoeiras (são 2 km de caminhada até a Cachoeira do Galharada). E, por estar em um local privilegiado da serra, ainda há diversas trilhas para caminhadas nos arredores, onde sobram mirantes naturais e paisagens belíssimas, como a Pedra do Baú, no caminho para a vizinha São Bento do Sapucaí. O nascer do sol no Pico do Itapeva é o melhor motivo para convencê-lo a pular da cama mais cedo. Mas o esforço será recompensado pela vista a 2.000 metros de altitude, com a névoa ainda encobrindo o mar de montanhas da Mantiqueira. As cavalgadas e os passeios em quadriciclos são outras opções interessantes para quem quer curtir as paisagens de matas e montanhas. Nos meses mais quentes do ano, dá até para arriscar um banho nas cachoeiras.

Passeio a cavalo no Parque Tarundu – Foto: Tales Azzi
Pedra do Baú avistada do Mirante do Bauzinho – Foto: Tales Azzi

Entre os principais atrativos está o Parque Tarundu, um antigo haras que se transformou em um parque de diversões com tirolesas, patinação no gelo e um curioso tobogã no meio do bosque. É bem divertido o boia-cross, no qual a pessoa desliza em uma boia morro abaixo até parar em uma piscina de bolinhas. Para julho, também é aguardado a reabertura do Pesca na Montanha, um lugar que é bem mais do que um pesqueiro. Trata-se de um lindo parque com diversas atividades em meio à natureza. Dá para fazer caminhadas, cavalgadas e mountain bike.

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Brotas

A terra dos esportes de aventura

Rafting no Rio Jacaré-Pepira, a grande atração de Brotas – Foto: Divulgação/Viva Brotas

Brotas era apenas uma pacata cidade do interior de São Paulo quando alguns malucos começaram a se jogar nas corredeiras do Rio Jacaré-Pepira usando bóias de caminhão. As bóias, anos mais tarde, foram trocadas pelos botes de rafting. Os caçadores de emoção da região resolveram então montar tirolesas arrepiantes e plataformas na beira de penhascos para se atirar no vazio a centenas de metros de altura. As muitas cachoeiras da região, antes desfrutadas somente em banhos relaxantes, passaram a ser curtidas em descidas com cordas de rapel, uma atividade conhecida como cascading. E assim, no final dos anos de 1990, Brotas se transformou na capital brasileira dos esportes de aventura, um lugar onde a natureza é o palco para quem busca ecoturismo e adrenalina em porções mais ou menos equilibradas.

A reboque do pioneirismo de Brotas em relação ao turismo de aventura veio o profissionalismo no assunto. As agências investiram em equipamentos seguros e de primeira linha e na capacitação dos instrutores. Além disso, a região estruturou uma série de ecoparques, complexos de lazer auto-suficientes, que oferecem, em um só lugar, atividades ao ar livre, hospedagem e restaurante. Neles, o visitante deixa o carro no estacionamento, hospeda-se em chalés ou cabanas no meio da mata e passa os dias curtindo tirolesas, rapel em cachoeiras, entre outras loucuras. O negócio é acordar cedo para fazer um passeio, tapear a fome na hora do almoço e, à tarde, sair novamente, seja para se fazer rapel em alguma cachoeira seja para descer as corredeiras do Rio Jacaré-Pepira nos botes de rafting, o primeiro passeio e, até hoje, o mais procurado da cidade. São cerca de uma hora e meia passando por pequenas quedas e corredeiras, onde você vai remando por um rio de águas límpidas cercado pela mata atlântica nativa. O cenário é muito bonito. Revoadas de tucanos não são raras e macacos são vistos nas árvores das margens do rio.

Atualmente, Brotas conta com nove parques de aventura. O mais novo deles é o Viva Brotas. Oferece hospedagens muito confortáveis, incluindo chalés sobre palafitas com deques de madeira e linda vista. Entre as atividades, há um circuito de tirolesas de 1.300 metros de extensão e a Superbike, no qual a pessoa pedala uma espécie de bicicleta presa por cabos a 70 metros de altura. O mais radical é o chamado Queda Livre, onde só os mais corajosos conseguem saltar de uma plataforma na beira do precipício. Por um segundo a sensação é de queda livre mesmo, até que a tensão da corda inicia a freada. “O corpo vai e a alma fica”, brinca o instrutor.

