A praia de nudismo

A placa de madeira fincada na areia da praia trazia os seguintes dizeres: “A partir desse ponto, a nudez é obrigatória”. Eu estava na Praia de Massarandupió, no litoral norte da Bahia, uma das poucas praias do litoral brasileiro restritas à prática do naturismo, ou nudismo, e, portanto, acessíveis apenas para quem não ter o pudor de tirar a roupa em público e ficar andando peladão para lá e pra cá. Olhei em volta e não vi ninguém, só a duna, um trecho deserto de praia e uma barraca rústica há uma centena de metros adiante. “Tudo bem, quem tá na chuva…”, pensei. Arranquei a camisa e o shorts e dei os primeiros passos ao vento, feito Adão no paraíso. Nisso, um homem saiu da tal barraca e veio correndo, aos berros, na minha direção. Era o fiscal da associação de naturismo da praia, responsável em não deixar entrar nenhuma pessoa vestida e, principalmente, homens desacompanhados (de mulheres). É a regra. Mesmo pelado, eu não poderia entrar. O fiscal explicou-me que o lugar é super família e homens desacompanhados estariam mais suscetíveis à tentação de cobiçar a mulher do próximo. Jura? Ok. Vesti o shorts, agradeci ao sujeito e fui embora, mas não sem antes dar uma espiadinha curiosa lá do alto da duna.

Alguns anos mais tarde, visitei João Pessoa para fazer uma reportagem. Eu já tinha ouvido falar maravilhas sobre a beleza da Praia da Tambaba, que é considerada uma das mais lindas do Nordeste, e que também tem seu trecho mais bonito reservado ao naturismo. Quando cheguei na cidade, aluguei um carro e fui até Tambaba, que fica só a meia hora de João Pessoa. Novamente fui barrado. O fiscal da Sonata, ou Sociedade Naturista de Tambaba, que fica num quiosque no começo da trilha que dá acesso à praia, me proibiu de entrar pelo mesmo motivo de antes: eu estava sozinho. Dessa vez, porém, eu não desistiria tão facilmente. Voltei a João Pessoa imediatamente, liguei para uma agência de modelos e contratei uma moça para fazer fotos na praia com intuito duplo: garantir a entrada na praia e ilustrar a reportagem que eu estava fazendo. É claro que ela achou estranho, mas entendeu e topou. E lá fomos nós.

Na entrada da trilha, o fiscal, dessa vez, não criou impedimento. Finalmente chegara a hora, de arrancar a roupa, atravessar a trilhazinha, e tchan-tchan-tchan-tchan, pisar pela primeira vez em uma praia de nudismo. Deu um certo friozinho na barriga, admito. Mas logo a vergonha passou. Ninguém deu a mínima, nem ficou olhando. Não cruzei com olhares curiosos ou envergonhados. Casais, a maioria de terceira idade, passeavam tranquilamente pela areia. Para passar o tempo, sentamos para uma cerveja no bar da praia, onde todo mundo, com exceção dos garçons que usavam tangas, estavam pelados. Em certo momento, depois de um copo e outro de cerveja, até esqueci que estava nu. No final de tarde, fiz as fotos da modelo caminhando na praia e entrando no mar. Algumas foram publicadas na revista e, tempos depois, em um livro de fotografia sobre praias brasileiras. Descobri também que Tambaba tem uma pousadinha, igualmente, é claro, naturista. É simples e sem luxo, como seria de se esperar de um lugar que é feito para quem não liga nem para roupas. No fim do dia, fui embora com a certeza de que essa tal “nudez social” é experiência interessante e pode ser até divertido. A única dúvida que tive foi saber onde levar o celular. Mas preferi nem perguntar.

Por Tales Azzi

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