Roubadas em viagens de carro

Adoro viajar de carro. Pra mim nada é melhor do que pegar um carro e fazer um belo roteiro rodoviário, parando em várias cidades, com um mapa nas mãos e muita liberdade na cabeça. Quem já fez viagens assim com os amigos ou a família sabe o quanto é gostoso. Fortalece as amizades. O problema em viagens de carro, porém, são os percalços do caminho. Geralmente, percalços que envolvem o próprio veículo. É preciso atenção máxima na estrada, mas nem isso impede que certos perrengues tolos aconteçam. Eu enfrentei vários deles.

Certa vez, o combustível acabou no meio do caminho entre as cidades de Bonito e Miranda, no Mato Grosso do Sul. Eu tinha esquecido que o mostrador de combustível estava quebrado. O sujeito da locadora, de Campo Grande, tinha me avisado. Não havia posto de gasolina naquela estrada de terra e já havia escurecido. Já estava crente que passaria a noite no carro quando passou um caminhão e parou. O motorista gente boa, metido a MacGayver, puxou um canivete, cortou um pedaço de arame da cerca ao lado da estrada e o usou para rebocar meu carro por quase 100 km até o posto de combustível mais próximo.

Também contei com a boa vontade alheia em Montevidéu, no Uruguai. A burrada da vez: tranquei o carro com a chave dentro. E em plena madrugada gelada, na Plaza Constitución, centrão da cidade. As portas trancadas e a chave lá dentro, brilhando no contato. O porteiro do prédio em frente viu minha indignação chutando o pneu e solidarizou-se. Consultou a lista telefônica e ligou para um chaveiro vir destravar a porta. O porteiro do outro prédio e o guarda noturno juntaram-se à nós e ali ficamos, no meio da rua fria e deserta, conversando sobre futebol por quase duas horas até o chaveiro chegar.

Tive “sorte” também quando viajava entre Jijoca de Jericoacoara e Camocim, no extremo oeste do litoral do Ceará. Eu vi no mapa que uma certa estradinha de terra seria um excelente atalho, pouparia uma volta pelo asfalto de quase 150 km. Alguns moradores da beira da estrada garantiram que daria para eu passar, mesmo com aquele Celtinha alugado em Fortaleza. Fui e atolei na areia fofa. Horas depois, dois sujeitos que passaram em uma moto me ajudaram a empurrar o carro de volta. Fui obrigado a retornar e ir pelo caminho mais longo – e seguro.

Ao dirigir pela Rodovia Rio-Santos, próximo a Ubatuba, fui surpreendido por uma baita tempestade de verão. Tentei subir o vidro mas não consegui pois a maçaneta da janela tinha quebrado, e só então eu tinha percebido. O pé d´água começou e a água encharcou o carro por dentro. De quebra, me deixou ensopado dos pés a cabeça. Só no dia seguinte levei o carro na oficina mecânica.

Em Trancoso, tive um pneu furado quando seguia pela péssima estrada de terra que leva à Praia do Espelho, uma das mais lindas praias da Bahia. Rapidamente, troquei o pneu e segui em frente. Eu não quis retornar para o centro de Trancoso, pra ir no borracheiro. Ia perder muito tempo, e eu preferia curtir esse tempo na praia. Minutos depois, outro pneu furou e, agora sem estepe, tive de voltar caminhando por quase 10 km até Trancoso pra chamar um guincho. Perdi o passeio todo.

Por Tales Azzi

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