Tirolesa no Parque Viva Brotas – Foto: Tales Azzi

Apesar de radicais, os esportes em Brotas não exigem preparo físico algum. Podem ser feitos por qualquer pessoa, basta ter algum espírito de aventura nas veias. No Viva Brotas, até crianças pode fazer as tirolesas descendo junto com os pais. Já quem não curte nada muito radical, pode aproveitar o sossego nos hotéis-fazenda da região, que oferecem almoço no fogão à lenha, fazer cavalgadas e caminhar por trilhas que levam às muitas cachoeiras. Um final de semana é pouco para curtir tudo o que Brotas oferece.

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Serra da Bocaina

Hospede-se nas antigas fazendas do café

Fazenda São Francisco, em São José do Barreiro (SP) – Foto: Tales Azzi

Nas montanhas da Serra da Bocaina, entre as cidades de Bananal e São José do Barreiro, no interior paulista, antigas fazendas de café do século 19 foram transformadas em agradáveis hotéis de campo. A maioria dessas propriedades, tombadas pelo patrimônio histórico, conserva sua arquitetura original: espessas paredes de taipa, assoalhos de tábuas largas com pregos forjados à bigorna e grandes janelas por onde a luz da manhã entra sem fazer cerimônia. Muitas dessas fazendas até já serviram de cenário para novelas e minisséries de época da TV Globo, a exemplo da Fazenda Boa Vista, em Bananal. Nelas, os hóspedes não encontram apenas o conforto de bons quartos ou banalidades como laguinho com cisnes e passeio de charrete. Encontram, sobretudo, uma experiência de turismo histórico bem diferente, que revisita o passado glorioso do café, e isso em meio à bela natureza da Serra da Bocaina. Provar da boa comida caseira saindo das panelas de ferro no fogão a lenha e fazer passeios a cavalo para cachoeiras ou mirantes com vista para as montanhas são os principais passatempos.

A Fazenda São Francisco, cuja casa-sede foi erguida em 1813, é a mais antiga construção da cidade de São José do Barreiro. Restaurada na década de 1980 pelo simpático casal Eliana Torres e Walton Leite, a fazenda segue sua vida rural normalmente. Às 5h da manhã, os funcionários cruzam a porteira para começar a ordenha das vacas. O leite, que será usado para fazer o queijo minas, o iogurte e o requeijão do café da manhã, segue para a cozinha. A culinária é o ponto forte e as refeições são maravilhosas. Piscina não há, e nem precisa com tantas cachoeiras por perto. A fazenda conta com dezenas de cavalos para fazer passeios por diversas trilhas, como a que leva até a Cachoeira do Pau D’Alho ou ao mirante com vista para a Represa do Funil.

Na Fazenda Independência, o recém-chegado sempre fica admirado com as duas longas fileiras de palmeiras imperais na entrada da propriedade. O nome deve-se ao ano de construção da fazenda, 1822, ano da Independência do Brasil. É a mais confortável da região, com comodidades de hotel de alto nível. Todos os quartos são suítes e equipados com camas king size e edredons de grife. As áreas comuns são decoradas com móveis de antiquário. A cozinha ganhou azulejos portugueses. E o paisagismo é belíssimo, especialmente quando avistado do alpendre na entrada do casarão.

Fazenda Independência, arquitetura de 1822 – Foto: Tales Azzi

Já a rusticidade original da Fazenda Boa Vista fez dela a preferida da TV Globo para filmar séries e novelas de época. A comprovação está nos corredores, decorados com fotografias dos bastidores das gravações. A maior alteração do projeto original está nos quartos, que ganharam banheiros. Os hóspedes têm bastante espaço para se espalhar entre o gramadão em frente à casa-sede, de onde partem os passeios a cavalos, ou na piscina, no fundo do casarão. Construída em 1780, a Fazenda Boa Vista é a mais tradicional de Bananal. No casarão, um pequeno museu reproduz uma cozinha do século 19.

Fazenda Boa Vista, cenário para muitas miniséries da Globo – Foto: Tales Azzi

Fora das fazendas, o centro histórico de Bananal rende um belo passeio entre os antigos casarões. A estação de trem e uma velha farmácia, aberta desde 1830, a mais antiga do Brasil, são os pontos mais visitados. De Bananal, parte uma estrada de terra que leva serra acima e dá acesso a cachoeiras (como a Cachoeira Sete Quedas) e outras atrações, como a Estação Ecológica do Bananal (KM 15), onde fica um trecho intacto da Trilha do Ouro, o famoso caminho de pedras do século 18, por onde o ouro de Minas Gerais era transportado em lombo de mulas até o porto de Paraty.

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Por Tales Azzi, texto e fotos