Minhas viagens e meus arranhões

Pequenos acidentes são corriqueiros em viagens. Perder-se em trilhas, atolar o carro na areia, cair do esqui… A lista de imprevistos desagradáveis que podem acontecer quando se está longe de casa não tem fim. Mas são justamente esses percalços que se transformam nas histórias de viagem mais engraçadas, as primeiras que contamos aos amigos depois. Por sorte nada grave aconteceu comigo em minhas andanças pelo Brasil nos últimos oito anos, o que não significa que tenha escapado ileso em muitas delas.

Em minha primeira vez no sertão nordestino, no interior de Alagoas, fui apresentado a um Mandacaru da pior forma: pisando num espinho de quase 10 cm de comprimento que estava caído a metros de distância da planta. O espinho varou a sola da minha sandália e cravou do meu pé. Desde esse dia, aprendi a manter distância respeitável de qualquer mandacaru que vejo.

Outra experiência com espinhos aconteceu na Praia do Forte, no litoral baiano. Eu estava fotografando as piscinas naturais da praia, em pé, sobre os arrecifes de corais, quando um desequilíbrio me fez tombar e apoiar a mão no chão para não cair bem em cima de um ouriço. Meia dúzia de espinhos ficaram na ponta do meu dedo indicador. Como dizem os baianos, “pense em uma dor”.

Em Itacaré, ao caminhar por uma trilha para chegar em uma praia, pisei bem ao lado de um cacho de marimbondos que estava caído no chão. Vi os bichos voarem pra cima de mim e saí correndo feito um louco, sentindo as ferroadas atingindo meu pé. Joguei a mochila longe e fui na direção do mar para me esconder dentro da água.

Em um hotel-fazenda no norte do Tocantins, região de Floesta Amazônica, resolvi nadar no rio para me refrescar do calorão até que ouvi os gritos que vinham da margem: “saí da água, saí da água”. Parecia até cena do filme Tubarão. Nadei para a margem mais rápido que o César Cielo, sem nem perguntar o porquê. Era um jacaré-açú de uns 4 metros de comprimento que vinha chegando para ver que arruaça era aquela no pedaço dele.

Mas de todos os animais nenhum foi mais terrível do que os micuins. O micuin é uma espécie de carrapto, só que minúsculo, quase invisível, cuja mordida que provoca uma coceira difícil de descrever. Pois eu fui atacado por micuins durante uma viagem pela Serra da Bocaina, em São Paulo. Era tanta coceira que eu mal conseguia dormir. A impressão é que eu tinha pego sarampo de tantas picadas nas pernas. Isso sem contar ataques de cachorros, carro trancado com a chave dentro, tempestades elétricas, tombo de esqui… Foram todos bem tensos quando aconteceram, mas serviram para temperar meu diário de bordo. Quando estou em casa, na segurança da minha poltrona, às vezes me coloco saudoso desses momentos de risco.

Por Tales Azzi

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